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Vanessa Kade: 1,5 milhão de dólares e o ativismo contra Dan Bilzerian

Canadense, que venceu o Sunday Million de Aniversário, afirma que bilionário ‘incorpora cada um dos traços negativos’ que prejudicam o poker


 

09/07/2021 22:39
Vanessa Kade: 1,5 milhão de dólares e o ativismo contra Dan Bilzerian/CardPlayer.com.br
Vanessa Kade se tornou a primeira mulher a vencer o SM de Aniversário


Em apenas uma semana, Vanessa Kade conseguiu alcançar dois grandes sonhos de sua vida profissional. A canadense bateu quase 70 mil competidores para vencer a edição de aniversário do Sunday Million e garantir o prêmio de US$ 1.514.920. O sonho estava registrado há anos em um caderno rasurado, em meio a uma lista de desejos junto de outra conquista que aconteceu dias antes: se tornar uma jogadora patrocinada.


“Em algum lugar da minha casa, em um pedaço de papel, está escrito que eu queria um patrocínio e especificamente ganhar o Sunday Million”, revelou Kade, em conversa com o jornalista Erik Fast, da Card Player.


As conquistas fizeram com que um período que foi uma montanha-russa emocional para a canadense fosse fechado com chave de ouro. Kade recentemente se posicionou contra o o acerto do GGPoker com a celebridade das redes sociais Dan Bilzerian, com críticas quanto a associação do esporte a uma figura de comportamento misógino, o que resultou na sua desfiliação do site e em uma réplica Twitter. ‘Quieta, vadia, ninguém sabe quem você é’, postou Bilserian, a seu estilo, no Twitter.


Kade afirma que a associação da imagem do playboy ao poker foi o estímulo que faltava para ela se posicionar sobre o machismo estrutural no jogo. “Há anos queria dizer algo sobre isso, mas é muito difícil abordar sem sentir que você provavelmente está prejudicando suas perspectivas de futuro no setor. Finalmente, cheguei a um ponto em que vi uma empresa desfilando orgulhosamente em torno de Dan Bilzerian, que incorpora cada um desses traços negativos, e não pude deixar de, finalmente, dizer algo”, contou.


Após o longo e turbulento período, em que a jogadora mostrou força fora dos feltros, o primeiro sonho foi realizado quando Kade se tornou Team Pro do Americas Cardroom, alguns dias antes de mostrar, mais uma vez, que não está no poker a passeio e realizar o seu maior – e mais catártico – sonho, o título do Sunday Million. “Quase dois anos de dúvida e frustração, liberando-se de uma só vez, é uma sensação e tanto. Eu chorei”.


Kade conversou recentemente com a Card Player sobre seu início no jogo, sua vitória de sete dígitos, seus pensamentos sobre o tratamento dispensado às jogadoras, seu novo contrato de patrocínio e muito mais e a entrevista completa, você lê abaixo:


CARD PLAYER: Quando você começou a jogar poker e como você chegou ao jogo?


VANESSA KADE: Há quase 10 anos, alguns caras do trabalho tinham um torneio de mesa única com buy-in de 5 dólares na hora do almoço, duas vezes por semana, e um dos meus amigos que jogava pensou que poderia ser algo que eu gostaria e sugeriu que eu fosse e assistir. Eu concordei e pedi a ele que me mostrasse como jogar. Mais tarde naquela semana, sentamos no meu porão com um baralho e aprendi o básico.


CP: E qual aspecto do jogo gerou o seu interesse?


VK: O poker imediatamente me pareceu um jogo interessante de predição comportamental e reconhecimento de padrões, duas coisas que considero divertidas e desafiadoras, e ter um grande fator de sorte dá a ele uma bela volatilidade.


CP: Você acha que tem alguma habilidade particular ou traço de personalidade que a ajudou a se destacar no poker?


VK: Como qualquer outra pessoa, definitivamente tenho alguns traços que ajudam e alguns que prejudicam. Historicamente, fui muito paciente em não ter sorte, mesmo por longos períodos, e não tenho muito ego, então isso torna mais fácil a missão de revisar meus erros de uma maneira honesta e objetiva. Mas o outro lado disso é que posso ter falta de confiança e duvidar de mim mesmo facilmente quando as coisas não vão bem. À medida que melhoramos como jogadores, o componente sorte pode se tornar mais difícil de engolir e, pessoalmente, preciso ter cuidado para não me sentir no direito de ganhar com mais frequência. É importante lembrar que mesmo os melhores no jogo cometem erros o tempo todo, e por isso não posso ser muito dura comigo. O objetivo é fazer o melhor possível, e isso é tudo o que podemos fazer.


