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Desembarcando Na Cidade do Pecado



11/04/2012
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“Marcelo, os preços estão incríveis. A oportunidade é agora”, do outro lado da linha, eu podia sentir o entusiasmo na voz que acabara de me ligar. Um dos irmãos que a vida me deu, Rafael Giordani. E “a oportunidade”, em questão, era uma viagem para Las Vegas, a Disneylândia dos adultos.

O ano era 2009, e há dois anos o poker tinha participação significativa em nossas vidas. Em todos os finais de semana, se não fossemos vistos nos home games de nossa cidade Sete Lagoas, bastava ir à Belo Horizonte, onde mensalmente ocorria o Campeonato Mineiro de Poker e outros torneios menores, para nos encontrar. Ainda assim, como todos os aficionados por poker, nosso sonho estava a alguns milhares de quilômetros ao norte da capital mineira.

Da nossa turma, seríamos os pioneiros em Vegas. Tudo acertado, e em janeiro embarcamos para o que viria a ser os melhores 15 dias de nossas vidas.

Para mim, o voo foi um tormento. Enquanto Rafael apagou na cadeira ao lado, nem um remédio do mundo conseguiu me fazer “dormir” por mais de trinta minutos. Depois daquele inferno a não sei a quantos mil pés de altura e o frio na barriga ao passar pela alfândega, a recompensa.

O aeroporto da cidade já era diferente de tudo que eu já vira. Estaria mesmo em Vegas? Hispânicos, latinos, asiáticos e africanos. Negros, brancos, amarelos, ruivos e loiros. A multietnicidade era impressionante. Os gigantes outdoors, ainda dentro do aeroporto, estampando mulheres e homens seminus de uma lado, David Cooperfield e o grupo Blue Man em outro, e outros tantos espetáculos que eu ainda conhecia, diziam que sim, eu estava na Cidade do Pecado – ah, claro, o barulho inconfundível de centenas de caça-níqueis funcionando a todo vapor, também.


Na limusine, a caminho do hotel

Nosso entusiasmo só aumentou quando vimos a plaquinha com nossos nomes nas mãos de um simpático senhor vestido a caráter. Um chofer. Sim, fomos de limusine para o nosso hotel. E, sim, parecíamos duas crianças com seus brinquedos novos. Com o pé na estrada, o fato de estarmos em uma limusine não pareceu assim tão importante. Faltaram-me adjetivos para descrever o que eu via através dos vidros do carro. Um famoso narrador esportivo certamente diria “é oásis do terceiro milênio, amigo”. Edifícios gigantescos se erguiam no meio do deserto; mais altos e mais belos o vizinho ao lado, pareciam competir por algo além da compreensão. Nada, na internet ou na TV, poderia ter me preparado para aquilo. A pirâmide negra do Luxor, a torre reluzente dourada de Donald Trump, o imponente Caesar e, claro, o Bellagio, com sua magia inexplicável. Tive o prazer de visitar cada um deles, mas isso fica para outra história.

Nosso primeiro contato com um cassino foi em nosso hotel. Localizado em um excelente ponto da strip, a mais famosa avenida da cidade, ficamos de queixo caído ao adentrarmos o “Palácio Chinês”, o Imperial Palace Casino. Era inacreditável que a diária estava saindo por menos de R$ 60. Em um primeiro momento, J.R.R. Tolkien certamente gastaria algumas dezenas de páginas para descrever o que estava diante dos nossos olhos. Não podendo me dar a esse luxo, então só digo que era incrível, e, como tudo até aquele momento, diferente de qualquer coisa que eu já vira.

Voamos para o quarto com nossas malas, sem perder um detalhe sequer do que nos rodeava. Descemos na mesma velocidade que subimos. Agora, para Poker Room do próprio hotel, na verdade, um cercadinho com oito mesas. Pegamos US$ 200 cada e sentamos em uma mesa com os pingos de 1-2 dólares. A mesa estava meio parada, e depois de dois turistas quebrarem, éramos seis jogando. Desapontados, pegamos nosso irrelevante lucro e saímos, não sem antes guardar uma ficha cinza com escritos dourado, de um dólar, como recordação.


Rafael Giordani (dir.) e eu (esquerda). Lucro de quase US$ 1.000 no primeiro dia

Fora do Imperial, clima muito agradável. Era janeiro, e a temperatura não ultrapassava os 10°C. Caminhar não seria problema, já que não teríamos sobre nossas cabeças o calor escaldante de outras épocas.

Entramos primeiro no Harrahs, imediatamente do lado do nosso hotel. Ficamos uns cinco minutos, atravessamos a avenida e fomos para o Mirage. Outros cincos minutos, e já estávamos com os pés na strip novamente. Nosso próximo destino foi o Venetian – e, naquele dia, também o último.

O hotel, baseado na cidade de Veneza, nos fez esquecer tudo que tínhamos visto até aquele momento. Lá dentro, o cassino perdia-se de vista com suas incontáveis máquinas, mesas de craps, roletas e, claro, uma Poker Room que fez a do Imperial parecer a sala de home games da minha cidade. Ali ficaríamos pelas próximas seis horas – e, nos próximos 14 dias, entre idas e vindas ao Bellagio, MGM, Caesars e cia, ela seria nossa segunda casa.

“Vegas, baby!”, pensei enquanto tirava duas notas de cem dólares do bolso e recebia duas pilhas de fichas vermelhas do crupiê.


Marcelo Souza

O editor da revista Card Player Brasil se considera um sujeito humilde e trabalhador, mas há controvérsias. Acredita ser um gênio dos fantasy games.


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