EDIÇÃO 97 » MISCELÂNEA

Jogos Mentais: É tudo uma questão de stack

Com Brian Hastings, Chris Moorman e Chris Wallace


Craig Tapscott
Diferentes pontos de vistas, uma mesma situação. A complexidade do poker impressa em algumas páginas. Nesta edição, as nuances de um fator fundamental para a dinâmica de qualquer mão: os stacks.
 
Quando temos um stack grande, o que devemos observar em relação aos outros stacks da mesa antes de abrir um pote?
 
Chris Moorman: Em uma mesa final, por exemplo, uma coisa importante a se considerar é onde os outros stacks grandes estão posicionados. Por exemplo, se há apenas um outro jogador com muitas fichas e ele está no small blind (SB), então você deve abrir raise com muito mais mãos do que se ele estivesse no ou em posição contra você. Os stacks menores, geralmente, ficarão relutantes em contestar seus raises. Se eles estiverem cientes do ICM (Independent Chip Model), eles serão obrigados a jogarem com um range mais tight de mãos.
 
Também é preciso ficar atento a quem possui stacks de re-steal (entre 12 e 22 big blinds). Se você está no cutoff e os blinds e o button têm stacks de re-steal, então as mãos que você pode abrir raise lucrativamente, com algumas exceções, estão bem limitadas. No entanto, se você é UTG e esses três mesmo stacks estão logo à sua esquerda, você fica muito mais protegido, já que eles têm que se preocupar com o resto da mesa e com o seu range, que, na teoria, é mais forte das posições iniciais.
 
Outro ponto importante: quem é o big blind (BB)? Se ele defende com frequência e não gosta de largar pó-flop, você deve abrir com um range mais tight. Mas isso não quer dizer que você não aumentará com suited connectors. Esse tipo de mão joga melhor pós-flop do que alguns Ases fracos, por exemplo.
 
Chris Wallace: Primeiro é preciso analisar os outros stacks e saber pensar à frente. Acelerar e frear nos momentos certos. Você não pode perder grandes potes com mãos fracas. Às vezes, você se encontra em uma situação difícil simplesmente porque abriu raise com uma mão que não deveria. Vamos a um exemplo:
 
Você está “passeando” contra seus adversários e recebe 75 no meio da mesa. Você abre raise, e o BB faz uma pequena 3-bet. Você dá call. O flop lhe dá o top pair. O BB faz uma nova aposta, e você paga. O turn é Valete, e ele vai all-in com seus últimos 8 big blinds. Bem, você está comprometido com o pote e dá call para ver ele apresentar um overpair ou A-J. Você acaba de comprometer 20 big blinds ou mais com 7-5.
 
Pensar à frente também envolve saber quem irá empurrar all-in pré-flop diante dos seus aumentos. Se há muitos jogadores com stacks entre 12 e 22 big blinds, abrir raise com mãos marginais pode significar um certo desperdício de fichas e o crescimento dos outros jogadores.
 
Veja bem, se o BB tem 14 big blinds e é alguém agressivo que entende o conceito de re-steal e de fold equity, então abrir raise com A-10 pode ser muito lucrativo, já que estaremos bem à frente do seu range de re-steal. Mas o se o BB é um jogador fraco que apenas dá call para ver flops, então as mãos especulativas, como suited connectors e Ases fracos, também poderão ser jogadas lucrativamente.
 
Brian Hastings: A coisa mais importante é estar atento aos stacks que podem lhe eliminar. A menos que os stacks maiores que o seu não estejam explorando o resto da mesa, você deve jogar mais tight. Não é aconselhável se envolver com eles. Nessa situação, arriscar uma parte considerável do seu stack ou todo ele, em uma só mão, não é ruim, a não ser que você tenha uma larga equidade. De outra a forma, as fichas que você ganha valem muito menos do que as que você perde ou pode perder.
 
Outro ponto é fica atento aos stacks menores que podem ir para o re-steal. Isso tira totalmente a nossa vantagem de termos um stack saudável. A exceção é no período da bolha, quando os shorts ficam realmente tights e só irão all-in com mãos fortes. Com shorts por falar, eu evitarei de abrir pares pequenos e suited connectors, já que esses tipos de mãos não bloqueiam possíveis combos de re-steal. É melhor abrir raise com KJ e A8, por exemplo, a abrir com 109 ou 4-4. Contra stacks médios, o oposto é verdadeiro. Eu não posso defender um KJ ou um A8 contra uma 3-bet (aplicar um 4-bet é uma opção; dar call, não), mas com 109 ou 4-4, posso pagar e seguir em frente em flops favoráveis.
 
