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Profissionais dão dicas de como resistir à variância dos torneios

Landon Tice, Shannon Shorr e Niall Farrell compartilham experiências e explicam como melhorar seu jogo para minimizar as downswings


 

02/06/2021 19:00
Profissionais dão dicas de como resistir à variância dos torneios/CardPlayer.com.br
Landon Tice, Shannon Shorr e Niall Farrell possuem milhões em ganhos em suas carreiras


Se você decidiu jogar poker profissionalmente, você provavelmente já sabe que irá passar por algumas downswings no seu caminho. A alta variância existente nos torneios faz com que até os melhores jogadores enfrentem, mais de uma vez, derrotas dolorosas e que podem trazer uma perda patrimonial significativa. 


E uma vez que esse é um tema tão presente na vida dos profissionais, Craig Tapscott, jornalista da Card Player, conversou com Landon Tice, Shannon Shorr e Niall Farrell, que compartilharam algumas de suas experiências frustrantes em diferentes torneios e quais as suas estratégias, tanto para dar a volta por cima, quanto para minimizar os riscos de uma eventual queda. 


Tice começou a jogar profissionalmente no início de 2019 e venceu o Main Event do MSPT, no Venetian, com premiação de US$ 201.529, no ano seguinte. Shannon Shorr surgiu no circuito em 2006, quando esteve na mesa final do Main Event do Aussie Millions, além de vencer a Bellagio Cup, com o prêmio de US$ 960.690 e tem, atualmente, mais de US$ 8,2 milhões em ganhos de carreira. Niall Farrell foi a oitava pessoa a ganhar a tríplice coroa do MTTs ao vivo, tendo conquistado um bracelete da WSOP, e títulos no WPT no EPT. Ele tem pouco mais de US$ 6 milhões em ganhos na carreira. 


Craig Tapscott: As variações e downswings irão afetar todos os jogadores de poker em algum momento. Você poderia, por favor, contar algumas vezes em que sofreu uma grande derrota e como se recuperou para se tornar um jogador melhor?


Tice: A primeira vez que eu tive uma downswing substancial foi há cerca de três meses, jogando $1-$2 online. Essa foi uma experiência brutal. Sou muito próximo do Joey Ingram. Liguei para ele para falar sobre isso, só porque era um sentimento muito novo. Eu percebi que alguém poderia realmente ganhar algum dinheiro decente jogando nesses limites. Ele me disse para não me preocupar muito e apenas lidar com isso, que tudo se resolveria. Eu confiei em seus conselhos de todo o coração e continuei jogando e aprendendo. Isso foi há cerca de 18 meses, mas ainda me lembro do sentimento de desespero como se fosse ontem. Claro que ainda acontecem situações de downswing, mas o valor em dólares é muito, muito diferente do que era naquela época. O poker meio que faz isso com você quando você sobe os limites, onde o que está abaixo dele chega a um ponto de ficar entorpecido, e o limite acima se torna o novo normal.


A primeira vez que passei por uma downswing de quase seis dígitos foi quando comecei a jogar limites mais altas ao vivo e online. Eu estava nas mesas de $20/$40 no Bellagio, em Las Vegas, e $25/$50 e $50/$100 no online. E essa foi a primeira vez em que eu vivi uma downswing significativa em termos de dinheiro. Senti que estava jogando melhor do que nunca na época, estudando muito e trabalhando no meu jogo. Mas às vezes o baralho tem sua própria vontade e eu simplesmente não consegui vencer um all-in nesses limites para salvar minha vida por cerca de um mês direto. Essa foi uma experiência definitivamente frustrante. Participei de alguns MTTs e segui estudando todos os dias para que eu pudesse aumentar as minhas chances de recuperação. Acabei ganhando vários eventos online e consegui recuperar esses dólares rapidamente. Eu me lembro de pensar que levaria um ano para sair do buraco em que estava. Mas continuei caminhando com um pé na frente do outro, com paciência, continuei a aprender e melhorar o meu jogo e saí de lá em 45 dias. Pouco depois de deixar daquela situação, consegui vencer o Main Event do MSPT, com buy-in de US$ 1.100, no Venetian, e ganhei um prêmio de US$ 201.000.



