EDIÇÃO 14 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Baralhões na série mundial

Algumas mãos interessantes em Vegas


Thiago Decano

Na minha última coluna, algumas edições atrás, falei sobre minha jornada na Espanha. Nesta, vou contar como foi em Las Vegas, o paraíso dos jogadores de poker. Marco Aurélio “Salsicha” e eu nos juntamos ao resto da brasucada atrás do tão sonhado bracelete e, conforme o tempo foi passando, maior era o número de brasileiros e, conseqüentemente, a nossa festa na cidade. Planejei jogar de cinco a seis eventos menores da WSOP e o Main Event. Com o resultado no WPT de Barcelona, fiquei mais tranqüilo para jogar torneios mais deepstack, já que na World Series o stack inicial corresponde ao dobro do buy-in.

Logo nos primeiros eventos disputados, uma surpresa: o nível estava bem abaixo do que eu esperava. Logicamente, os melhores do mundo estavam lá, mas encontrei muitos jogadores de satélite, amadores, e amantes do esporte, que não se dedicavam muito ao estudo avançado do jogo.

Para ilustrar, vou citar algumas mãos que ocorreram por lá, na Série Mundial, no evento #46 e no Main Event.

Evento #46 (No-Limit Hold’em 6-Max)
Blinds $50/100, subo 3x do cut-off com JJ e um jogador jovem, ostentando um bracelete e que adorava fazer moves, faz tudo $1000. Eu volto all-in das suas $5200 fichas restantes e ele sem pensar muito paga com seu T9o. Todos na mesa olharam perplexos e ele fala: “Ops, pensei que você tinha AK”. Um T no flop e outro no turn me fatiaram e fiquei com $5500.

Os blinds sobem para $100/200 e um jogador em early position aumenta para $625. O jogador seguinte paga, e esse mesmo cara do bracelete paga também, do cut-off. Eu vejo AQs e vou all-in de $6000 fichas. Tenho uma mão muito forte para uma mesa six-handed, e bastante take it down. Os dois primeiros jogadores largam e, novamente, para minha surpresa (e de todos na mesa) o mesmo jogador do T9o dá call com T7s.

No turn ele faz seqüência e me elimina. That’s poker.

Main Event
Minha jornada no Main Event não passou do primeiro dia. Comecei muito bem, jogando bastante loose, com posição e boa leitura da mesa. Agora, uma mão interessante, que mostra como agressividade e posição são fundamentais no nosso esporte: os blinds estão $50/100 e um jogador com bom nível faz tudo $300 em middle position. Eu aumento para $1050 sendo o próximo a falar com AKo. Todos largam e o vilão paga. O flop vem 8-6-2 rainbow e, para minha surpresa, ele sai apostando $1.500. Dou reraise para $4200. Ele pensa bastante e paga. O turn vem um 3 e ele dá mesa. Aposto $6500, ele larga JJ aberto e pergunta o quão grande era meu par. Eu disse: “nice fold”, e deixei que ele abrisse uma carta. Ele vê o rei e diz “nice hand, Sir”.

Mal sabia que, momentos mais tarde, esse jogador seria meu algoz. Voltamos do break e os blinds estavam em $100/200. O UTG aposta $500, o vilão paga, assim como eu, no cut off com 22, e também o big blind. O flop é J32. Para minha surpresa, o big blind sai atirando $1700, o UTG larga e o vilão faz tudo $4300. Eu apenas pago, pois, tirando o flush draw, o flop tinha sido excelente e eu ainda tinha posição. O big blind dá fold e o turn traz um 3, carta excelente para mim. O vilão dá mesa, eu aposto $5500 e, surpreendentemente, ele faz tudo $12500. Agora complicou. O que ele tem? O flush draw que eu ainda considerava? Descartei a possibilidade, pois não achei que ele colocaria seu torneio em um river salvador. JJ eu também descartei, pois ele apenas pagou pré-flop e este não era seu perfil – até porque eu o considerava um bom jogador. Então considerei uma quadra de 3, A3 e até um AJ com ele me colocando num semi-blefe com flush draw. Eu apenas pago. O river traz um 4 e ele dá mesa. Estranhei mais ainda, pois se ele tivesse quadra de 3 ou um JJ mal jogado pré-flop, jamais daria mesa no river. Imaginei isso por um motivo bem simples: o meu call no turn me deu muita força. Sendo assim, caso ele estivesse com um monstro, apostaria tranquilamente, já que, se eu havia colocado 2/3 do meu stack num pote com blind $100/200, é porque eu segurava uma mão que me permitia fazer isso.  Havia $37000 no pote e me restaram $12000. Achei que minha aposta tinha valor após seu check no river. Se ele tivesse A3 ou AJ poderia me pagar achando que eu estava num flush draw que não tinha batido e, sendo assim, fui all-in. Quando ele começou a pensar muito, contar o pote e suas fichas já fiquei bem feliz, pois acreditei realmente estar na frente. Ele paga, eu apresento meu full house e ele abre surpreendentes 23s. Ele pede desculpas; e eu, ainda meio confuso, cumprimento meu oponente e pergunto-lhe o motivo dele não ter apostado no river. Ele diz que já achava que o pote estava bom e não queria se arriscar. Até achei que ele jogou bem a mão, apesar do call pré-flop após o raise de UTG. Agora, o check no river considerei péssimo, já que eu jamais pediria mesa atrás, com uma mão melhor que a dele – no caso JJ ou quadra. Ainda tenho dúvidas sobre meu all-in no river, mas acho ter sido a melhor jogada. Não pelo stack, levando em conta que com $12000 fichas, com blinds $100/200, daria pra jogar tranquilamente, mas sim porquê de fato achei que seria pago por uma mão pior que a minha. Enfim, GG!

Sofri bastante com a bad run e as bad beats em Vegas, e o mais engraçado disso tudo é que acredito ter jogado o melhor do meu poker. Ainda consegui “salvar” a viagem no final, com o WPT-World Poker Tour (Bellagio CUP IV), mas este é um assunto para a próxima edição.

Aproveito para dizer que meu site www.thedecano.com está novamente no ar e espero que gostem! Até mais, galera!




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