CP: Você tem experiência em outros jogos de estratégia ou algum esporte?


VK: Joguei softball quando era mais jovem e uma grande variedade de esportes e outras atividades. Na maior parte do tempo, estou mais interessado em tentar absolutamente tudo do que dominar uma ou duas habilidades. Eu joguei videogame por vários anos e era bastante competitiva com eles, principalmente com World of Warcraft, e costumo entrar muito nos jogos e jogá-los obsessivamente por curtos períodos. Mais recentemente, joguei o Beat Saber, um jogo de ritmo de realidade virtual.


CP: Você pode me contar sobre sua experiência de trabalho fora do poker, especialmente na indústria de jogos?


VK: Eu costumava ser produtora na indústria de videogames, executando partes de grandes projetos de videogames para algumas empresas, incluindo BioWare, Disney e LucasArts. Foi um trabalho muito bom e eu realmente gostei do meu tempo na indústria em geral.


CP: O que a levou a jogar poker com mais seriedade, após entrar no jogo?


VK: Tive a sorte de que, nos jogos que participei inicialmente, atuar de forma conservadora foi o suficiente para ir bem, e a maioria das pessoas continuava jogando as mesmas mãos, então eu podia adivinhar o que elas tinham com bastante precisão e estava ganhando quase que imediatamente. Meu jogo se desenvolveu bem devagar. Como muitas pessoas no poker, tendo a adquirir habilidades e ser boa nas coisas facilmente, mas isso pode se tornar um fator negativo e pode resultar em ser preguiçosa e complacente. Nos últimos anos apareceram ferramentas e recursos amplamente disponíveis - quase nenhum dos quais usei, e finalmente tive um momento honesto de autorreflexão em que percebi que se algum dia quisesse ser realmente vencedora, eu precisaria colocar algum esforço. Isso me levou a tirar proveito de algumas das ferramentas disponíveis e procurar um coach e colegas para discussões mais aprofundadas.


CP: O que uma vitória de US$ 1,5 milhão significa para você?


VK: É definitivamente um sonho, mas a vida e as cartas são imprevisíveis, então nada é garantido. Na verdade, tudo que eu queria fazer desde que descobri o poker era encontrar uma maneira de combiná-lo com minha outra grande paixão - viajar - e passar minha vida viajando ao redor do mundo, me divertindo e competindo pela emoção de grandes vitórias. Há cerca de dois anos, tentei um exercício em que escrevia coisas que queria alcançar e as lia em voz alta uma vez por dia. Isso durou cerca de uma semana antes de eu me esquecer, mas em algum lugar da minha casa em um pedaço de papel está escrito que eu queria um patrocínio e especificamente ganhar o Sunday Million. O que é insano! 


CP: Este evento teve um field gigantesco de quase 70 mil jogadores. E ainda eram 17.516 participantes no Dia 2. Como foi a estreia para você?


VK: Eu estava jogando 12 mesas durante a maior parte do Dia 1, então não me lembro de quase nada desde o início, o que é o que tende a acontecer quando é apenas uma das muitas mesas. Quase não tenho memória de mãos individuais, a menos que possa aprender algo com elas.


CP: Chegando ao último dia você estava em 13º lugar com 65 jogadores restantes. Como foi a fase intermediária deste evento para você? Houve algum momento interessante ou emocionante ao longo do caminho?


VK: Houve uma mão no segundo dia em que perdi um grande pote com par de reis para o que provavelmente seria uma jogada que me colocaria no top 5. Alguém que tinha AJ levou a melhor, o que me impediu de ter o que seria um stack de mais de 100 big blinds para um stack de 15 big blinds. Cerca de uma órbita depois, eu sai com 7-7 no hijack e anunciei all-in. O cutoff foi o único a pagar e mostrou A-A, mas um sete milagroso apareceu no flop e eu fui salva.


No Dia 3, incluindo a maior parte da mesa final, eu não encontrei valor algum. Cheguei a ter mãos que justificariam um shove, mas eu optei pelo fold. Tive muita sorte em desviar de alguns coolers. 


CP: Quando a mesa final foi formada, você estava em sétimo. Qual era a sua mentalidade naquele momento com tantos payjumps enormes em jogo?


VK: Em grande parte, eu estava focada em jogar meu jogo com uma mão de cada vez, sempre repensando mais de uma vez em cada decisão a ser tomada. Se a ação que eu estava prestes a realizar fosse me eliminar do torneio, eu queria estar em paz com isso antes de seguir em frente. Depois de quase ser cair e finalmente me recuperar, o resto do torneio parecia um freeroll e eu estava determinada a ser feliz independentemente do resultado.


