O título não veio, e apesar da premiação de quase US$ 900.000, o rosto de Yuri Martins depois de perder o heads-up do $50K Poker Players Championship para Dan Cates era um misto de frustração e cansaço.
O brasileiro entrou para história e consolidou-se de maneira indiscutível como o maior nome do país no poker, mas, claro, o título era o seu principal objeto de desejo. Em conversa com Card Player após o duelo, ele explicou o porquê: “Para você ter noção, eu ainda não sei quanto paga o prêmio do segundo. Eu sei que o primeiro levava 1,4 milhão. Eu fiz um estudo das premiações antes da FT, mas lá dentro, não era sobre dinheiro”.
O confronto teve viradas antológicas no decorrer das oito horas. Cada finalista “colocou a mão na taça” por pelo menos três vezes, mas Yuri nunca acreditou realmente nisso.
“É o que sempre falo, eu tento focar a cada mão. Tanto que em um dos breaks, eu estava muito grande e veio uma galera falar: ‘Já ganhou’, ‘não tem como perder’... E não tem nada disso. Heads-up a variância é gigante. Ainda tem o fato que meu ROI deve ser muito baixo contra ele, e você pega os jogos limits, em que a big bet já estava muito grande. O jogo poderia virar a qualquer momento, o que acabou acontecendo várias vezes”.
E quando um brasileiro tem trajetória em um torneio da WSOP como Yuri, a torcida já é um fator conhecido. E se nos outros dias a “bolha de Yuri” era um lugar impenetrável de puro foco e concentração, na mesa final, isso foi um pouco diferente.
“A torcida é sim uma distração. Depois você acaba se acostumando. É tanto tempo fazendo barulho que você eventualmente se abstrai. Mas não tem como dizer que não atrapalha, mas atrapalha pra mim e atrapalha pra ele também”, contou.
Outro ponto que deixou Yuri visivelmente desconfortável na mesa final foi o comportamento de Dan Cates. Incorporando o personagem “Macho Man”, ele fazia calls e raises espalhafatosos, muitas piadas e até comentários grosseiros, chegando até a atrapalhar o andamento do jogo. Perguntado sobre a performance do “jungleman” na FT, Yuri não se esquivou e foi direto.
“Eu, sinceramente, acho ridículo. O cara tem quase 40 anos e se comporta como alguém que tem 12”. E quem esperava por um elogio do brasileiro em relação ao jogo do jogador, se surpreendeu. “Eu, sinceramente, não sei o que dizer do jogo dele. Eu precisaria jogar mais com ele para tirar conclusões. A mão do 2-7, em que eu troco meu 9, ela sim, ele realmente jogou muito bem”.
O foco agora é no restante da WSOP. Yuri volta aos feltros hoje para jogar o $10K PLO Championship, e se depender dos seus últimos resultados há boas possibilidades de ele ultrapassar Alexandre Gomes e se tornar o jogador brasileiro com mais premiações em torneios ao vivo.