Eu quero abordar uma questão que aparece bastante. Na maior parte dos casos a pergunta começa assim: “eu estou pensando em largar o meu emprego (ou trancar meu curso na faculdade) para me tornar um jogador de poker em tempo integral. Quais conselhos você pode me dar?
A resposta imediata é: não faça isso
Na maioria dos casos, eu nunca vi a pessoa nos feltros, e por isso não faço a mínima ideia de como é o jogo dela. Mesmo com a falta de informações, eu me sinto confortável em dizer que grande parte desses jogadores não tem habilidade o suficiente para viver do poker. Alguns deles até me dizem que não são lucrativos, porém eles acreditam que se largarem os seus empregos e se dedicarem apenas ao poker, em pouco tempo eles vão mudar esse cenário.
Desculpa, mas as coisas não funcionam assim. Aprimorar o seu jogo no poker demanda muito tempo e esforço, e grande parte do seu empenho vai acontecer fora das mesas. Para elevar o seu nível, você vai precisar investir inúmeras horas lendo livros e artigos, visitando sites de treinamento, estudando suas mãos e trabalhando com técnicos renomados. Jogadores podem ter evoluções mais precoces, porém ninguém vai mudar o seu jogo sem fazer um esforço pesado longe das mesas.
Há muitas décadas eu escuto as pessoas discutindo sobre a porcentagem de jogadores que são lucrativos ao longo prazo, e a estimativa costuma ser de 10% ou menos. Eu acredito que esse é um número razoável. Entretanto, muitos desses profissionais não conseguem ter um lucro significativo. Se você quer viver apenas do jogo, você precisa ganhar o suficiente para cobrir todas as suas despesas. A porcentagem de jogadores que consegue fazer isso é provavelmente inferior aos 2%. Então, a maioria das pessoas que me questionam sobre a profissionalização não vai sobreviver a esse corte.
Agora vamos falar daqueles que possuem habilidade no jogo ou que vão obtê-la com muito esforço. Há inúmeras histórias de profissionais bastante lucrativos que perderam o seu bankroll fora dos feltros. Muitos faliram nas mesas de cassino ou com apostas esportivas. Outros passaram a gastar tudo com artigos de luxo. Um carro esportivo que você compra hoje por US$ 100.000 daqui a um ano vai estar valendo US$ 40.000. Pelo que eu já vi, eu posso chutar que metade dos jogadores que possuem habilidades para vencer no poker acabaram queimando seu bankroll por essas razões.
Finalmente sobrou aquele 1% que tem o desejo, a habilidade e a maturidade para se tornar um jogador lucrativo que não vai desenvolver a tendência de destruir sua carreira. Entre eles você vai encontrar muitos casos de profissionais que perderam o prazer em viver do poker e querem migrar para outras aéreas, o problema é que no currículo deles consta apenas a experiência no jogo, o que vai tornar a tarefa de arrumar um emprego fora da nossa indústria bastante complicada. Eu já ouvi casos sobre profissionais que têm o desejo de abandonar o poker, mas com nada em seu currículo por uma década, quem vai querer contratá-los?
Tenho sorte por ainda amar jogar poker em tempo integral. Eu pedi demissão do meu emprego depois de ganhar o Main Event da WSOP. Porém o que me levou a tomar essa decisão foi a oferta de patrocínio de um site de poker. No contrato, eles me ofereceram mais para ser embaixador do que eu ganhava como advogado na Pfizer. Se essa proposta não tivesse aparecido, eu seguiria advogando e me dedicaria ao poker apenas em meu tempo livre.
O engraçado é que tanto agora quanto na minha época de recreativo, eu passo a mesma quantidade de horas nos feltros. Se você tem uma grande paixão pelo poker, então jogue o máximo que você conseguir. Entretanto, mantenha o seu emprego ou siga com seus estudos.
