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Profissionais contam como a pandemia impactou suas rotinas

Tony Dunst, Igor Kurganov e Brian Altman também compartilham suas experiências e explicaram como adaptar o seu corpo para uma longa e saudável vida no jogo


 

16/06/2021 19:01
Profissionais contam como a pandemia impactou suas rotinas/CardPlayer.com.br
Tony Dunst, Igor Kurganov e Brian Altman são três craques dos MTTs ao vivo


O poker é um jogo extremamente estratégico, que exige não só uma enorme capacidade estratégica e de leitura de diversas situações, como um absoluto controle emocional. Durante horas. E, como em qualquer atividade com tamanho grau de complexidade, para se alcançar a excelência é preciso não só talento e inteligência, mas resiliência, força de vontade e muita disciplina.


E se você é um jogador que costuma participar de torneios ao vivo, sabe que o circuito torna ainda mais difícil conseguir manter uma rotina ou hábitos que reflitam positivamente no seu jogo. Em entrevista ao jornalista Craig Trapscott, da Card Player, os profissionais Tony Dunst – bicampeão da WSOP -, Igor Kurganov – russo com mais ganhos nos MTTs ao vivo -,e Brian Altman – primeiro jogador a vencer o mesmo Main Event do WPT duas vezes - falaram sobre as principais adversidades do circuito de torneios ao vivo e como é difícil manter o relógio biológico minimamente balanceado entre as constantes mudanças de fuso horário.


Craig Tapscott: Me fale alguns dos principais desafios que você já enfrentou no passado ao viajar pelo mundo (pré-COVID) jogando o circuito de poker?


Tony Dunst: Vou começar com algo simples, que é o fuso horário. Acho muito difícil ter paciência durante mais de 12 horas de um jogo ao vivo se eu não estiver descansado e, quanto mais velho fico, mais difícil fica a missão de ajustar rapidamente meu relógio interno. Até viajar da costa oeste para um torneio na costa leste dos EUA é complicado, porque de repente os eventos começam em um horário que o meu relógio interno está acostumado a dormir. 


Naturalmente, isso fica ainda mais evidente quando falamos sobre viagens que atravessam oceanos e você precisa se adaptar rápido a mudança de várias horas. Acho que levo cerca de uma semana para me ajustar totalmente a uma mudança dessa magnitude e, nos primeiros dias, geralmente mal consigo dormir e muitas vezes isso impacta até o meu estômago. Se eu puder chegar à cidade do evento mais cedo, eu vou, mas essa é uma opção que nem sempre existe, uma vez que é bem comum haver dois grandes eventos em um intervalo de dois ou três dias e em locais de fuso diferente. 


Outro grande desafio, para mim, é lidar com o sistema bancário tradicional, que felizmente tem se tornando obsoleto aos poucos. Existe tanto a dificuldade de descobrir como e para onde você enviará o dinheiro, além do desafio de lidar com o seu próprio banco para enviar ou sacar grandes quantias. É bem comum ver transferências serem recusadas ou devolvidas devido a alguma pequena discrepância em um formulário, o que pode deixar seus fundos no limbo por dias. Já estive em lugares onde o governo local não permite que você saia do país com dinheiro local e os conversores não têm dinheiro disponível para trocar (e não estou falando de um valor alto aqui). 


Assim que as coisas forem reabertas, estou ansioso para poder viajar pelo circuito sem carregar dinheiro ou depender das transferências eletrônicas, com a capacidade de angariar fundos, em qualquer cassino ou mesa, por meio das criptomoedas.



Igor Kurganov: Eu sou muito grato por todas as oportunidades que o poker me trouxe e costumo evitar reclamar de quaisquer desafios que experimentei. A vida tem sido muito boa para mim. Mas dito isso, uma coisa com a qual tenho lutado às vezes é com a dificuldade de estabelecer uma rotina, dada a frequência com que estou viajando. Principalmente uma vez que, sendo um jogador de torneio, é impossível tentar prever o número de horas que vou trabalhar em um dia, o que vou comer e quando e assim por diante. É difícil estabelecer bons hábitos, a menos que você possa torná-los, de fato, hábitos. As coisas simplesmente não funcionam quando não fazem parte de uma rotina. Geralmente, eu tenho um pouco mais de controle sobre minhas manhãs do que outras partes do dia, mas isso é só um primeiro passo. 


Outra coisa um pouco complicada é que o jogador de poker profissional é o administrador de um negócio de uma pessoa só. As tarefas logísticas, administrativas e contábeis ocupam uma boa parte do tempo, além do controle dos gastos à mesa. Na prática, isso significa que eu tive que fazer uma triagem de prioridades e, na maior parte do tempo, é bem difícil chegar aos itens da minha lista de "importantes, mas não urgentes".



Brian Altman: Viajar de cidade em cidade, em todo o mundo, jogando poker, causa danos ao corpo e, para mim, um dos maiores desafios tem sido manter uma rotina saudável durante uma viagem. 


Há vários anos, eu comecei a priorizar o sono. Na minha juventude, eu ficava acordado até tarde e não saía de um bom jogo de poker. Sempre adotei uma abordagem de longo prazo para o jogo, então essas maratonas noturnas não são algo que considero sustentável. Agora estou muito mais disciplinado em manter uma programação regular de sono, porém nem sempre faço isso quando estou na estrada. Outra coisa que incorporo à minha rotina nas viagens é o treinamento físico de peso e resistência. Hoje é muito fácil ter acesso a uma academia, mas mesmo que não tenha, faço exercícios de peso corporal, como flexões. Vejo que mesmo um breve treino pela manhã já é capaz de ditar o ritmo do resto do dia. 


