EDIÇÃO 61 » COLUNA NACIONAL

Las Vegas - Balanço e análise


Thiago Decano
O sonho de todo jogador de poker é ganhar um bracelete. Mas, neste ano, minha meta foi fazer o meu melhor – e cometer pouquíssimos erros.

Eu tinha a preocupação de chegar às fases finais dos torneios, prestando atenção em como caras do nível de Phil Ivey, Jason Mercier e John Juanda estão sempre chegando. São os mesmos caras, ali, no final. Tem também o Nando Brito, com seu jogo super tight. Então, tem sempre alguma coisa para aprender e amadurecer. Definitivamente, essa World Series foi um divisor de águas para mim – o bracelete não veio, mas, em termos técnicos e de solidez, este foi o meu melhor ano.

Em 2010, terminar em terceiro no Evento #41, me rendeu um prêmio melhor, e foi também o meu melhor torneio. Contudo, chegar à reta final de seis eventos, a maioria deles com nível técnico bastante alto, é a certeza de que estou no caminho certo, e a confiança no meu jogo está em alta.

Cheguei a Las Vegas dez dias antes da WSOP. Presenteei minha mãe com a viagem, e muitos amigos estavam lá para conhecer o verdadeiro parque de diversões dos adultos. Foram férias maravilhosas, que contribuíram positivamente pra o meu jogo. Quando a série de poker mais famosa do mundo teve início, eu estava completamente focado.

Eu sabia que o momento para me divertir seria nesse período pré-WSOP. Saí com os meus amigos para a balada, levei minha mãe aos shows, enfim, apresentei Las Vegas a eles. Quando os amigos do poker chegaram, obviamente que deu aquela vontade de sair, de ir a um restaurante legal, mas, como o objetivo era a World Series, joguei todos os torneios que podia, sabendo que o foco era fundamental.

No poker, há uma linha muita tênue entre decisões boas e ruins. Então, seu subconsciente pode te fazer entrar em uma situação de all-in em que, mais da metade das vezes, o fold seria a melhor decisão.  Algo que lhe faça mal, como sono, ressaca ou até dor, pode fazer com que, inconscientemente, seu corpo peça para que aquilo (estar sentado jogando) acabe. E isso pode fazer com que você vá para o gamble com mais frequência. Com isso em mente, eu tinha um objetivo: realizar uma excelente WSOP. Parece que deu certo.

O começo não foi dos melhores. As coisas não deram muito certo, e os primeiros torneios não eram tão deep stack. Mas no Evento #16 [$1.500 6-Max], com mais de 1.600 jogadores, consegui a 25ª posição. Aquilo me fez reestabelecer a confiança necessária para os demais eventos da série.

Em seguida, no Evento #23 [$3.000 6-Max], terminei em 18º. Neste, um field bem mais complicado. No Dia 2, por exemplo, joguei com Bertrand “Elky” Grospellier, Eugene Katchalov e “Freddy” Deeb. Após outro ITM, no Evento #33 (61ª posição), seria no Evento #36 [$3.000 Shootout] a maior emoção da WSOP 2012: a tão sonhada mesa final.

O caminho foi difícil. Na minha primeira mesa, enfrentei Jonathan Duhamel e Michael Mizrachi. Além disso, optei pelo fold, equivocadamente, com um full house, em que o adversário blefou e mostrou ace-high. Tive que me recuperar, tanto em fichas quanto psicologicamente, já que não poderia, de forma alguma, levar para o pessoal ou querer dar o troco. Graças à estrutura deep, tudo deu certo, e garanti minha primeira vitória.

Já ITM, o segundo dia foi o mais tranquilo – mas tive que bater cinco ótimos jogadores. No heads up, venci Hiren “Hustla16” Patel, campeão do WCOOP em 2009.

A mesa final teria 10 jogadores, todos com a mesma quantidade de fichas – entre eles, Antonio Esfandiari, Roberto Romanello e Athanasios Polychronopoulos. Infelizmente, os organizadores não repetiram a ótima estrutura de blinds dos dias anteriores e pularam dois níveis. Alguns jogadores ficaram short rapidamente e se viram obrigados a tentar dobrar seus stacks de 15 ou 20 blinds. Assim aconteceu comigo. E quando meu A-J não superou o J-J adversário, dei adeus ao sonho bracelete. Apesar da frustração, o corte nos blinds não serve de desculpas, já que todos foram prejudicados com a situação.

Depois disso, ainda cheguei à reta final de dois torneios, cujos fields eram dos mais difíceis da WSOP: o Evento #50 [$5.000 No-Limit Hold’em] e o Evento #57 [$10.000 No-Limit Hold’em 6-Max]. No primeiro, outra amarga 18ª colocação. Amargo porque eu estava bem em fichas, e uma sequência de mãos perdidas fez um estrago grande. Não consegui me recuperar, e o sonho de outra mesa final foi adiado.

No torneio de US$ 10.000, comecei mal. Só tinha fera no pano, e eu não conseguia valor em nenhuma mão. Sem cartas, fiquei feliz por ter sobrevivido ao Dia 1. Já no dia 2, tudo começou a tudo dar certo. Acertei os moves e leituras, e cheguei a ser chip líder. Acabei caindo na 28ª posição, quando meu 9-9 trombou de frente com um A-A.

Embora o bracelete não tenha vindo, o saldo foi extremamente positivo: um ótimo lucro e retorno sobre o investimento. Aumento da confiança em termos técnicos. Melhora com relação à paciência, principalmente tratando-se de sobrevivência em torneios, e evolução na análise de situações, tanto para agredir quanto para desistir de uma mão.

Na próxima edição, falarei sobe o Main Event e comentarei duas mãos interessantes ocorridas por lá.

Para os interessados em coaching, palestras e cursos, ou se quiser apenas enviar alguma pergunta, é só me enviar um e-mail para contato@thedecano.com.

FICOU NA DÚVIDA?
Gamble – quando um jogador se coloca em uma situação que é a sorte é necessária.

Deep Stack – torneios cuja estrutura permite um jogo mais técnico, já que a relação entre stacks e blinds é bem grande.

Moves –  jogadas de alto risco, geralmente blefes, que quando mal executadas trazem um grande prejuízo ou até a eliminação do jogador.




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