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Do Fundo do Baú: Ele deveria ter foldado o K-K pré-flop

por Phil Hellmuth


 

24/01/2022 12:30
Do Fundo do Baú: Ele deveria ter foldado o K-K pré-flop/CardPlayer.com.br


O poker é um esporte que está em constante evolução. Axiomas não existem, conceitos são criados, paradigmas são quebrados. No entanto, como em qualquer outra área, conhecer o passado é fundamental para planejar o futuro. No “Fundo do Baú”, você poderá mensurar um pouco dessa evolução e entender como o pensamento sobre o jogo mudou ao longo dos anos. O que ainda pode ser aplicado no poker moderno? O que está ultrapassado? Tire suas conclusões lendo essas relíquias da Card Player Brasil.

Hoje, trazemos uma relíquia escrita por ninguém menos que o recordista de braceletes Phil Hellmuth.


Nesses dias, a ESPN tem transmitido um programa no qual eu tentei ganhar o 12º bracelete em uma mesa final do World Series of Poker. Enquanto eu assistia ao divertido programa, algumas coisas me vieram à mente. Primeiro, eu deveria ter desistido da mão que me quebrou. Segundo, algumas coisas sutis aconteceram em uma mão espetacular que se seguiu, e elas poderiam ter mudado o rumo do torneio.

Com blinds de $15.000-$30.000 e um ante de $4.000, Brett Richey apostou $80.000 no começo da mesa. Beth Shak então anunciou: “Eu aumento”, e fez a contagem de $80.000 e colocou no pote. Depois, ela esperou cerca de 10 segundos e disse: “All-in”, empurrando o restante de suas fichas.

Eu imediatamente anunciei, menos de um quarto de segundo depois do raise dela: “All-in!” Eu tinha mais ou menos $130.000.

Alguns segundos depois de eu ter pulado da minha cadeira anunciando o all-in, Shak literalmente começou a dançar de alegria. Enquanto dançava, ela chegou a dizer a seu marido, nas arquibancadas: “Eu ganhei!”

A ação voltou para Richey, que hesitou durante cerca de 25 segundos antes de pagar os $350.000 (todas as fichas dele). Shak mostrou A-A, eu mostrei A-A, e Richey mostrou K-K. Eu nunca tinha visto A-A, A-A e K-K serem mostrados em uma mesma partida. Shak e eu dividimos o pote, e Richey foi eliminado.



Minha premissa aqui é que Richey deveria ter “foldado” seu par de reis antes do flop. Eu acredito que havia muitas razões para justificar que Richey deveria ter desistido, mas eu entendo perfeitamente que fazer isso com K-K, antes do flop, é uma coisa muito difícil. Assim, vamos analisar com mais cuidado a ação nessa mão. Primeiramente, Shak estava jogando como uma metralhadora, muitas vezes voltando all-in depois que alguém tinha aumentado e outro jogador dado reraise, com A-Q, 7-7 e 10-10. Isso justifica o pagamento de Richey com K-K, e eu tenho certeza de que ele já tinha se decido a pagar no minuto em que ela anunciou o raise. Ainda assim, em todos os casos em que Shak tinha ido de all-in (com A-Q, 7-7 e 10-10), ela tinha empurrado todas as fichas dela de uma vez só. Dessa vez, ela colocou primeiro o call, e então, depois de 10 segundos, foi de all-in. Essa foi a pista nº 1 e, por si só, bastava para Richey desistir de K-K.

A pista nº 2 foi ainda mais óbvia. Eu voltei all-in imediatamente, fazendo um terceiro aumento, depois de ter jogado um poker extremamente paciente até ali. Todos podiam presumir que eu tinha A-A — ou K-K, na pior das hipóteses. Além disso, deixei claro para todos que tinha A-A, por causa da velocidade de meu all-in e do “instant-call” (eu empurrei as fichas tão rápido que elas caíram), pelo qual eu sou famoso quando estou com o nuts. De fato, eu estava mandando uma mensagem de força, pois não queria que Richey pagasse. Ele já tinha apostado 80.000 e Shak tinha ido de all-in, então eu poderia levar apenas mais $50.000 se Richey pagasse, mas correria o risco de perder o pote inteiro. Minhas ações, e o fato de eu ter feito o terceiro aumento do pote, deveriam ter informado a Richey que eu tinha A-A.

A terceira e quarta pistas são relacionadas a Shak. A terceira foi a dancinha dela — que comemorava a alegria pela possibilidade de me derrotar e indicava a excitação de alguém que está prestes a ganhar um pote enorme. Não havia medo nenhum nela: Alguém que segurasse K-K teria mostrado certa apreensão! Mas a pista mais direta foi a quarta, quando Shak disse a seu marido: “Eu ganhei”. O marido dela inclusive disse à torcida que ela tinha A-A.

Uma teoria alternativa é a seguinte: Se Richey sabia que eu tinha A-A, talvez devesse mesmo jogar, pois eu tinha apostado apenas $50.000 a mais do que a aposta inicial dele de $80.000, e, conhecendo minha mão, ele podia presumir que Shak não tinha A-A (e era com ela que ele deveria se preocupar a essa altura, não com meus míseros $50.000). Essa teoria para o pagamento não soaria tão mal, se não fossem todas as pistas. Se Richey tivesse prestado mais atenção, tenho certeza de que ele teria percebido essas três pistas nada sutis: Shak indo de all-in de uma maneira pouco convencional (pista nº 1); Shak dançando de alegria, sem demonstrar medo algum (pista nº 3); e Shak dizendo — bem alto — “Eu ganhei”, em razão de seu grande entusiasmo. Se existiu uma ocasião perfeita para se desistir de um par de reis, foi essa.

Artigo publicado na edição n° 3 da Card Player Brasil, em outubro de 2007.

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