GERAL

Profissionais contam como “entram na mente” dos seus oponentes

Mark Herm, Michael Lech e Jeff Madsen falaram com exclusividade à Card Player


 

15/07/2021 20:36
Profissionais contam como “entram na mente” dos seus oponentes /CardPlayer.com.br
Mark Herm, Michael Lech e Jeff Madsen são profissionais lucrativos há muitos anos


O jogo mental é um dos aspectos mais conhecidos e importantes do poker. Mesmo com todo o conhecimento estratégico ou uma vasta experiência, um jogador de alto nível pode se complicar muito, caso não tenha equilíbrio psicológico ou carregue as inconstâncias emocionais da vida para a mesa.


Em conversa com o jornalista Craig Tapscott, da Card Player, os profissionais Mark Herm, Michael Lech e Jeff Madsen contaram como entram na mente de seus adversários e como atividades do dia a dia, como meditação, exercícios ou alimentação, até o esforço para viver experiências positivas – mesmo que em situações negativas –, nos feltros, é um grande diferencial competitivo.


Craig Tapscott: Me conte algumas maneiras de entrar na cabeça de um oponente e causar estragos durante uma sessão.


Herm: Eu não diria que me esforço para entrar na cabeça de um jogador, mas normalmente acontece porque eu jogo como um lunático. A maioria das pessoas não está disposta a sair da linha, arriscando vários 3-bet lights ou dando 4-bets, especialmente contra os profissionais. 


Minha regra geral para os torneios é ir atrás de quem possui muita ficha, tenham eles ou não mais do que eu. Donos de stacks enormes geralmente acreditam nos jogadores que estão perseguindo eles, principalmente quando você tem menos fichas, porque a maioria das pessoas está com muito medo de agir assim. 



Lech: Eu sempre tento obter uma compreensão de toda a dinâmica da mesa na primeira ou segunda órbita. Nunca estou ouvindo música ou mexendo no meu telefone. Tento envolver ativamente qualquer pessoa que esteja falando à mesa e sentir como ela aborda o jogo.


Normalmente, se eu falar com alguém nessas primeiras mãos, isso define o nível de conforto e até mesmo encoraja mais pessoas que não estão acostumadas a provocações à mesa. Quanto a ‘entrar na mente’, tento ser tagarela e fazer as pessoas se sentirem confortáveis. Posso fazer amizade com você enquanto tento destruí-lo no jogo. E estou sempre esperando o momento certo para deixar o tigre agressivo sair da jaula e ficar solto por uma ou duas órbitas.


É um jogo tão divertido. Atrai tantas profissões aleatórias e personagens interessantes, na maioria das vezes você só precisa se envolver e desvendá-los. As pessoas gostam de conversar e se abrem mais quando estão aproveitando a experiência. É incrível conhecer algumas pessoas, mesmo que seja neste campo de batalha. Gosto de tomar algumas cervejas sempre que posso, o que tende a aliviar o clima. Estou simplesmente tentando diminuir a barreira de intensidade e quebrá-la.



Madsen: A chave é saber quais informações meu oponente está me dando para me ajudar a entrar em sua cabeça. Uma variedade de coisas pode oferecer uma visão sobre o que pode ser o monólogo interno de meu adversário. Depois de entender um jogador, posso começar a descobrir como estar dois passos à frente dele. Tento manipular o vilão com base em como eu percebo seus padrões de pensamento.


Isso se manifesta no processamento de informações diretas, como as mãos que um oponente revela no showdown, que é a pepita de ouro sobre o alcance de seus adversários e como eles jogam suas mãos de valor ou blefes. As informações obtidas em confrontos e informações gerais sobre o tamanho e os padrões de aposta de um adversário se combinam para me dar uma visão legítima sobre o que eles podem estar pensando e que tipo de jogador eles são. Claro, esse tipo de informação deve ser processado por você. Quanto mais você estudar teoria e estratégia de poker, mais rápido virão os conhecimentos.


E há também algumas informações menos tangíveis que me ajudarão a entrar na cabeça do meu oponente e "causar estragos". Principalmente, leituras que acontecem no jogo ao vivo, sejam sinais de tempo ou corporais que um oponente emite. Essas coisas costumam ser uma visão genuína do estado emocional e dos padrões de pensamento.


Outros "intangíveis" incluem respostas instintivas ao fluxo do jogo da sessão ou à energia da mesa. Considere o termo "energia" como a forma que percebemos e sentimos os estados emocionais de nosso oponente, seja por meio da observação lógica de informações ou de outra forma. Eu acredito que quanto mais você joga, mais você fortalece uma espécie de 'sexto sentido' do poker que é realmente o seu cérebro processando e comparando dados.



Craig Tapscott: Por favor, compartilhe como você ativa os truques mentais Jedi para proteger sua própria concentração e impedir que um oponente afete seu estado mental. Você tem um ritual de preparação antes de se sentar para jogar que possa ajudar nesse sentido?


