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Patrik Antonius, o homem que não se impressiona com 7 dígitos

Candidato ao Hall da Fama, o finlandês falou sobre sua lendária carreira no poker e sobre as cerca de 40 vezes em que ganhou ou perdeu mais de um milhão em um dia


 

06/07/2021 17:27
Patrik Antonius, o homem que não se impressiona com 7 dígitos/CardPlayer.com.br
Patrik Antonius tem um currículo invejável nos high stakes online


Imagine a sensação de terminar o dia com US$ 1 milhão a mais em sua conta. Inacreditável, não é? Só de pensar nessa possibilidade, você provavelmente já está fazendo as contas de quantos problemas resolveria e de quantos sonhos realizaria.


Agora, imagine o exato oposto: terminar o seu dia sabendo que, nas últimas 24 horas, você perdeu o mesmo milhão de dólares. Nesse instante, você deve estar batendo três vezes na madeira, isolando o pensamento, sem se prender a ele por um segundo.


Pois se você e a imensa maioria da população mundial mal conseguem conter a empolgação em imaginar o primeiro cenário ou os calafrios provenientes do segundo, para Patrik Antonius as duas situações são normais.


“Provavelmente foram cerca de 40 dias em que ganhei ou perdi mais de um milhão”. Foi isso que o profissional finlandês, de 40 anos e há mais de duas décadas no poker, disse ao jornalista Julio Rodriguez, sobre a vida de quem tenta domar os jogos nos high stakes. 


Recentemente, o ex-modelo se tornou elegível para o Hall da Fama do Poker e, na primeira oportunidade, esteve entre os 10 finalistas. O homem que Doyle Brunson uma vez reconheceu como um de seus adversários mais difíceis começou no online, bem antes do boom do poker, e já estava sentado no topo da montanha dos cash games quando Chris Moneymaker deu início a uma revolução no jogo. O profissional despontou no circuito dos torneios ao vivo com uma vitória no Main Event do EPT Baden de 2005 e hoje conta com quase US$ 12 milhões em ganhos na carreira.


As oscilações selvagens que ele enfrentou incluíram o maior pote de poker online de todos os tempos, uma vitória de US$ 1,3 milhão contra Viktor 'Isildur1' Blom em 2009. Antonius esteve envolvido em quatro dos 10 maiores potes online de todos os tempos, e também detém o recorde de maior pote jogado durante os programas High Stakes Poker e Poker After Dark.


O finlandês participou recentemente do podcast Card Player’s Poker Stories e os destaques da entrevista você pode ler abaixo. 


O início no Poker


Julio Rodriguez: Então, a história é que você começou a jogar poker com amigos aos 12 anos de idade, mas ainda não estava realmente interessado nisso.


Patrik Antonius: Sim, eu tinha alguns amigos mais velhos e eles jogavam com quantias muito pequenas, como moedas de um centavo. Comecei a jogar com eles e jogávamos diferentes tipos de jogos de cartas. Tipo, havia a nossa versão do five-card stud, mas ninguém sabia nada.


Em um dia muito bom, você ganhava em torno de um dólar. Mas você tem que jogar por alguma coisa a mais para tornar os jogos de cartas excitantes. Joguei bastante com eles e depois comecei a enfrentar os meus amigos do tênis. Eu praticava muito tênis, algo em torno de duas vezes por dia, então acabava jogando poker entre os treinos.


Ficamos um pouco viciados. Todos nós amamos o jogo, então começamos a jogar após o treino. Logo acabamos nos reunindo para jogar quando nem sequer tínhamos torneios ou partidas.


JR: E a sua primeira viagem ao cassino?


PA: Meu amigo foi ao cassino e começou a jogar antes de mim. Eu nem sabia que eles tinham poker no cassino de Helsinque, era muito pequeno naquela época.


Eu fui um dia e joguei o evento de iniciantes. Se eu converter a moeda de marcos finlandeses em dólares, acho que foi um buy-in de talvez US$ 20 . E ganhei meu primeiro torneio.


JR: Você não estava considerando o poker como um trabalho, mas estava fazendo outras coisas para se manter ocupado. É verdade que você foi modelo?


