Em minha última coluna, eu falei sobre alguns prós e contras a respeito de dois importantes — e correlatos — conceitos de torneios: dar overbet e empurrar. Eu expliquei que o reaumento exagerado passou a fazer parte de meu arsenal de armas do poker, especialmente nos últimos estágios de um evento, quando o dinheiro é meio descartável e/ou a pressão dos blinds e antes é grande.
Uma parte dessa estratégia envolve enfrentar jogadores loose que abrem o pote aumentando e podem não ser fortes o suficiente para pagar quando você empurra. De fato, os principais alvos nessa situação seriam jogadores bons e agressivos que gostam de abrir raises de forma loose, mas estão menos propensos a fazer grandes calls pré-flop em potes nos quais o fator sorte pode ser muito grande.
Um exemplo desta jogada que seria altamente criticada (pela vítima), se deu na World Series of Poker 2007. Eu fiz um grande aumento all-in com nada mais do que 9♦8♦ para tentar fazer com que meu oponente — um ganhador de bracelete — descartasse as duas grandes altas sem par que eu achava que ele tinha. Se minha leitura estivesse correta, meu oponente desistiria mais de 30% das vezes, e, mesmo que ele pagasse com uma mão do tipo A-Q/A-K, eu ainda teria cerca de 40% de equidade no pote. Combinado com a imagem tight que eu tinha o tempo todo, foi uma boa maneira de obter um descarte com um bom EV segurando uma mão relativamente marginal.
A outra parte da tática de dar overbet/empurrar envolve o seguinte: se você estiver enfrentando jogadores que não conseguem largar mãos marginais pré-flop com muita facilidade (simplesmente porque são maus jogadores, ficam muito comprometidos para desistir ou apenas não respeitam muito seus aumentos), há outra maneira de empurrar de forma lucrativa — e foi exatamente isso que eu fiz durante o European Poker Tour em San Remo.
Sentado numa mesa extremamente loose-aggressive, com jogadores não dispostos a desistir de nenhum tipo de mão decente, não importando o quanto você reaumentasse, eu decidi jogar bastante tight e evitar qualquer tipo de blefe, mesmo que fosse apostar demais com minhas mãos fortes. Utilizando essa estratégia simples, eu precisaria entrar em apenas cerca de 20 potes no curso de dois dias para entrar no grupo dos que recebem dinheiro — e precisaria ganhar apenas quatro ou cinco showdowns para conseguir isso.
Em minha mesa estava o superagressivo Dario Minieri, talvez o único na mesa que respeitava minha imagem tight e, portanto, descartaria suas mãos marginais diante de reraises meus. Portanto, ao longo de oito horas, eu reaumentei contra ele seis ou sete vezes, incluindo algumas ocasiões em que eu não tinha muito — e, em todos os casos, ele deu fold. Eu usei corretamente minha imagem tight e fiz minhas jogadas apenas em situações nas quais (a) eu achava que Dario estava fraco e (b) eu estava em boa posição para executá-las. E quando achava que ele iria parar de respeitar meus reraises, eu ficava tight, esperando por uma grande mão quando ele pudesse me dar ação. Quando finalmente recebi A-A na mesma situação de antes, eu novamente optei por reaumentar exageradamente, e tive sorte de me deparar com Dario e a grande mão dele, K-K. Todo o dinheiro entrou antes do flop, e quando minha mão saiu vitoriosa, eu de repente passei a ter um estoque acima da média, apesar de ter entrado em pouquíssimos potes naquele dia. Obviamente, dessa vez eu tive sorte de ele ter uma segunda melhor mão tão grande a ponto de não desistir dela, mas estou convencido de que com apenas um A-Q ou algo do tipo, ele também teria colocado o dinheiro no pote — simplesmente porque eu tinha armado a situação muito bem.
Quando aos demais — e menos habilidosos — jogadores de minha mesa, eu não precisei de raciocínio avançado nenhum para armar as situações. Contra eles, eu simplesmente esperei e esperei; por exemplo, contra alguém que abriu raise de posição final eu voltei um reraise de nada menos do que sete vezes o valor do aumento original dele — apenas para vê-lo pagando meu A-Q com seus meros A-To. E mais tarde, tendo conseguido o nut straight em um bordo que permitia muitos draws, eu simplesmente fiz um check-raise de nada menos do que nove vezes o valor da aposta original — e o detentor dos dois pares mais altos pagou. Nessas mãos, meus oponentes leram minhas overbets como sinal de fraqueza ao invés de força — e eu pude tirar vantagem disso.
Portanto, ao usar uma abordagem muito simples e quase unidimensional (jogar tight e empurrar no momento certo e pelas razões certas), me aproveitei das fraquezas de meus oponentes — e ao final fui recompensado recebendo uma quantia de dinheiro mais do que decente. ♠