Shorr: Eu passei por diversos períodos na minha carreira em que eu senti que não conseguia me equilibrar e em que assisti, em estado de pânico, ao meu patrimônio líquido sumir. Uma das coisas mais importantes é sempre ter a certeza de que se está jogando dentro de seu saldo e aceitar a realidade de quanta variância está envolvida quando se participa dos MTTs. Descobri que, durante aquelas downswings do passado, tive dificuldade em separar minha identidade como pessoa dos meus resultados de poker, e muitas vezes percebi que eu estava me cobrando e me agredindo muito. Às vezes, eu me encontrava com a visão de túnel e com a mentalidade de que precisava “sair” de uma downswing. Há uma década, pratico constantemente a meditação, faço treinamentos físicos regularmente e tenho uma rotina de alimentação saudável há algum tempo. E descobri que tudo isso é muito útil para a sustentabilidade de longo prazo neste negócio difícil.



Farrell: Quando estou em um período de downswing, gosto de tentar dar um passo para trás e ter uma visão abrangente sobre o meu jogo. Quero ter certeza de que a variância negativa não está afetando a forma como eu jogo poker. É muito fácil e muito humano ser impactado por uma onda de azar, de forma que isso comece a mudar seu jogo para pior. Por exemplo, você tem menos segurança para aplicar blefes. O mesmo acontece na hora de identificar blefe, porque sempre os oponentes têm boas mãos, etc. 


O SCOOP é um bom exemplo disso. Eu tive prejuízo nos primeiros cinco anos, mas apenas sendo calmo e razoável comigo mesmo, eu consegui por vezes respirar e dizer: ‘Estes são torneios de grande valor. Sou um bom jogador e só preciso controlar o que posso controlar’. Atualmente, eu tenho dois títulos dos torneios High e tenho lucros acima da média


A história na WSOP é parecida. Perdi bastante nos primeiros anos, o que é fácil de acontecer em torneios com fields enormes. Então, entre as temporadas de 2013 e 2018, eu obtive uma sequência ótima resultados. Fiz três mesas finais, incluindo no US$ 111.111 High Roller For One Drop, que eu só joguei porque estava indo muito bem naquele verão. Em 2017, na edição europeia, eu ganhei o meu bracelete no evento de US$ 25.000 e, em seguida, cheguei à mesa final do Main Event. Me envolvi em um KK contra AA em um pote valendo a liderança com cinco ou seis jogadores no torneio. Nos últimos dois anos, estive do outro lado da variância na WSOP, mas quando você olha para trás, para as minhas temporadas vitorias naqueles outros anos, na verdade é justo que eu talvez pague retroativamente algumas dívidas.


Craig Tapscott: Entrar em tilt e deixar uma bad beat ou uma decisão ruim afetá-lo à mesa pode arruinar suas chances de ir longe ou até mesmo ganhar algum dinheiro. Quais são algumas das maneiras de lidar com as oscilações emocionais do poker?


Tice: Para começar, eu devo admitir que sou definitivamente uma pessoa extremamente emocional quando se trata de poker. Eu me importo muito com o jogo e foi por isso que desisti da faculdade e de outros empregos convencionais. Então eu consigo realmente entender o sentimento de apego e dor, quando os resultados não saem da forma que esperamos. Até hoje tenho esses sentimentos. 


Acredito que no início da minha carreira no poker (que inclui agora), ainda tenho o mesmo - senão maior - impulso para alcançar a minha melhor versão possível. Ainda adoro me dedicar por horas, passar pelos altos e baixos que o poker tem a oferecer e aproveitar ao máximo cada dia. Tenho vários amigos com sucesso no poker, que estão por aí há décadas. Eles me dizem o tempo todo que, à medida que envelheço, minha relação com o poker irá mudar de algumas maneiras, mas, para isso, é preciso estar no jogo por mais tempo e passar por dias bons e dias ruins por um longo período de tempo. Embora eu acredite que há uma vantagem em ter uma atitude sem emoção em relação a uma partida e conseguir ver o poker como um desafio de uma mão para a outra, também há um prazer pessoal que sinto por experimentar o jogo conforme ele avança a cada momento. 


