EDIÇÃO 84 » COLUNA NACIONAL

Grinder de Alto Rendimento


Caio Pessagno
Fala, pessoal. É um prazer voltar a escrever para a Card Player. Desta vez, voltei para ficar. Neste artigo, vou falar um pouco sobre alguns fatores que me levaram ao patamar que estou hoje: o de um grinder de alto rendimento.
 
O ano de 2013 foi o melhor da minha carreira: campeão do Main Event da Mini-FTOPS e do Evento #33 da FTOPS, vice no Sunday 500 e Super Tuesday e por aí vai. Em quase 19.000 jogos, fiz 1.150 mesas finais, cravei quase 200 torneios e tive o maior lucro anual da minha vida como profissional de poker. Mas tenho certeza que não atingi minha melhor lucratividade por acaso. Em 2013, finalmente passei a me sentir um grinder de alto rendimento. Que, para mim, é o mesmo que um atleta profissional.  
 
Um esportista de alta performance tem que se preocupar com outras coisas além de treinar e competir. Caras como Rafael Nadal, Usain Bolt e Neymar certamente se cercam da melhor estrutura possível, que permite que fiquem 100% focados quando estão treinando ou competindo, Para, assim, se tornarem os melhores no que fazem. 
 
Meu raciocínio é simples: se quero ser um dos melhores no meu esporte, preciso planejar minha rotina profissional e otimizar meu tempo. Penso assim desde o início da minha carreira, em 2006, mas só fiquei satisfeito em 2013.
 
Desde p ano passado, posso dizer que montei o esquema perfeito para o meu grind. Note que é fundamental ter outras pessoas cuidando de alguns assuntos específicos. 
 
MANHÃ
 
Acordo por volta das 11 horas — sempre pelo menos sete horas de sono — e a Zilda, moça que trabalha aqui em casa, já deixa o café da manhã na mesa.  Sem a ela, a vida seria muito mais difícil (risos).
 
TARDE – 1º PERÍODO: ATIVIDADE FÍSICA
 
Por volta das 13h, meu treinador está em casa para um treino de Muay Thai, musculação ou condicionamento. O esporte me ajuda a aliviar o estresse e a ganhar resistência. Mas também não adianta se matar no treino e depois não aguentar a reta. É preciso achar o seu equilíbrio. 
 
TARDE – 2º PERÍODO: ALIMENTAÇÃO
 
Termino o treino às 14:30 e, adivinhem, o almoço já está pronto. Santa Zilda (risos). Ter uma pessoa cuidando da cozinha é fundamental. Como fica tudo preparado, é bem mais fácil comer alguma coisa leve e saudável. Se eu deixasse para me preocupar com a comida apenas na hora da fome, com certeza iria acabar na junk food. E é fundamental balancear as refeições, para evitar a preguiça que o excesso de comida traz.
 
TARDE – 3º PERÍODO: TRABALHO
 
Às 15h, começo a reta me sentindo bem para jogar meu melhor poker. Para me manter sempre focado, a estrutura física que montei no QG é crucial. Sempre começo o grind no lugar principal, onde está a poltrona da “vorva” — apelido para a minha querida avó. Se no meio da reta eu quiser variar, tem um outro lugar, com uma cadeira comum de escritório e dois monitores. Mais tarde, quando já estou em menos telas, posso optar pelo sofá novamente, onde chego a jogar até deitado. Ali consigo me manter bem relaxado no final da reta, em um momento importante, quando o cansaço do dia pode bater justamente durante uma reta/mesa final. 
 
MAIS TRABALHO
 
Ainda não acabou. Nesse meio tempo, ainda tenho que achar uma brecha para escrever para CardPlayer e para o meu blog, gravar o videoblog e diário de um pro, fazer coaching, dar entrevistas etc. Nessa área, tenho meu próprio Dana White, meu primo Leonardo Brescia. Ele é meu amigo, meu sócio e meu agente. Ele me ajuda a administrar todo o trabalho fora das mesas. Sem o Leo, seria impossível estar trazendo este artigo para vocês.
 
Reparou como as pessoas que me cercam são fundamentais para atingir meu objetivo como atleta? Não dá pra cuidar de tudo sozinho. 
 
Minha preparação pode até parecer exagerada, mas tenho certeza que a do Neymar ou do Nadal é infinitamente maior. Não importa a dimensão, o que importa é que a estrutura que você montou seja suficiente para você atingir o máximo de produtividade. 
 
No final, pode até ter sido um dia de prejuízo — aliás, é o que mais de comum acontece na vida do grinder —, mas se eu mantiver minha rotina organizada, dentro dessa estrutura, sei que estou fazendo a coisa certa, 2013 e todos os outros anos confirmaram isso para mim. Coincidência? Não sei. O que sei é que vou continuar fazendo exatamente isso e buscando minha produtividade máxima sempre.
 
E você, ainda acha que jogar poker é só se sentar e se registrar nos torneios?



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