EDIÇÃO 32 » COLUNA NACIONAL

US$ 1,356,947!

Com seu sombrio élan, “Isildur1” fez milhões, perdeu milhões, participou do maior pote do poker online, sumiu dos holofotes – e agora está de volta


Pedro Nogueira

O tamanho do pote é de assustar: US$ 1,356,947! Nunca na história do poker online alguém ganhara tanto dinheiro – ou perdera tanto – num único e definitivo lance.

Peço desculpas ao leitor por jogar-lhe na cara tamanha abundância numérica sem, ao menos, situar-lhe na jogada. Acontece que os números altos sempre me fascinaram. E, na minha ansiedade fanática, eu precisava compartilhar essa cifra apavorante tão logo fosse possível: US$ 1,356,947. Muito bem. Agora, corrigirei a falha narrativa.

Algumas semanas atrás, às 20h23 de um sábado comum, dois sujeitos com apetite milionário encontraram-se numa sala do Full Tilt Poker. Foi uma dessas fatalidades históricas em que só um poderia sair vivo. Sobraria, ao outro, um passeio de rabecão ou, no mínimo, de maca.

Numa ponta da mesa virtual, Patrik Antonius. Já escrevi sobre o fantástico finlandês nesta coluna. Em 2009, ninguém ganhou mais dinheiro na internet do que ele: US$ 8,9 milhões. Ao seu lado, o enigmático “Isildur1”. Seu nome real, ninguém sabe. Aliás, pouquíssimo se sabe sobre “Isildur1”. Apenas que é um jogador tão insano e tão agressivo quanto um psicopata de filme.

Antonius e “Isildur1” não jogavam o clássico Texas Hold’em – mas uma outra modalidade de poker ainda mais feroz: o Omaha. As regras são parecidas. Há, porém, uma diferença hedionda: no Hold’em, joga-se com duas cartas na mão. No Omaha, elas são quatro. Algum leitor mais distraído poderia perguntar: “E a diferença é grande?” Enorme, enorme! A agressividade, a violência que se vê numa mesa de Omaha é escandalosa. Só falta o jogador morder o pescoço do outro e tomar-lhe o sangue – como se fosse groselha.

Para dramatizar o embate, para dar-lhe ares homéricos, havia o magnífico pingo! Os blinds eram de US$ 500 / US$ 1,000.

Súbito, “Isildur1” recebe 6-7-8-9. Seu cacife é de US$ 678,473. Antonius vem com A-3-K-K. Sua frente é ainda maior: US$ 1,259,450. Antes mesmo de o flop virar, a aposta chega a impressionantes US$ 81,000! (Importante notar: no Omaha, você é obrigado a usar duas cartas da mão. Nem uma, nem três, nem quatro. Sempre duas. Já vi parceiro receber quatro ases no Omaha – ele se atirou no chão do cassino e começou a chorar.)

O flop veio dramático: 2-4-5. Seguida pequena para Antonius e possibilidade de seguida maior para “Isildur1”. Cartas coloridas, rainbow, sem perigo de flush. Como num faroeste de Sergio Leone, houve um tiroteio tremendo e obsceno. All-in. No pote, US$ 1,356,947.

O crupiê digital abre, no turn, um 5 de paus. E vem o inocente, o inofensivo, o inequívoco 9 de paus no river. A carta não ajuda “Isildur1”. Antonius puxa o dinheiro.

É interessante a trajetória de “Isildur1” no poker online. No segundo semestre de 2009, ele surgiu nas mesas de nosebleed stakes (os cacifes que sangram o nariz) para inflacioná-las freneticamente. Fez milhões de dólares em poucos dias; e perdeu milhões com igual rapidez. Dos 19 maiores potes já disputados na internet, “Isildur1” participou de 19 deles. Ganhou oito e perdeu 11. Todos jogados num intervalo de 28 dias.

Até que, na noite de oito de dezembro, ocorre a espetacular tragédia: numa única sessão, Brian Hastings fatiou-lhe em US$ 4,2 milhões. Como um César apunhalado, “Isildur1” caiu. Ficou semanas, meses caído. Desceu das mesas de US$ 500 / US$ 1,000 para as de US$ 5 / US$ 10.

Os inimigos, os críticos de “Isildur1” achavam que ele estava acabado. Ah, como erraram em suas previsões! Mal sabiam que, tal qual um carro alegórico, “Isildur1” apenas esperava o Carnaval para voltar aos holofotes. E que retorno épico, amigos! Enquanto a Beija-Flor agitava multidões no Rio do Janeiro, “Isildur1” recuperava a sua fortuna perdida. Fez mais de US$ 1,5 milhão durante o feriado.

A identidade de “Isildur1”, como comentei acima, ainda é um profundo e sombrio mistério. Ninguém sabe seu nome, sua religião, se gosta de blues ou de sertanejo. Mas isso não faz diferença. Seja quem for, “Isildur1” já nasceu uma lenda, um mito nato e hereditário.




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