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Stefanie Ungar fala sobre a relação com o pai: “Ele era completamente diferente perto de mim”

Empresária conversou com exclusividade com jogador e colunista da Card Player Nathan Gamble


 

09/02/2021 19:22
Stefanie Ungar fala sobre a relação com o pai: “Ele era completamente diferente perto de mim”/CardPlayer.com.br


O fascínio do profissional Nathan Gamble pela vitoriosa jornada de Stu Ungar no poker levou o norte-americano a “investigar” a vida do pentacampeão da WSOP fora dos feltros. Recentemente, ele entrevistou a única filha do “The Kid”, Stefanie, uma empresária que está próxima de inaugurar um restaurante em Las Vegas em homenagem ao seu pai. 


Stefanie contou que Stu precisou lidar com tragédias em toda a sua vida. Após a morte do pai, vítima de enfarto fulminante, ele passou a ter como figura paterna amigos da família conhecidos por suas propostas irrecusáveis. 


“No bar mitzvah dele havia tantos integrantes da máfia italiana que o FBI estava do lado de fora anotando as placas dos carros. Eles não conseguiam imaginar quem era aquele garoto e por que havia tantos criminosos em sua festa de aniversário. Na verdade, ele era um menino judeu de 13 anos cujo pai tinha o respeito da máfia. Ele sempre brincava que, se o FBI fosse inteligente, eles teriam confiscado a lista de convidados da festa”.


Stu logo passou a cuidar da casa, e foi na tentativa de defender a mãe que ele se apaixonou pelas cartas.


“Ele tinha um apetite insaciável por ação. Ele se interessou pelos jogos ao observar sua mãe ser ridicularizada por suas amigas a cada erro cometido. Isso despertou nele a sua busca por grandeza e por respeito”.


O primeiro jogo que Stu dominou foi o gin rummy. Ele era tão fora de série que alguns dos seus oponentes realmente acreditavam que ele era clarividente. Ficou impossível conciliar a vida de jogador com a de estudante, e Stu abandonou a escola antes mesmo de conseguir o diploma. 


O FBI voltaria a cruzar o caminho de Stu. Ao fazer uma “batida” em um jogo ilegal da máfia, os agentes federais capturaram vários jogadores, porém Stu não estava entre eles. Muito astuto, ele se escondeu atrás do balcão do bar e saiu do local sem problemas ao se passar por um dos garçons.


A vida em Nova York ficou perigosa demais, o que levou Stu a passar por Miami e Las Vegas. Na Cidade do Pecado, ele começaria a ter problemas com apostas esportivas.


“Em sua primeira ida a um campo de golfe, ele saiu de lá devendo 77 mil dólares. Eu não sei o que ele procurava, se era adrenalina ou algo mais, porém ele sempre testava os seus limites. Certa vez, meu pai perdeu a Mercedes que havia usado para ir até o campo. Ele era terrível no golfe e um péssimo apostador. Se ele tivesse se focado apenas no gin rummy e no poker, a sua vida teria sido muito mais fácil, mas ele não era assim”.


A falta de limites também custava caro a Stu nos feltros. Em 1981, ele quase foi expulso do Main Event da WSOP depois de cuspir em um dealer. Segundo Stefanie, seu pai perdia o controle muitas vezes, mas ele era uma pessoa que tinha um coração gentil e sempre tentava fazer as pazes.


“Em seu funeral, a minha mãe disse que vários dealers compareceram, e isso foi muito significativo, uma vez que o meu pai nem sempre tratava eles bem. Quando ela conversou com um deles, ouviu que meu pai fazia questão de se desculpar ao término dos jogos e deixava sempre uma gorjeta generosa. Ele ficava tão frustrado nos high stakes que ele perdia o controla facilmente, porém quando a sua raiva diminuía, ele geralmente tentava consertar as coisas”.


Stu se casou em 1982, pouco tempo antes do parto de Stefanie.  Para ele, ter um filho fora do casamento não “era fazer a coisa certa”. Junto com o matrimônio veio Richie, enteado de Stu que logo passou a ter na figura do profissional um grande ídolo. 


A mãe de Stu sofreu um derrame e teve de ser internada em uma casa de repouso antes de sua morte, em 1979. O fardo da culpa pesava muito sobre ele e era demais para alguns de seus “amigos” testemunharem. Para curar a dor, eles lhe ofereceram cocaína. Com o seu foco totalmente no jogo, Stu nunca bebeu ou fumou, mas dessa vez ele não conseguiu dizer não. Em um piscar de olhos, ele se sentiu melhor, revigorado para voltar aos feltros. Stu não demorou a perceber que aquela droga poderia ajudá-lo a jogar por mais tempo nas mesas. O que começou como um desejo de diminuir sua própria dor se tornou em uma ferramenta para induzir dor nas mesas.


O vício em cocaína de Stu foi demais para o casamento dele, e, em 1986, ele se separou. O carinho de Richie por ele era tão grande que o jovem preferiu ir morar com o seu padrasto. Três anos depois, mais uma tragédia atingiu a vida do jogador. Logo depois de ser formar, Richie se suicidou.


“Eu nunca tinha visto meu pai chorar, mas depois que Richie morreu, ele ainda chorava até dormir à noite, dez anos após sua morte”.


Stefanie e sua mãe acabaram se mudando para a Flórida, o que deixou Stu ainda mais desolado. Em 1990, por conta de uma overdose de cocaína, ele não conseguiu jogar o Dia 3 do Main Event da WSOP. Mesmo sem jogar, ele avançou para a FT e embolsou US$ 25.050 pela nona posição.


O foco de Stu no jogo era tão grande que ele mal sabia se virar fora dos feltros. Certa vez, ele deixou a sua Mercedes sem óleo e foi até a concessionária reclamar. Para Stu, era um absurdo ninguém ter lhe avisado que o carro precisava de manutenção. Ele também não confiava em bancos e pagava todas as suas contas em dinheiro.


Perto de Stefanie, o apostador Stu não dava as caras. Sempre muito atencioso, ele não se importava em mudar completamente de vida por alguns meses.


“Sempre que eu ia visitá-lo no verão, ele me buscava com o seu Jaguar. Meu pai fazia questão de trocar de carro regularmente, saindo do modelo mais antigo para um mais novo. Nós passávamos horas conversando nos restaurantes de culinária chinesa e italiana. Essa era a nossa praia. Ouvi de vários jogadores que ele era completamente diferente perto de mim”.


Stu foi encontrado morto em um motel de Las Vegas, em 1998. No ano anterior, ele havia entrado para a história do poker ao se tornar o primeiro jogador vencer o Main Event da WSOP pela terceira vez, recorde que permanece até os dias de hoje.




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