EDIÇÃO 79 » COLUNA NACIONAL

Representando a melhor mão em um pote multiway


Felipe Mojave
Nesse artigo, vou trazer uma mão interessante que aconteceu recentemente em um torneio ao vivo. Não vou comentar muito sobre detalhes de jogadores e valores das apostas, pois a ideia é mostrar um conceito e uma linha de pensamento diferente.
 
Com um stack bastante saudável, dei call com KT do BTN. Quatro jogadores viram o flop 2 3 J, que me deixou no flush draw. O big blind deu check, e o agressor inicial apostou o valor do pote, 800. No meio da mesa, um jogador pensou bastante antes de dar o call, e eu resolvi aplicar raise para 3.500.
 
O BB deu fold, assim como o agressor, mas o jogador em MP deu call. Minha intenção era encerrar a mão ali ou criar uma oportunidade para arrecadar mais fichas, já que os adversários trabalhavam com um range bastante amplo. Raramente eles desistiam pré-flop. No flop, a tendência era que continuassem com mãos marginais.
 
Com isso em mente, eu sabia que o meu oponente dificilmente estava com uma mão gigante, como trincas. Então restaram top pairs, draws para sequência e até draws para flush. Às vezes, é muito difícil jogar contra oponentes que não dão fold, mas o lado bom é que, normalmente, tenho noção exata de seus respectivos ranges.
 
O turn foi um 7. Meu oponente pediu mesa novamente e eu disparei uma aposta de 5.100. Por que não ver o river de graça? Porque o plano da jogada era fazer o meu oponente dar fold. Para minha surpresa, fui pago. Na minha cabeça, ele geralmente daria fold nesse turn. Isso inviabilizaria um terceiro tiro blefando no river, já que ele nunca daria fold se tivesse top pair.
 
Claro que aqui existiam algumas exceções. Por exemplo, se eu acertasse o flush. O pote continha exatamente o tamanho dos nossos stacks. Eu me via em uma situação complicada e com grandes chances de abortar a missão para manter meus 35 bbs.
 
Mas o river trouxe um A. Com certeza era uma das melhores cartas do baralho, já que um oponente com aquele perfil dificilmente teria A-J, pois já teria aumentado no flop ou no turn. Então, era a hora de pensar no valor da minha aposta no river, depois de vê-lo dar mesa rapidamente. Se ele tivesse 4-5, uma sequência, provavelmente, as chances de ele sair apostando no river eram grandes.
 
Bom, outra coisa que surgiu na minha mente era que o mesmo poderia ter AX, isso significava que se ele tivesse acertado o top pair no river, não haveria quantidade de fichas que fizesse com que ele desse o fold. Porém, essa era a única combinação em que eu seria pago.
 
Para minimizar as chances de tomar o call, mesmo do A, decidi colocar todos os 35 bbs na mesa. A minha linha representava valor, principalmente em um pote multiway. Dificilmente eu seria colocado em um blefe. Eram 100 bbs no stack dele, 35 no caso do fold ou o risco de sobrar com nenhum.
 
A jogada foi efetiva e o meu oponente deu fold aberto com JT, inclusive ele tinha pegado um flush draw no turn. 
 
Um fato importante que vocês devem observar é que alguns jogadores tendem a não dar fold quando o oponente aposta muito no river, pois pensam que: se eu quisesse o call, por que apostaria tanto? Obviamente, se eu acreditasse que ele pensasse dessa forma, com certeza, a minha aposta seria de metade do pote. Mas essa linha leva alguns jogadores a pensar que isso é um sinal de fraqueza, pois deixaria poucos big blinds para trás, o que significa um possível blefe, que em caso de insucesso, eu ainda teria algumas fichas pra tentar recuperar. Esse era o perfil do meu oponente.
 
Como eu disse antes, neste artigo, não me prendi muito em valores ou outros detalhes, pois essa mão traz muitas ideias e conceitos para análise, principalmente da forma como eu decidi jogá-la.



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