EDIÇÃO 78 » COLUNA NACIONAL

Pergunte ao Diretor


Devanir "DC" Campos
O mais renomado Diretor de Torneios do Brasil tira todas as dúvidas dos leitores da Card Player Brasil. Para ter sua pergunta respondida, envie um e-mail para contato@cardplayerbrasil.com ou mande uma mensagem em nosso facebook.
 
André Hunger (Victor Graeff, RS)
 
Primeiro, gostaria de parabenizá-lo pela excelente seção. Agora, segue a minha dúvida:
 
Estávamos jogando pot-limit Omaha em um clube de poker em Victor Graeff, Rio Grande do Sul, quando aconteceu uma coisa peculiar. Vários jogadores entraram na mão e o flop foi virado. O Jogador A, um dos primeiros a falar, faz uma aposta, a jogada chega ao Jogador D, que observa o valor do pote e anuncia all-in. A ação volta ao Jogador A, que fala: “Vou pagar. Não tenho nada, mas estou para a sequência". Até aí, tudo bem. Showdown, Jogador A mostra suas cartas, com um draw para sequência. O Jogador D mostra dois pares. O dealer virá o turn, e o jogador A fala: “Se bater a carta X no river, eu ganho”, e fica torcendo. O river é exatamente a carta que ele pedia. O Jogador A se levanta, vibra muito, sai falando que ganhou etc. O dealer recolhe as cartas e entrega as fichas ao jogador A. Na mão seguinte, o Jogador D percebe que o Jogador A está cochichando com um jogador ao seu lado, que olha imediatamente para o Jogador D, que pergunta do que se trata. O Jogador A, já rindo, fala: “Eu tinha perdido. Ninguém percebeu, mas você tinha sequência maior". O Jogador D olha para o dealer, que diz não ter visto. Ou seja, nem o Jogador D nem os demais jogadores da mesa perceberam. Relembrando as cartas, todos confirmaram a sequência maior do Jogador D. O Jogador A fala coisas do tipo, “fica esperto”, “presta atenção”, “tem que ser malandro”, “quem não faria igual?” etc. Então, como fica está situação? O jogador A trapaceou. Qual a solução?
 
 
 
Olá, André.
 
A situação da sua dúvida, com certeza, acontece bastante em clubes do Brasil, e passa mais por um problema ético do que de regras em si.
 
Do ponto de vista das regras do poker, há vários pontos a serem observados.
 
O primeiro ponto é sobre até quando se pode reclamar quando um erro foi cometido. O que se convenciona no mundo é que o jogador perde o direito de contestar o resultado de uma mão quando a próxima é iniciada. Uma mão começa com o primeiro riffle (movimento de “trançar” as cartas) do baralho. Além disso, existe outra regra que diz: “No showdown, as cartas ‘falam’. Ou seja, o resultado de uma mão que chegou ao showdown deve ser determinado pelo valor das cartas e não pela fala de um ou mais jogadores”.
 
Realmente, da forma como você nos relatou, uma série de erros, de atenção, aconteceram, tanto por parte do Jogador A — o maior interessado no pote juntamente com o Jogador D — como por parte do dealer e dos demais jogadores da mesa. Uma vez que a mão seguinte já estava em andamento, não havia muito mais a ser feito no intuito de “consertar” o resultado da anterior. Porém, a direção da casa e do torneio tem o dever de proteger a todos os jogadores de tentativas como essa, no caso, levar o pote sem ter vencido a mão. O jogo de poker não deve ser um antro de malandragem, e uma conduta antiética e antidesportiva, como essa, não deve ser tolerada. Esse tipo de atitude deve ser desestimulada ao máximo, e o jogador que se utiliza desses costumes, para tentar levar potes “no grito”, deve ser convidado a não participar mais de futuros torneios que o clube realizar. Afinal, qual cliente quer participar de eventos em que os oponentes tentam a todo o momento “bater a sua carteira”?
 
As pessoas que acreditam que para jogar poker tem que “ser malandro” ou que “também fariam igual” devem ser expurgadas do nosso meio como se faz com um câncer. Espero que o seu clube tome alguma providência e evite a participação desse sujeito em jogos futuros.
 
 
 
 
Tiago Machado (Campinas, SP)
 
Como é composto o staff de um grande torneio como o do BSOP Millions? Quantos dealers, floors e diretores são necessários? Em caso de dúvida sobre uma regra, de quem é a palavra final e quando é necessário que mais de um diretor interfira para impor a decisão final? E a primeira decisão pode ser mudada?
 
Olá, Tiago.
 
Realmente, montar uma equipe de um evento tão grande como a do BSOP Millions é um enorme desafio. Precisamos de gente trabalhando nas mais diversas áreas, tanto aquelas diretamente ligadas ao poker quanto nas de suporte ao evento.
 
No Millions 2013 foram mais de 100 dealers e mais de 10 floors. Na parte de apoio ao evento, registro e produção, somamos quase 50 profissionais.
 
Com relação às decisões sobre regras nos torneios, a decisão final é sempre do diretor do torneio. No caso do BSOP, a decisão final acaba sendo minha, porém a necessidade de apelar de uma decisão é algo muito raro. Na maioria dos casos — que, geralmente, são simples — os floors possuem a experiência e o conhecimento para aplicar o regulamento e tomar todas as decisões necessárias. Em casos de maior complexidade ou de grande peculiaridade, nós, no BSOP, preferimos juntar dois ou três floors para discutirmos brevemente e decidir sobre a forma mais justa de encarar o problema. Isso diminui a chance de errar, pois a decisão acaba passando por pontos de vista ligeiramente diferentes.
 
O diretor de torneio pode até mudar as decisões do floor se, em um caso excepcional, uma situação que, absolutamente, fuja do usual ocorra e o diretor entenda que a decisão do floor não foi a melhor saída e que prejudicará o senso de justiça e o bom andamento do torneio.
 
Esses casos são muito raros, mas podem acontecer. Isso não quer dizer que toda decisão que um floor tome só vale se for referendada por uma instância maior. Porém, estamos falando de casos extremos, afinal, por mais experiência que um floor tenha, como seres humanos, estamos todos suscetíveis a erros.
 



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