PA: Eu fiz muitas coisas. Meus pais não tinham muito dinheiro. Cresci em uma família pobre, o que acho que foi realmente a melhor coisa que poderia acontecer comigo. Aprendi a trabalhar desde muito jovem e a trabalhar arduamente.


Os esportes foram meu maior professor. Tudo o que aprendi no esporte, no que diz respeito ao trabalho duro, à disciplina e à dedicação, transferi para o poker. A mesma mentalidade de que nada vem fácil, de que trabalhando duro você vai chegar lá.


Comecei a entregar revistas aos 11 anos. Eu usava todo o dinheiro que ganhava para comprar raquetes de tênis e equipamentos. Fiz algumas vendas por telefone, como um operador de telemarketing. E então fui de porta em porta trabalhando para empresas que vendem revistas e outras coisas.


Eu era um bom tenista e, quando tinha tempo, dava aulas para alguns jogadores mais jovens. Então também comecei a trabalhar no clube onde jogava. Na verdade, comecei a trabalhar menor de idade. Menti para o meu chefe, dizendo que tinha 15 anos em vez de 14. Não sei como eles nunca verificaram minha idade, mas eu dirigia todo o clube de tênis quando tinha 14 anos. Não havia mais ninguém. Eu estava cuidando do curso, encordoando raquetes, cuidando do refeitório, do caixa... de tudo.


A coisa de modelo nunca foi um trabalho real. Fiz um contrato com a agência e eles me ligavam para uma sessão de fotos que usariam em uma revista. Isso rendeu um bom dinheiro para mim quando eu comparava com outros empregos. Eu teria em um dia três horas de filmagens, e isso pagaria o equivalente a trabalhar cinco dias inteiros no clube. Fiz alguns desfiles de moda, mas não pagaram muito. Um trabalho foi interessante. Quando eu tinha 19 anos, em pleno inverno, queriam fazer um catálogo de esportes na Grã-Canária, que é uma ilha perto da África. Voamos para lá por uma semana e foi como um feriado para mim. Mas parei com 19 anos, quando comecei a ganhar dinheiro com poker.


Se tornando profissional


JR: Quando você começou a levar o poker mais a sério?


PA: As coisas realmente mudaram de patamar em 1999, quando coloquei $200 no online. Foi a primeira vez na minha vida. Consegui administrar esse dinheiro e em apenas dois meses o meu bankroll era de $30.000.


Eu ainda não sabia jogar, mas meio que descobri esse estilo excessivamente agressivo. Eu estava literalmente tentando jogar todas as mãos, aumentar todas as mãos, apostar em todos os flops e turns. Se os jogadores subissem minha aposta, eu desistia. E eu estava ganhando assim.


Eu estava aprendendo pelo caminho inverso, jogando todas as mãos e depois ficando mais tight, ao invés do contrário, quando você joga mais tight e então vai relaxando. Aprendi poker de uma maneira muito diferente de qualquer outra pessoa. Nunca li um livro de poker, nem mesmo algumas páginas. Nunca tive ninguém para me ensinar a jogar. Eu apenas joguei, analisei o que eu fazia e melhorei.


JR: O poker online estava apenas começando e você já estava jogando os maiores jogos disponíveis.


PA: Joguei praticamente 12 horas por dia nos cinco anos seguintes. Sinto que joguei mais do que qualquer outra pessoa e adorei essa rotina. Não era como se eu estivesse me forçando a fazer isso. Passei tão rápido daquele ano para os high stakes online em 2001. Fiquei de 2002 a 2005 sem nunca ter passado por um mês de prejuízo nos jogos online.


Os recordes quebrados  


JR: Apesar de ter um excelente retrospecto nos torneios, você sempre foi um jogador de cash games. Você tem o famoso recorde de ganhar o maior pote online, que foi de $1,3 milhão em uma mão de PLO contra o Viktor Blom.


PA: Bem, realmente foram muitas apostas e grandes oscilações. Eu também tive muitos dias de grandes perdas. Lembro-me de frequentemente ter dias com menos ou mais de um milhão em minha conta porque os jogos eram muito grandes. O “Isildur1” realmente veio para jogar, e sinto que qualquer coisa poderia ter acontecido com ele. Ele queria jogar o mais caro e mais deep possível e em quantas pudesse. Eu fui um dos caras com sorte de ter um bankroll muito grande e me senti confortável e confiante com meu jogo.


