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O que você não viu na Edição 47 da Card Player Brasil: a 2ª parte da entrevista com Marcos Sketch

Sketch fala sobre alguns de seus jogadores preferidos, dá dicas para quem quer levar o poker a sério e mostra que não foi escolhido técnico da seleção brasileira de poker a toa, ao fazer uma análise profunda da mão que o derrubou na bolha do WPT.


 

19/10/2011 17:55
O que você não viu na Edição 47 da Card Player Brasil: a 2ª parte da entrevista com Marcos Sketch /CardPlayer.com.br


Há cerca de cinco meses, no último mês de maio, conversei com Marcos Sketch – ele seria a capa da Edição 47 da Card Player Brasil. Infelizmente, por falta de espaço, a entrevista não foi publicada na íntegra. Eis então que ele é escolhido para comandar a seleção brasileira que irá jogar o I Campeonato Mundial de Poker. E, imediatamente, nós, os palpiteiros de plantão, começamos a especular sobre os nomes que carregarão a bandeira do Brasil até Londres. André Akkari, principal nome do poker nacional, não deve ficar de fora. Muito menos Alexandre Gomes, primeiro brasileiro campeão da WSOP e do WPT. E se os dois forem mesmo confirmados? Quem seria os outros quatro jogadores, sendo que um deles tem que ser uma mulher?
Em nossa conversa, Sketch revelou alguns jogadores por quem ele tem admiração e, com toda certeza, são selecionáveis em potenciais. Além disso, você também poderá conferir dicas para quem quer levar o poker a sério e uma análise completa de uma mão muito “sick” – como costumamos dizer no jargão do poker –, que culminou em sua eliminação na bolha do WPT Bay 101 Shooting Star. Sketch, falar sobre quem são os melhores jogadores de poker é sempre complicado e relativo. Mas se você tivesse que citar cinco tops players brasileiros, quais seriam?
1.Caio Pimenta Acho que é indiscutível. Ele é o jogador brasileiro mais respeitado mundialmente. Vários jogadores tops do mundo acham o Caio o melhor de todos. O grande diferencial dele está no seu estilo “não-ortodoxo” de jogar. Ele domina perfeitamente sua estratégia. É um cara que sabe usar o metagame do jogo como ninguém no Brasil. E não adianta você querer jogar como ele. O estilo dele é único. Apesar de ele pensar o jogo completamente diferente do que eu enxergo, ele é brilhante. Agora, inclusive, ele vem mudando bastante o jogo. Eu ainda não entendi exatamente o que ele pretende, mas vindo do Caio, a gente tem que respeitar. 2.Christian Kruel O C.K. é o tipo do cara que impõe respeito apenas por sentar-se à mesa. É um cara que tem o que a gente chama de aura. Ele é um dos caras mais profissionais que eu conheço. O quanto ele se esforça para manter-se no topo mostra isso. Ele sabe que se ele não melhorar a cada dia o jogo irá passar por ele. Alguns jogadores jogam o mesmo jogo de oito anos atrás e acham que o mundo todo é que está jogando errado e eles têm dado azar. Eu conheci o Christian porque ele me procurou para fazer coaching comigo após o WCOOP. Essa humildade em querer estar sempre aprendendo o mantém como um dos melhores do Brasil. 3.Will Arruda Muita gente não o conhece, já que ele não trabalha o marketing pessoal e nem faz questão que as pessoas saibam sobre os seus resultados. Ele, para mim, é o jogador mais técnico do Brasil disparado. Ele entende todos os fundamentos do jogo. Qualquer coisa que você perguntá-lo, ele vai te responder de imediato. É como se existisse uma “Bíblia do Poker” e ele tivesse absorvido todo o conteúdo. Boa parte do que aprendi, eu devo a ele, e o sucesso do nosso time, grande parte, se deve a ele. As palestras e as aulas do Will são fantásticas. 4.Thiago Decano É um cara completo. Um dos mais completos do Brasil. Ele domina tanto o live quanto o online. Não só porque ele tem grandes resultados. Ele tem presença, estuda o jogo, tem estrela. E quando digo estrela, não estou falando sobre sorte. Ele é o tipo da pessoa que parece ter sido predestinada ao poker. Nasceu para ser referência do esporte. 5.Yuri “theNERDguy” Martins Vou citar o Yuri, porque para mim, hoje, ele é quem vem jogando melhor no Brasil. Ele joga exatamente como o Will e eu o ensinamos, e é engraçado que nós mesmos, não. Ele tem uma disciplina incrível. Se a gente falar com ele para ele abrir raise do botão “X vezes”, quando vamos analisar pelo Poker Tracker, estará lá esse número “X” de raises do botão. Ele tem jogado o “A-Game”. Se você pudesse dar cinco conselhos aos jogadores que estão começando agora e que gostariam de levar o poker a sério, quais seriam?