Você está em uma mesa final, mas com poucas fichas. Há um outro jogador menor do que você. Qual é o seu plano, além de esperar uma mão monstro?
 
Chris Moorman: Bem, estarei prestando bastante atenção com que frequência as pessoas estão abrindo raise quando a ação roda em fold, então poderei explorar, indo all-in com mãos mais fracas, quem está aumentando com um range bem amplo de mãos. Nos dias de hoje, você tem equidade de fold com 10 big blinds, já que as pessoas ficam relutantes em dobrar jogadores que estão a suas esquerdas.
 
No entanto, para o re-steal ser bom é preciso que acha o menor número de pessoas possível à sua esquerda. Isso diminuirá as chances de você bater frente com uma mão forte. O re-steal é extremamente lucrativo quando usando corretamente e acrescentará uma quantidade de fichas considerável ao seu stack.
 
Mas lembrem-se: é importante escolher mãos que tenham equidade decente, para o caso de lhe pagarem. Bons exemplos de mãos para esse tipo de jogada são os Ases naipados, os suited connectors e as Broadways. 
 
Atualmente, com poucas fichas, está bem mais complicado roubar os blinds do que há alguns anos. Isso porque as pessoas estão defendendo os blinds com uma frequência bem grande. Então, com poucas fichas, pode ser complicado empurrar um oponente para fora da mão no pós-flop.
 
 
Chris Wallace: O erro mais comum que vejo é jogar fora seu stack de uma maneira inapropriada. Você deve esperar por uma boa situação e agarrá-la. Você não deve perdê-la.
 
“Espere uma boa oportunidade. Não entre em pânico”. Muitas pessoas interpretam mal essa frase e acabam perdendo boas oportunidades de roubar os blinds. Aprenda como jogar em push/fold. Você precisa acumular fichas para sobreviver, caso contrário, quando conseguir dobrar, ainda estará short.
“Você precisa conseguir algumas fichas ou então sucumbirá pelos blinds em poucas órbitas”. Novamente, cuidado com a interpretação. No entanto, se você colocar suas fichas no meio da mesa na hora errada, além de ser eliminado, você poderá perder muito valor devido ao ICM.
 
O que eu digo é: considere cada situação, cada mão e, aí sim, coloque suas fichas no melhor momento. Você deve analisar fatores como o tamanho do pote, o range dos adversários, como a dobrada irá lhe favorecer etc.
 
Mesas finais são os lugares em que você mais fará dinheiro no poker. Então, é extremamente importante não errar.
 
Brian Hastings: Meu plano básico é esperar por uma mão grande. Mas se tenho que ir para o re-steal e achar uma boa oportunidade (A10 versus um raise do button que tem 18 big blinds), não ficarei com receio.
 
Algumas vezes, também gosto de dar flat calls e entrar de limp. Tenho entrado de limp do UTG e do UTG+1 quando estou short. E, atualmente, levando em consideração o tamanho dos raises, muitas vezes, terei odds mais do que suficiente para defender o BB, mesmo short.
 
Basicamente, irei jogar tight e tentar não me colocar em risco antes do outro short cair. Os saltos de premiação na mesa final são altos, portanto, colocar-se em perigo nas situações erradas, lhe custará muito dinheiro no longo prazo.
 
 
SOBRE OS JOGADORES
 
Chris Moorman
Um dos maiores nomes do poker moderno, Moorman venceu o WPT LA Classic 2014 e é também o jogador que mais acumula premiações no poker online, cerca de US$ 12 milhões. Ao vivo, ele já ganhou mais de US$ 4 milhões. Ele também é autor de um dos livros mais populares da atualidade: “Moorman’s Book of Poker”, ainda sem tradução no Brasil.
 
Chris Wallace
Dono de um bracelete da WSOP, ele é embaixador do Blue Shark Optics, marca de óculos para jogadores de poker, e representante da truBrain, suplemento que promete lhe dar acesso ao melhor da sua capacidade mental. Ele é dono do blog foxpoker.com e faz vídeos de treinamento para o site de Phil Ivey, o IveyLeague.com.
 
Brian Hastings
Envolvido recentemente em um escândalo de usar múltiplas contas no PokerStars, Hastings vive de poker desde os 16 anos. Ficou mundialmente conhecido depois de ganhar, em apenas um dia, US$ 4,18 milhões de “Isildur1” no Full Tilt Poker. A façanha aconteceu em 2009 e é um recorde do poker online.



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