CP: Você tuitou no  dia seguinte após a vitória: ‘Parece impossível. Este é o melhor dia da minha vida. De longe'. Você pode me contar um pouco mais sobre por que essa vitória significou tanto?


VK: O último ano e meio que antecedeu este torneio foi muito difícil para mim. Provavelmente houve uma dúzia de vezes em que estive entre os últimos 20-30 jogadores em um torneio com grande prize pool, próxima do CL, quando as coisas catastroficamente e inevitavelmente deram errado. Após seis meses de jogos ruins, comecei a reafirmar que isso não poderia continuar para sempre, e um ano depois disso, jogando milhares de mãos quase todos os dias, comecei a sentir o peso de uma exasperação crescente. Quase dois anos de dúvida e frustração, liberando-se de uma só vez, é uma sensação e tanto. Eu chorei.


CP: Essa grande vitória veio logo após você estar proeminentemente envolvida em uma discussão pública sobre as mulheres no poker. Infelizmente, tanto a indústria de jogos em que você trabalhava quanto o mundo do poker têm muitos problemas quando se trata de fazer com que as jogadoras se sintam bem-vindas na comunidade. O que você pensa sobre esses dois hobbies extremamente populares que podem ser melhorados no que diz respeito à inclusão?


VK: Há muita narrativa atualmente envolvendo a ideia de glorificar ter uma “casca” e ser uma "guerreira" - o orgulho de ser alguém forte o suficiente para resistir a um ambiente hostil. Embora essa seja provavelmente a perspectiva ideal para um grande competidor, acho que precisamos lembrar que a vasta maioria das pessoas que enfrentam o assédio está simplesmente tentando jogar de forma recreativa e por diversão. Hostilidade não é um componente necessário no poker em qualquer nível. Se minha mãe quisesse jogar 1 ou 2 dólares, em seu cassino local, eu não deveria me preocupar que alguém com um ego frágil acabasse a xingando ou insultando. Eu não deveria ter que dizer a ela para aguentar e ser uma guerreira. Se quisermos mais pessoas no jogo em geral, devemos fazer um esforço muito maior para agirmos melhor e garantir um ambiente onde, acima de tudo, as pessoas se divertirem.


CP: Falar sobre essas questões é algo com que você se sente confortável, que você quer fazer, ou é mais uma situação em que você simplesmente não se sente confortável em deixar o status quo permanecer sem resolver os problemas que surgiram?


VK: A maior parte do meu tempo jogando poker tem sido gasto em cash games de limites baixos. Ali eu conheci algumas pessoas maravilhosas, mas também enfrentei agressões verbais quase constantes, sendo xingada, menosprezada e até mesmo ameaçada. Às vezes isso era resolvido pelo staff, mas geralmente não. Conforme fui ficando mais conhecida, felizmente essa situação diminuiu, mas percebo que não será o caso para a maioria das pessoas. Há anos queria dizer algo sobre isso, mas é muito difícil abordar sem sentir que você provavelmente está prejudicando suas perspectivas de futuro no setor. Finalmente, cheguei a um ponto em que vi uma empresa desfilando orgulhosamente em torno de Dan Bilzerian, que incorpora cada um desses traços negativos, e não pude deixar de, finalmente, dizer algo.


CP: Como você espera fazer parte do processo de melhoria neste assunto daqui para frente?


VK: Espero, ao menos, que a existência do debate, com outras pessoas vendo que ainda tenho oportunidades, talvez faça com que o medo de falar sobre esses tipos de questões se dissipe o suficiente para que os problemas sejam tratados de forma mais direta à medida que surgem.


CP: Falando em oportunidades, pouco antes de sua recente vitória no Sunday Million, o Americas Cardroom anunciou que você foi adicionado ao time de profissionais deles. Você pode nos contar sobre essa notícia empolgante e o que essa parceria significa para você?


VK: Já estávamos conversando sobre um patrocínio em potencial há algum tempo e parecia que era o momento certo para puxar o gatilho. Eu joguei a maioria dos meus jogos no ACR nos últimos anos e vi em primeira mão como eles são dedicados em melhorar a experiência do jogador e como o time é apaixonado. Sempre quis fazer parte de uma equipe de embaixadores, então tudo o que aconteceu para mim nos últimos meses foi definitivamente um sonho que se tornou realidade. 



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