EDIÇÃO 38 » FIQUE POR DENTRO

Filosofia do Poker: O Oposto do que Você Diz


David Apostolico

Mike Caro tornou famosa a máxima do poker, que a maioria dos jogadores “aparenta fraqueza quando está forte, e aparenta força quando está fraco”. Há um desdobramento dessa máxima que frequentemente é negligenciado. A maioria dos jogadores lhe dirá o oposto quando falar sobre o que tem em mãos. Deixem-me oferecer um exemplo específico, para lhes dar uma ideia do que estou falando.

A mão a seguir aconteceu em minha mesa, embora eu não estivesse envolvido. O Jogador A estava no big blind, segurando par de seis, e pagou um raise pré-flop do Jogador B, que era muito tight. O flop veio 9 7 6. O Jogador A pediu mesa, assim como o Jogador B. O turn trouxe o 10. O Jogador A apostou, e o Jogador B, depois de algum tempo, finalmente deu call. Agora, o Jogador B ou tinha um draw ou estava fingindo muito bem. O river foi o J, para um bordo final com J 10 9 7 6. O Jogador A novamente fez uma aposta, e o Jogador B então foi all-in.

O Jogador A pensou por muito tempo, e finalmente deu fold em seu par de seis, mostrando suas cartas. O Jogador B fez um comentário depreciativo sobre ser assim que seja poker, enquanto dava muck em sua mão e puxava um pote razoavelmente grande. E continuou a se vangloriar por não ter nada e ter forçado o Jogador A a largar sua trinca com um blefe.



Mas tem um detalhe, eu já joguei com o Jogador B inúmeras vezes, e ele é muito tight. Ele dará o ocasional blefe pré-flop, e quando tiver sucesso, sempre mostrará a mão. O motivo de ele fazer isso não é só conseguir uma propaganda grátis para que mais tarde possa ser pago com suas mãos mais fortes; em vez disso, ele simplesmente não consegue se conter. Ele busca a aprovação dos outros em vez de jogar um poker otimizado.

No intervalo, conversei com o Jogador A. Tentei convencê-lo de que o Jogador B estava ganhando, e muito provavelmente tinha A K. O motivo de eu ter pensado isso é que o Jogador B disse que estava com A-K e que não tinha nada. Quando os jogadores mentem, eles frequentemente ajustam um pouco a mentira para torná-la mais plausível. Além disso, o jeito que o Jogador B jogou sua mão teria sido muito consistente com acertar o nuts no flop. Ele não fez uma continuation bet. Ele ficou fingindo no turn. Então, finalmente foi all-in no river. Não estou sugerindo que este seja um modo otimizado de jogar esta mão, mas certamente se encaixa no modus operandi do Jogador B. No entanto, o que realmente me convenceu foi que ele não mostrou sua mão. Se ele estivesse com tanta intenção de se vangloriar de seu grande blefe, teria se deliciado em mostrar as cartas. Quando mencionei isso ao Jogador A, ele sorriu e percebeu que havia feito a coisa certa.

Nem todos os jogadores são iguais, de forma alguma, mas lembre-se de que qualquer coisa que um jogador lhe disser, mas não mostrar, deve ser encarada com boa dose ceticismo.




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