Herm: Eu tinha literalmente uma rotina de preparação de 2 a 3 horas que fazia antes de jogar online todos os domingos. Começava com uma ducha ou banho frio, depois ioga e uma série de meditações, afirmações, visualizações e respiração, algumas das quais ocorriam durante uma caminhada pela natureza. Também fiz uma sessão de hipnoterapia de 15 minutos antes do jogo com o psicólogo esportivo Elliot Roe. Parece um pouco exagerado, mas levei tudo isso muito a sério. Eu até tomava cuidado para não comer comida ruim nas noites de sábado. Toda essa preparação combinada faz uma grande diferença.


Para ser honesto, nunca sofri com outros jogadores entrando na minha cabeça, pelo menos não nos últimos anos. Mas permanecer centrado e positivo é extremamente importante. Eu simplesmente não permito que pensamentos negativos entrem na minha cabeça se eu tiver azar ou perder uma oportunidade ou algo semelhante. Em vez disso, tento me convencer de que aquela situação adversa precisava acontecer para que eu ganhasse o torneio. E então eu me imagino tendo mais fichas a cada intervalo.


Isso tudo soa um tanto fanático, e não posso dizer que acredito 100% que tudo funciona exatamente assim. Definitivamente acho que ajuda, contanto que você não deixe superstições irracionais influenciarem negativamente qualquer decisão de jogo. Simplesmente não há espaço para negatividade se você quiser estar no nível de um jogador de elite.



Lech: É fácil encontrar pessoas que te irritam ou te fazem perder o foco rapidamente. É outro aspecto do jogo que você deve apreciar. Tento apenas lidar com isso com gentileza, mesmo estando possivelmente incomodado por dentro.


Em geral, noto que as pessoas tendem a ficar com o ego inflado quando as coisas estão indo da forma que elas gostariam e então você só precisa ter uma pausa rápida para se lembrar que tudo faz parte de um equilíbrio, que virá com muitos fluxos e refluxos. E posso até agir como se isso nunca me afetasse, mas qualquer pessoa que disser isso estaria mentindo. Então é apenas tentar passar pelos pontos baixos do jogo, quando as coisas não estão indo bem.


Minha preparação passa por um curto período de completa solidão mental antes de entrar em qualquer jogo. Tento me desligar de todas as distrações e meditar rapidamente por cerca de cinco minutos antes de qualquer evento ao vivo. Isso me rejuvenesce. Posso então entrar descansado e pronto para qualquer guerra mental. Mas a coisa mais importante que eu faço é sempre encontrar uma maneira de me divertir enquanto jogo. Eu respeito os outros e percebo que estamos todos compartilhando nosso tempo juntos. Essa abordagem contribui de forma consistente para uma melhor experiência nas mesas.



Madsen: Eu não chamaria isso de “Truque Mental Jedi”, uma vez  que "Jedi" implica que apenas um grupo exclusivo de pessoas pode ter um alto nível de concentração na mesa. É importante lembrarmos que qualquer pessoa, mesmo um amador, pode entrar em uma sessão de poker e se proteger com seu foco. Eles podem até estar completamente alheios às nuances de uma boa estratégia de poker, mas isso não significa que eles não possam se concentrar e aproveitar a experiência. Eles podem até perder, mas talvez se mantendo totalmente focados o tempo todo, aprender com seus erros.


Esse tipo de foco vem da atenção plena, que anda de mãos dadas com o não julgamento exagerado da experiência na mesa conforme as mãos vão sendo jogadas. Julgar excessivamente implica pensar demais, que é um hábito que nos afasta de nosso foco. Quando estou à mesa, tento ser o mais fundamentado e focado possível. Mas se estou um pouco fora desse dia, simplesmente tento não julgar a experiência e continuo a tentar dar o meu melhor e retomar o foco. Eu valorizo os benefícios da meditação, respiração, alimentação saudável e eliminação de distrações.


Algumas coisas de bom senso que faço para ajudar a manter os oponentes fora da minha cabeça na mesa são para me manter atento. E eu fico atento para mascarar meus próprios sinais, se necessário, ou experimentar também os reversos, se eles se mostrarem valiosos contra um oponente em particular. Posso, em um determinado dia, tentar tirar cinco segundos para cada decisão de uma forma simplificada e me carregar mais roboticamente na mão. Em outros dias, posso ter uma mesa onde posso me safar com comportamentos ou timing diferentes.


Uma boa alternativa é fornecer o mínimo de informações possível. Depois de melhorar esse aspecto, é possível começar a trabalhar as falas reversas ou manipular seu oponente mais ativamente com maneirismos, etc.




Já conhece o app Suprema Poker?
Baixe agora para iOS, Android ou PC e comece a jogar agora mesmo!

 



+GERAL

A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123