1.Não ache que será fácil A variância em torneio micros é imensa. Então, muitas vezes você vai jogar certo e vai perder, assim como você poderá jogar errado e bater um $3+R, por exemplo, e ganhar $5.000. Ou seja, o jogador não deve ser orientado pelo resultado. Apesar de que isso é da natureza do ser humano. Por exemplo, por que você não bate com a cabeça na parede? Porque alguma vez você bateu e doeu. Mas quem garante que não foi algo aleatório que fez sua cabeça doer? Se doeu uma vez, quer dizer vai doer de novo? Depende. É claro que você não deve sair batendo com sua cabeça na parede por aí, mas no poker, o que acontece é isso. Se as jogadas erradas dão certo no curto prazo, o jogador tende a começar a repeti-las, mesmo que sejam ruins. E nos torneios micros, essas jogadas são bem difíceis de identificar. 2.Faça volume Comece com uma tela, depois duas, depois quatro. Vá aumentando gradativamente. Quando você menos esperar estará jogando 12 telas. Essa é a única forma de o jogador sobrepor a variância. Você tem de pensar que se você jogar 16 torneios por dia, o longo prazo virá 16 vezes mais rápido do que um cara que joga apenas um. 3.Estude cash-games Eu gostaria de ter estudado materiais de cash-game mais cedo. Só com o cash-game você irá melhorar seu jogo pós-flop. No cash, você estará jogando deep o tempo todo e, consequentemente, o jogo irá para o pós-flop. Em torneios, nas fases cruciais, você geralmente trabalhará com 20 ou 30 big blinds. Isso não significa que você deva jogar cash-games, mas estude. Se você estudar, terá uma grande vantagem contra a maioria dos jogadores de torneio. 4.Suba de nível o mais rápido possível Tem muitos jogadores de micro que tem jogo pra bater os low-stakes, mas a variância não deixa. Se você tiver condições de já entrar diretamente em níveis intermediários, faça isso. Já que você enfrentará fields menores e os resultados virão mais rapidamente. 5.Use todas as ferramentas ao seu dispor (Poker Tracker, Hold’em Manager, etc.) O cara que você está jogando contra estará usando, então use também. Aí você vai falar: “pow, mas o Caio Pimenta não usa”. Tá, mas o Romário também não treinava. Os caras são diferenciados. Isso não quer dizer que você também vá ser. Tudo bem você também poder ser, mas a tendência é que você realmente não seja. Você poderia contar e analisar como foi a mão que te derrubou na bolha do WPT em março? Estávamos na bolha do torneio, e eu vinha jogando bem sólido – sólido não significa tight, mas eu não estava fazendo loucuras, inventando muito. Eu tinha acabado de ser mudado de mesa, e estava com uma imagem muito boa na anterior. Ninguém sabia quem eu era, se eu era jogador online ou não. E eu estava dizendo para todo mundo que eu passava férias nos EUA, e que meu sonho sempre foi jogar um WPT – o que não era mentira. Eu tinha ido jogar o NAPT, e estava de férias em New York, que não tinha nada a ver com a Califórnia (onde estava ocorrendo o WPT). Só que eu tinha uns dias a mais em NY, e já tinha feito tudo que eu tinha pra fazer por lá. Então, vi que teria o WPT. Resolvi tudo em cima da hora e fui jogar. E era essa a história que eu contava. Eu estava jogando bem, e percebi que as pessoas evitavam se envolver comigo. Meu stack era confortável, então eu “machucava” todo mundo. A partir do momento que restavam apenas 55 jogadores, o torneio foi muito tranquilo, e eu fui ganhando confiança. Faltando 48 ou 47 jogadores, me mudaram de mesa. Fui para uma mesa que estavam Kathy Liebert, Dan “KingDan” Smith, jogadores