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Nem Damas, Nem Reis - Um Bate Papo com Carol Dupré


Marcelo Souza
Para muitos, a melhor jogadora do País na atualidade. Convocada para a seleção paulista de poker, ela vem tendo resultados constantes e expressivos — o último deles, uma bolada de quase R$ 300 mil. Mas isso não importa para Caroline Dupré, ou melhor, não importa tanto. Como Vanessa Selbst, ela não quer saber de títulos que lhe destaquem como uma mulher que joga muito bem poker. Carol quer apenas ser reconhecida como alguém que joga muito bem poker.
 
Em um esporte ainda com predominância masculina, para uma mulher se destacar o esforço é duas vezes maior. Primeiro, é preciso estudar muito, como todos os outros, e então conseguir grandes resultados. Como se não bastasse, é preciso superar o sexismo e desprender do conceito “mulher”. Não deixar de ser mulher, obviamente, mas mostrar ao mundo que o poker não ser trata de homens e mulheres, mas de jogadores. No Brasil, Carol é uma das que conseguiu isso — e você vai entender um pouco dessa história agora, em entrevista exclusiva concedida à Card Player Brasil.
 
Marcelo Souza: Como foi o seu início no poker? Foi mais complicado por você ser mulher?
 
Carol Dupré: Comecei jogando homegames na casa de amigos e, em seguida, frequentando alguns clubes de São Paulo.  Na época em que comecei, o número de mulheres era bem menor do que hoje, isso já fazia com que a pressão fosse maior, pois uma presença feminina à mesa sempre destoava.
 
MS: Como você enxerga a atuação das mulheres no poker mundial atualmente?
 
CD: Como em todas as áreas, o aumento de mulheres no poker também é significativo, e isso faz com que muitas já se destaquem de igual para igual. Hoje, realmente vejo uma evolução natural e de constante crescimento. No torneio ladies da WSOP, por exemplo, o field é enorme, chegando a quase 1.000 jogadoras. No Brasil, isso também vem acontecendo. Neste ano, o CPH (Campeonato Paulista de Hold’em) também aderiu a ideia do BSOP e já existe um evento Ladies Only em todas as etapas.
 
MS: E com todo esse crescimento já dá para procurar mulheres em quem se espelhar?
 
CD: Não tem como não pensar na Vanessa Selbst. Desde o começo da minha carreira, ela já era meu ídolo. Também admiro e me espelho muito nas minhas amigas, jogadoras profissionais e com quem troco grande parte do meu conhecimento. 
 
MS: E falando em Vanessa, qual sua opinião sobrea a famosa sentença dela: “Espero ver o dia em que não falaremos sobre homens e mulheres, mas apenas jogadores de poker”? 
 
CD: Concordo plenamente, e acho que para mim e para muitas já é assim. Muitos ainda podem fazer essa segregação, mas o que interessa é a forma que me sinto quando me sento à mesa. Esqueço realmente dessa diferença e penso apenas no jogo. 
 
MS: Quando você está em uma mesa de poker, você sente que é tratada de forma diferente por ser mulher? 
 
CD: Antes, sim. No entanto, hoje, com a minha imagem mais exposta, sinto um tratamento distinto, mas por me conhecerem, não por eu ser mulher. O que é muito bom. Já é uma conquista para nós, mulheres.
 
MS: Sua ascensão no poker nos últimos anos tem sido impressionante. Você já é considerada por muitos como a melhor jogadora do Brasil. Como você lida com isso e, mais importante, como se deu seu desenvolvimento nesses anos? 
 
CD: Nos últimos anos, eu realmente evoluí muito e consegui aproveitar bem as oportunidades que me foram dadas, mas sei que isso tem que ser contínuo. Tenho muito pra aprender e renovar diariamente — e é o que eu busco. Sinceramente, agradeço muito a consideração que me é dada, mas não penso que sou a melhor quando estou na mesa, penso em fazer o meu melhor.
 
MS: Você é patrocinada pelo site Betmotion. Qual a importância do site em sua carreira? 
 
CD: A minha evolução se deu principalmente nos dois últimos anos, que foi justamente quando entrei para o Betmotion. Além de um suporte completo, com parcerias em coaches e jogos online no site, o Betmotion confiou em mim e me deu oportunidades que todo jogador profissional almeja. Eles me colocaram no circuito nacional e internacional, sempre me proporcionando as melhores estruturas e condições. A soma disso me fez a Carol de hoje. Sou muito orgulhosa de carregar esse nome comigo.
 
MS: Como é sua rotina hoje, no poker online e ao vivo? 
 
CD: Minha rotina ao vivo é bem cheia, jogo os high rollers regulares de São Paulo e o CPH, além de viajar para todas as etapas do BSOP. Nos dias vagos, que não são muitos, tento suprir agenda com coaches e torneios online no Betmotion.
MS: E é possível se sustentar deixando o poker online em segundo plano? 
CD: Sim, mas é bem exaustivo, pois enquanto jogamos um torneio ao vivo, no online, você pode jogar muitos mais. Mas com a grade que me é proporcionada ao vivo, ser lucrativa é um objetivo extremamente tangível.
 
MS: Outra grande jogadora do País é Milena Magrini. Como é a relação de vocês duas?
CD: Somos muito amigas, praticamente irmãs. Moramos juntas em São Paulo e temos uma rotina diária de coaching, online e ao vivo, nas quais trocamos experiência diariamente e nos damos suporte mútuo. 
MS: O que você poderia dizer para mulheres que querem levar o poker um pouco mais a sério?
CD: Encarem o esporte sem preconceito, começando por você mesmo. Poker não tem gênero. Joguem de igual para igual.
 
MS: Você ganhou ainda mais destaque ao vencer o Cruise Million e levar R$ 270.000. O que muda na sua carreira agora?
 
CD: Na realidade, o resultado em si não proporciona uma mudança em minha carreira, apenas representa um começo. Faz-me ter certeza de que estou no caminho certo, me dá gana de aprender e vencer mais e mais. Considero como mais um degrau galgado e me motivo para subir os próximos.  
 
MS: Você já enfrentou os mais diversos tipos de jogadores. Quais lhe deram trouxeram mais dificuldade?
 
CD: Houve uma etapa do LAPT (Latin American Poker Tour), em 2014, aqui no Brasil, que acebei jogando na mesa do Victor Sbrissa e do João Simão. Como foi um dia difícil (risos).
 
MS: Quais suas dicas para quem quer evoluir no poker?
 
CD: Pratica não é efetiva sem estudo. Assista vídeos, corra atrás de sites e fóruns na internet. Troque informação com seus amigos e pessoas que você admira. Faça coaching e workshops com profissionais. Foco se resume em ter corpo e mente em um mesmo centro. Então se alimente bem, descanse e, se puder, faça algum exercício físico.
 
MS: Este último espaço é seu.
 
CD: Muitas pessoas passaram pelo meu caminho desde que comecei minha carreira. Todas elas têm ou tiveram um papel importante em algum momento — e sou muito grata por isso. A energia e positividade que senti quando estava na reta final do navio foi indescritível. Sou uma privilegiada. No poker, fiz amigos para uma vida. Queria finalizar agradecendo mais uma vez ao meu patrocinador, o Betmotion. Sem eles, com certeza, eu não estaria onde estou hoje.
 



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