Eu vejo a situação seguinte acontecendo o tempo todo no poker. Um jogador de certo modo tight (vamos chamá-lo de Sr. A) aposta forte com uma mão fraca quando sabe que seu oponente tem uma mão medíocre. O Sr. A acredita que essa imagem tight lhe garantirá certo respeito, especialmente quando seu oponente possui uma mão muito marginal. Para surpresa do Sr. A, seu oponente paga. Bem, se o Sr. A estivesse prestando atenção, teria percebido que seu oponente pagou apostas a noite toda com mãos marginais. Na verdade, seu oponente tinha dificuldade em largar qualquer mão medíocre. O erro que o Sr. A cometeu foi, na realidade, bastante comum — um que todos nós cometemos à nossa maneira, mesmo que de modo não tão óbvio.
O Sr. A projetou sua própria referência sobre seu oponente. O Sr. A corretamente se colocou na posição de seu oponente. Ele se colocou na cadeira de seu oponente e imaginou como seria enfrentar a decisão que seu oponente enfrentaria. O erro que o Sr. A cometeu foi responder ele mesmo à pergunta, em vez de respondê-la conforme seu oponente a teria respondido. Para compreender seu oponente, o Sr. A precisa não apenas se colocar na cadeira do oponente, mas também jogar com as fichas dele do mesmo modo como ele jogaria.
É muito difícil sair de nossa própria projeção de referência. Nós presumimos que temos uma maneira lógica de pensar e uma boa quantidade de bom senso. Quando imaginamos como os outros reagiriam diante de determinada situação, pensamos que podemos facilmente nos colocar no lugar de nossos oponentes. Contudo, ao pensarmos sobre como nosso oponente reagiria naquela situação, a maioria de nós projeta nossos próprios raciocínios e emoções em nosso oponente. Esse é um grande erro. O que devemos fazer é tentar descobrir como nosso oponente pensa. Devemos imaginar o que ele faria naquela situação, de maneira totalmente independente de como nós mesmos agiríamos.
Pare um instante para pensar a respeito de todas as coisas malucas que as pessoas que você conhece já fizeram. Agora reflita sobre as coisas que seus amigos fizeram que podem não ser tão malucas, mas não seriam feitas assim por você. Agora pense em alguém que você considera bastante similar a você. Imagine alguém que possua as mesmas crenças e valores. Agora reflita sobre as diferenças entre você e essa pessoa. Pense em seus pontos de vista opostos. Pense em suas diferentes opiniões e gostos. O objetivo desse exercício é demonstrar o quão diferentes todos nós somos. Portanto, para realmente compreender alguém, é necessário muito mais do que se colocar no lugar da outra pessoa. Você também deve pensar como ele pensaria, e não como você pensaria.
Quando você faz isso na mesa de poker, o jogo inteiro se abre. Você consegue prever a provável próxima jogada de seu adversário e reconhecer as vulnerabilidades dele. Você saberá quando atacar e quando recuar. Conhecer a si mesmo e manter o autocontrole é apenas metade da batalha. A habilidade de compreender seu oponente lhe permite dominar o jogo. Apostar, blefar, aumentar e desistir se tornam muito mais fáceis quando você entende os motivos, desejos e medos de seu adversário. ♠
David Apostolico é autor de Poker de Torneios e a Arte da Guerra, Estratégia Maquiavélica de Poker e Poker Strategies for a Winning Edge in Business. Você pode contatá-lo em thepokerwriter@aol.com.