recreativos e um garoto mais jovem. E eu havia escutado esse garoto contando que jogava cash-game ao vivo e em stakes mais baratos. De forma que eu fiz as contas e pensei: “pow, esse cara não tem bankroll pra dar um buy de US$10.000. Ele então entrou por satélite ou está jogando cavalado”. A primeira faixa de premiação era US$15.000, e o campeão levaria mais de US$1 milhão. Eu coloquei na minha cabeça que era a hora de colocar pressão. Então, passei a dar mais raises e mais re-raises. E conversando com a Kate, que gosta muito de bater papo na mesa, eu contei que estava muito feliz de chegar até ali e que não queria ser o bolha – achando que aquilo me ajudaria a pressionar a mesa naquele momento. Eu tinha 70 blinds e, provavelmente, estava entre os 10 primeiros do torneio. Veio então a mão fatídica. Com os blinds em 2.000/4.000-500, eu abri raise para 8.000 do botão, segurando A5. O garoto fez tudo 18.000 do big blind. E nós dois tínhamos cerca de 280 mil fichas. Análise: O pote tinha 30 mil, então eu teria que colocar mais 10 em um pote de 30. Odds (3-1) mais que necessárias para eu dar o call. Geralmente, você terá 2.5 ou 2-1. Eu tinha uma mão que não flopava muito bem, mas eu achava que poderia fazer pressão em cima dele, tendo posição, se ele não acertasse nada. Se ele tivesse A-X, ele jogaria a mão de forma transparente. Ele daria uma continuation bet (c-bet) e iria para o check/fold no turn. Se ele tivesse um par baixo e virasse uma carta mais alta, ele me daria informações suficientes sobre a sua mão e, em posição, eu conseguiria jogar essa mão lucrativamente na bolha. Soma-se a isso a possibilidade de que ele também poderia estar aplicando uma 3bet light, já que eu estava bem ativo naquele momento. Mas, pensando melhor agora, eu acho que ele não estaria light. Caso contrário, o tamanho da aposta seria algo como 24.000, já que ele nunca estimula um call fora de posição estando com uma mão fraca. Hoje, eu acho que a melhor linha seria dar 4bet. Já que se ele tivesse algo como 10-10, A-Q, que estivesse dando 3-bet para matar a ação, ele, provavelmente, não iria me 5-betar, sabendo que eu provavelmente vou dar call no 5-bet, era muita pressão em cima dele. Essa, acho, seria a melhor linha, já que eu também evito me envolver em um pote grande. Eu ia fazer algo como 35 ou 38k, e ele teria que arriscar boa parte do stack para saber se eu estava light ou não. E ele não poderia só dar call e jogar fora de posição um grande pote. FLOP: 3 4 8 Análise: Ele fez uma c-bet. Alguns dos meus planos iniciais eram dar raise em cima da aposta dele, dependendo do tamanho. A c-bet foi normal, algo como 50 ou 55% do pote. Eu tinha a broca, o backdoor flush draw e um Ás, mas se ele tivesse algo como um A-X melhor que o meu, e não acertasse nada no turn, ele daria check, então eu acho que eu conseguiria expulsá-lo da mão. Porque o tamanho da minha aposta faria com que ele tivesse que comprometer seu stack inteiro – uma situação parecida com o 4-bet pré-flop. Então, a situação era a seguinte: eu tinha quatro cartas que me salvavam no turn, seis cartas que me deixariam para duas pontas, três cartas que me dariam um par (ou Ás ou 5), se contarmos o 5 contra um A-K, por exemplo, e nove cartas que me deixariam no flush draw, que iria me fazer jogar lucrativamente no turn – dando call ou o check behind (pedir mesa depois que o oponente também dá mesa), simulando um pocket pair. E caso ele desse check no river, eu apostaria e poderia levar mão. Isso quer dizer que