EDIÇÃO 29 » FIQUE POR DENTRO

Filosofia do Poker: Dimensionando Suas Apostas


David Apostolico

Recebi um e-mail de um amigo que estava passando por uma fase de azar, em que ele delineava todos os coolers que tinha recebido. Uma mão, contudo, chamou minha atenção, pois achei que ela merecia mais cuidado do que ser simplesmente atribuída ao azar. Eis um resumo da situação:

Nosso herói tem um par de dez no cutoff. Os blinds estão em $100-$200 com ante de $25. Há três limpers antes de a ação chegar até nosso amigo. Ele dá raise para $600. Tanto o small blind quanto um limper em posição inicial pagam. Os três veem o flop, que vem com 9-4-3 rainbow. Depois de dois checks, nosso jogador sem sorte aposta $1.200. O small blind dá call e o outro oponente vai all-in. Ele tem cerca de $1.300 a mais. Nosso amigo paga os $1.300 extras e agora o small blind vai all-in depois dele com mais $2.500. Se nosso herói pagar, ficará com apenas $1.700 restantes: ele dá call com seu overpair. O small blind tem 6-5, que lhe dão uma queda para as duas pontas, e o limper de posição inicial tem 9-4, dois pares. Nosso herói necessita de ajuda para ganhar o pote principal, mas precisa apenas escapar da sequência para ganhar o pote paralelo e salvar a mão. O turn é irrelevante, mas o river é um 7, formando o straight do small blind e fazendo com que ele levasse ambos os potes.

Pude sentir pelo contexto do e-mail do meu amigo que ele não conseguia acreditar no jogo pobre de seus oponentes. Eu não discordo dele. Não sei ao certo o que o limper de posição inicial estava querendo ao fazer isso com 9-4 offsuit fora de posição. Uma vez na mão, contudo, não vejo problema no jogo dele. Quanto ao small blind, seu call pré-flop é questionável, mas não louco. Havia muito dinheiro no pote quando a ação chegou até ele, e ele precisava saber se tinha cartas decentes. O problema, contudo, é que havia três jogadores ainda por falar depois dele que poderiam dar reraise e forçá-lo a sair da mão, deixando seu dinheiro morto no pote.

O problema que eu vejo no jogo do small blind, contudo, é seu semiblefe all-in em um pote paralelo seco. Essa é uma jogada terrível. Um semiblefe funciona apenas se você conseguir afastar seu oponente do pote ou acertar sua mão. Aqui, caso ele afaste nosso amigo — o que não aconteceu — não ganhará nada, pois ainda precisa vencer a mão contra o outro jogador. E caso ele acerte sua mão, deve querer manter o herói no pote.

Nosso amigo também merece críticas, no entanto. Só porque seus oponentes cometeram erros, isso não significa que o jogo dele não apresentou equívocos. Um erro comum que eu acho que muitos de nós cometemos é permitir que as jogadas ruins dos outros encubram nossos próprios erros. O maior erro que nosso amigo cometeu foi sua aposta inicial, que poderia ter modificado toda a sequência de eventos. Ele colocou três vezes o big blind com um par de dez. Essa não seria uma aposta ruim se ele estivesse abrindo a ação. Contudo, com três limpers antes dele, esse foi um valor lamentavelmente inadequado. Quando chegou a hora de dimensionar o tamanho de sua aposta, ele deveria ter pensado em termos de tamanho do pote, não de blinds. Com 10 jogadores à mesa, havia $1.150 no pote quando a mão chegou até o nosso amigo. Uma aposta de $600 simplesmente não funciona aqui. Ela deixou o pote com $1.750, bastando um call de apenas mais $400 para aqueles que já estão no pote. Tratam-se de odds bastante atraentes, e um grande incentivo para os jogadores pagarem com quase qualquer coisa. Eu na verdade fiquei surpreso quando os dois limpers originais deram fold pré-flop. Se nosso amigo tivesse aumentado para $1.200 em vez de $600, a mão teria sido jogada de maneira bem diferente. É altamente provável que ele tivesse ganhado o pote aqui e eu jamais tivesse recebido esse e-mail. Nossas piores derrotas geralmente ocorrem em mãos que jogamos de maneira equivocada, dando aos nossos oponentes a oportunidade de perseguir cartas. Lembre-se disso da próxima vez em que estiver dimensionando o valor exato de uma aposta ou aumento.

David Apostolico é autor de Compete, Play, Win: Finding Your Best Competitive Self. Você pode contatá-lo em thepokerwriter@aol.com.




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