Outra coisa muito importante para mim é manter uma alimentação saudável. Muitos dos destinos na minha programação são lugares que já visitei, então já estou familiarizado com as opções de restaurantes.


Eu sou uma criatura de hábitos e tenho a tendência de comer a mesma comida nos mesmos lugares. Se eu conseguir agilizar a decisão sobre o que vou comer, posso focar minhas energias nas decisões mais importantes na mesa de poker. Em última análise, quando você cuida do seu corpo, isso se traduz em pensar com mais clareza na mesa, o que se traduz em uma melhor tomada de decisão. Os jogadores de poker podem não ser vistos da mesma forma que os atletas profissionais, mas certamente podemos aprender e imitar as medidas que eles tomam para se preparar para a competição.



Craig Tapscott: O ano passado foi muito desafiador devido à pandemia, com isolamento e lockdown. Você pode compartilhar alguns desafios ao longo do período e, talvez, alguma experiência ou relacionamento que se desenvolveu ao longo do ano passado por causa dessa mudança, algo que agregou valor à sua vida e talvez ao seu jogo?


Tony Dunst: Minha maneira de lidar com as viagens ou o jogo ao vivo durante a pandemia foi esperar até que eu estivesse totalmente vacinado. Eu tomei minha segunda dose no início de abril, então estava animado para viajar para Fort Lauderdale para um evento do World Poker Tour, no Seminole Hard Rock, que foi incrível. Também tive a sorte de viver em Las Vegas, o que me deu acesso ao poker online legal e regulamentado aqui nos EUA, então jogar nesses sites consumiu muito da minha atenção durante o período de quarentena. 


Eu já era apaixonado por estudar o poker antes e o isolamento forçado daquele período apenas fortaleceu minha decisão de refinar meu jogo. Eu não diria que nenhum relacionamento "se desenvolveu" no ano passado, mas alguém com quem passei muito tempo conversando e estudando foi Andrew "Luckychewy" Lichtenberger, que, sem dúvida, foi a pessoa mais influente em meu progresso como jogador nos últimos 15 anos. Neste ponto, considero Chewy um amigo e mentor, não um inimigo. Em primeiro lugar, porque eu realmente acho que ele é o melhor (dentro do nosso universo de jogadores regulares) e você não pode ser o melhor até superar o melhor. Ele tem obtido bons resultados há mais de uma década, mas acho que ele realmente vai estourar nos próximos anos, e adoro ver o sucesso que sua ética de trabalho está trazendo para ele.



Igor Kurganov: Para ser honesto, a covid-19 não mudou radicalmente minha relação com o poker profissionalmente, ao menos no início, principalmente porque eu já havia reduzido bastante a minha frequência de viagens antes de pandemia chegar. Acho que a quantidade de tempo que as pessoas foram forçadas a ficar em casa aumentou o interesse em jogos online, com muitas partidas adicionados em março e abril do ano passado, então foi mais fácil do que o normal jogar muitas partidas. 


Até certo ponto, porém, acho que a covid-19 e a escala das dificuldades que ela desencadeou me levaram a dar um passo para trás e ver se eu sentia que estava usando meu tempo da melhor maneira possível, como jogador. Isso remete à lista “importante, mas não urgente” que mencionei anteriormente. A perspectiva que a covid-19 trouxe tornou mais fácil ver que havia coisas nessa lista que importavam mais para mim, coisas que eu não estava fazendo com a frequência que gostaria. 


Já vinha aumentando gradualmente a quantidade de tempo que passo trabalhando no REG (instituição de caridade de Kurganov) e na filantropia efetiva, mas durante a pandemia a questão para mim se tornou "por que não estou gastando todo o meu tempo com isso?". E não tive uma boa resposta. Então, comecei a ver que depois de 10 anos, o momento certo para parar de jogar poker era agora.



Brian Altman: Antes da primeira onda de restrições em março do ano passado, eu estava frequentemente na costa oeste dos EUA jogando alguns torneios. Eu tinha chegado a Las Vegas algumas semanas antes da minha mesa final do World Poker Tour para jogar outros torneios. Conforme as coisas começaram a se desenrolar, os eventos foram cancelados e eu percebi que poderia ficar em Las Vegas por muito mais tempo do que o esperado. Felizmente, eu estava em acomodações confortáveis e tinha tudo o que precisava. O que seriam três semanas se transformou em uma estadia de cinco meses. 


Durante este período, passei a jogar online. Até tenho muita experiência na área, pois foi assim que comecei a me envolver com o poker, mas na última década, a maior parte do meu jogo foi em competições ao vivo. O cenário online é muito diferente agora do que era antes da Black Friday, por exemplo. Há ferramentas de treinamento e recursos de estudo com abundância e os jogadores online são, muitas vezes, mais estudados e mais técnicos do que os jogadores de torneios ao vivo. Com isso, as falhas no nosso jogo são expostas muito mais rápido. Aproveitei esse tempo como uma oportunidade para me aprimorar como jogador, jogando e estudando. 


Mesmo sendo uma pessoa muito independente, o isolamento durante este tempo foi bastante desafiador para mim. No entanto, o contato regular com amigos e familiares, via Facetime e Zoom, ajudou a facilitar essa experiência. Ouvir podcasts, fazer caminhadas diárias e ter uma programação de poker online consistente deu alguma estrutura aos meus dias e me ajudou a me sentir produtivo. 


Eu aprecio mais o poker ao vivo depois de uma pausa de um ano e estou ansioso para jogar mais em breve. E à medida que mais estados inevitavelmente adotam o poker online regulamentado, tenho esperança de encontrar um bom equilíbrio entre as duas formas de disputa. 



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