metade do baralho poderia me ajudar no turn, então é uma situação muito boa para fazer o float. Levando em conta que ele tem A-X mais da metade das vezes (se colocarmos que no range do vilão a combinação de cartas A-Q e A-K é maior que A-A, K-K, Q-Q, J-J), e que ele sempre vai apostar nesse flop com A-X ou com pares de mão maiores, acredito que o call no flop é indiscutível – já que acredito que ele vai dar check no turn mais da metade das vezes, e eu vou apostar e puxar o pote. Por esses motivos, opto pelo call. Turn: 7 Análise: Aí que veio o grande elemento da mão. Ele apostou de novo o turn (1/3 do pote). Eu lembro que olhei, e vi que ele tinha deixado 100.000 fichas pra trás (25 big blinds). Eu achei que ele poderia largar algo como J-J ou Q-Q, já que são mão com o mesmo valor que par de Reis ou par de Ases – a não ser que ele me dê A-A (eu jogaria o A-A da mesma maneira). Mas é muito mais difícil alguém largar A-A ou K-K do que largar Q-Q ou J-J, mesmo que naquele momento as mãos tenham o mesmo valor. Minha linha representava trincas, A-A e flush draw. Eu sei que ele não está apostando de novo o A-X. Então, o range fica restrito a J-J, Q-Q, K-K ou AA, mas eu pensei que ele não teria coragem para dar o call. Então, se eu acho que ele vai dar fold com J-J ou Q-Q, o meu all-in é muito bom. Mas vamos pensar que ele não dê fold. Colocando em números, vamos supor que ele pague 75% das vezes e desista nas outras 25%. Então, é melhor eu dar só o call, porque eu tenho uma equidade muito boa contra J-J e Q-Q (18 outs) e quase não tenho fold equitiy (chances do adversário foldar). E se eu não acertasse nem minha sequência nem o meu flush, eu daria fold, ficaria com 25 big blinds na bolha e, na pior das hipóteses, levaria pelo menos US$15 mil. Então, eu empurrei. Ele olhou para as fichas, olhou para mim e pagou instantaneamente com J-J. Meu erro foi achar que ele poderia ser pressionado no range que eu o coloquei, já que ele nem cogitou em dar fold. Ou, então, ele era muito melhor jogador do que eu pensava, e já estaria com meu range todo na cabeça – que ele leu tendo muito mais blefe do que valor. Ou, ainda, ele simplesmente se sentiu comprometido por ter mais da metade do seu stack no pote. O river foi um 10, e “GG”. Qual foi seu balanço do torneio? Foi muito doloroso cair na bolha, porque eu estava muito bem. Era um torneio milionário, e três horas depois só restavam 27 jogadores. Ou seja, eu poderia estar lá, mas, ao mesmo tempo, me deu uma confiança muito grande. Porque vi que posso bater fields como esses, mesmo jogando com jogadores extremamente talentosos. Por exemplo, joguei com o Steve “gboro” Gross, David “Doc” Sands, Todd Brunson, Dan Smith, Lauren “locoencabeza” Kling e Chris DeMaci (vice-campeão do NAPT de Los Angeles). E houve dois caras que me impressionaram muito. Um deles foi Yevgeniy “Jovial Gent” Timoshenko (esquerda)– campeão do Main Event do WCOOP em 2009. Ele ficou mais de duas horas sem jogar nenhuma mão. Só que ele não estava simplesmente dando fold e mexendo no celular. Ele estava prestando atenção na mesa o tempo todo. Acho que faz parte da estratégia dele, jogar apenas quando entram os antes. Mas o que realmente me impressionou foi o quão concentrado ele joga. Sem jogar uma mão, ele não estava entediado, mas atento a tudo. É um cara que tem presença muito forte, assim como o John Juanda (direita), que tem uma aura incrível. Caras como eles, impõe respeito apenas sentando-se à mesa.


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