Acho que o que me ajudou muito foi a capacidade de me perdoar pelos erros que cometi e perceber que o poker é um jogo longo e que nunca serei capaz de jogar perfeitamente em todas as situações possíveis. A melhor coisa que posso fazer por mim mesmo é aceitar as consequências de minhas ações, boas ou más, e seguir em frente.


Lembro-me de ter ido longe no evento de US$ 1.600 da Venetian, logo após a maior vitória da minha carreira, no qual eu tinha um enorme stack perto do estouro da bolha e fui para um blefe depois de enfrentar uma aposta. Eu acabei recebendo o call e perdi muitas fichas. Em vez de me sentir triste e chateado comigo mesmo por ter perdido o pote, fiquei feliz com o fato de ter confiado em mim mesmo e realizado uma ação que achava que me valeria uma boa quantidade de valor esperado. Às vezes, você não consegue o resultado que deseja, mas a verdadeira dor aparece se você não se arriscar quando acredita que vai conquistar um resultado positivo. 


A maneira como lido com algumas questões mais difíceis depois de uma frustração é apenas passando tempo com meus amigos, conversando sobre as mãos depois e tentando aprender o máximo que eu posso. Em seguida, me concentro na próxima oportunidade que tenho de melhorar, seja nos MTTs ou nos cash games. Passar um tempo longe do computador, após dias difíceis, é algo que tenho feito mais agora, e ter uma comunidade que realmente me apoia é simplesmente incrível. Estou muito grato por isso. 



Shorr: Se manter mentalmente forte e preparado é tudo, quando falamos em manter o foco em um jogo em que você constantemente vive decepções ou é testado. Eu descobri que respirar fundo à mesa de vez em quando é ótimo para me conectar de volta ao momento. É muito importante não se prender a mãos anteriores, pois erros podem custar muito caro, especialmente se você está jogando o NL Hold’em.


O cuidado consigo mesmo, dentro da sua vida pessoal, é algo que ajuda muito a lidar com questões de controle emocional que podem custar muito caro dentro do poker. Uma coisa que recomento fortemente é que os jogadores de poker se forcem a encarar de frente as suas emoções. Às vezes após as sessões, ao invés de tentar sempre escapar das emoções por meio do álcool, sexo ou maconha, o ideal é que você consiga assimilar e fazer um registro dos seus pensamentos. Durante qualquer dia, experimentamos uma ampla gama de emoções, então é importante saber como você está em relação a elas e o que você pode fazer de diferente para melhorar o seu jogo. 



Farrell: Na minha opinião, é super importante estar confortável com os limites que você está jogando. Se tudo está tranquilo com o seu bankroll, ter um período de sequências ruins não será o fim do mundo. Acredito que isso é algo que vem com a experiência, principalmente após você já ter conseguido sair do outro lado de uma downswing algumas vezes. Essa experiência traz uma certa tranquilidade, uma vez que você sabe que já fez isso antes e fará outras vezes. Posso tirar um tempinho de folga e sair com amigos e outras coisas, mas também voltar com fome e pronto para o jogo. Tomar decisões ruins é basicamente a única coisa que me deixa nervoso hoje em dia. É claro que eu terei um acesso de raiva de 15 minutos se tiver uma grande perda, mas após uma pequena festa de autopiedade (e algumas cervejas), já está tudo bem. Você só pode controlar o que pode controlar, então ficar abalado por muito tempo em relação a coisas que fogem do seu controle é algo inútil. Se eu perco um grande torneio em consequência de um erro, geralmente vou direto para o pub e não penso no assunto por um tempo. No dia seguinte, começo a trabalhar na minha evolução novamente, disseco a mão, repenso o jogo e busco respostas que podem me tornar um jogador melhor. Nada prepara melhor a mente para uma partida do que fazer o trabalho estratégico de ressaca.




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