Esse pote foi, na verdade, parte do meu maior dia de vitórias online. Ganhei mais de US$ 3 milhões naquele dia. Foi uma época emocionante. Qualquer dia você ficava online sem saber se iria ganhar um milhão ou perder um milhão.


JR: Se você tivesse que estimar quantos dias de sete dígitos você teve em sua carreira, em qualquer direção, ganhando ou perdendo, quantos você diria?


PA: Se eu tivesse que tirar um número da minha cabeça... eu diria que tive uma quantidade quase igual ao do ao vivo. Provavelmente foram cerca de 40 dias em que ganhei ou perdi mais de um milhão.


JR: Então, como você lida com uma perda de sete dígitos? Dizem que vencer nunca é tão bom quanto perder é ruim.


PA: Sim, é uma afirmação muito verdadeira, muito precisa. É quase injusto como os dias]vencedores começam a parecer normais, como se isso fosse o que deveria acontecer. Portanto, não soa como algo realmente especial, mas a perda é muito ruim e é um desafio para todos enfrentarem.


Se eu tivesse um bankroll de talvez US$ 20 milhões e perdesse US$ 1 milhão, ainda seria uma grande parte disso. Às vezes eu consigo lidar melhor com isso, às vezes pior, dependendo de como acontecesse. Se eu não estivesse feliz com a maneira como jogava, demoraria mais para aceitar o que aconteceu.


Mas eu era jovem e estava muito motivado. Hoje em dia, é tão raro você ir a um cash game e perder um milhão. Não estou acostumado com isso agora. Eu teria muito mais dificuldade em lidar com isso agora do que antes.


JR: Acho que as pessoas ficariam surpresas em ouvir isso, porque quando te veem na TV, você é tão estóico. Você também detém os recordes do maior pote no High Stakes Poker, que foi de cerca de US$ 1 milhão contra Sammy Farha, e no Poker After Dark, que foi de cerca de US$ 600 mil contra Tom Dwan. Em ambas as mãos, o público não viu você suando ou seu coração batendo fora de sua camisa.


PA: Em geral, sou uma pessoa muito calma. Eu realmente não tenho minhas emoções muito apegadas às coisas. Talvez ajude o fato de eu ser finlandês. É muito difícil ficar animado com alguma coisa.


Torneios vs cash games


JR: Entre 2012 e 2017, você não jogou muitos torneios. Quero dizer, você ainda ganhou alguns milhões de dólares e teve sucesso nos lugares que jogou na Austrália e em Monte Carlo, mas estava claro que você estava viajando menos para os torneios. Então, em 2018, antes da pandemia, parecia que você começou a jogar muito mais. Você ganhou um High Roller em Rozvadov e chegou a várias outras mesas finais, incluindo um segundo lugar no Super High Roller Bowl China por US$ 3,1 milhões. Você estava sentindo como se os torneios fossem uma mudança que você precisava fazer?


PA: Isso é engraçado. Basicamente, todos os resultados dos meus torneios são dos anos de 2005 e 2018. Quase parei de jogar torneios em 2006. Foi quando os cash games se tornaram tão grandes que eu simplesmente não tinha mais interesse em torneios. Gostaria de jogar alguns eventos da WSOP aqui e ali, mas acabei pulando até o Main Event por vários anos. Eu simplesmente não conseguia ir ao cassino Rio, uma vez que eu estava sempre nos cash games.


Eu realmente não tinha nenhuma motivação para jogar um torneio de cinco dias. Teria sido uma decisão estúpida, em termos de dinheiro, para mim, ir e jogar um torneio por muitos dias, quando os cash games eram tão grandes que eu poderia ganhar o primeiro prêmio do torneio em uma sessão.


Em 2017, no entanto, joguei alguns high rollers e percebi que esses eventos são divertidos e vi que havia um bom valor. Foi mais interessante e excitante.


Refletindo sobre seu legado


JR: Você fez 40 anos em dezembro passado, o que o tornou elegível para o Hall da Fama do Poker. Você estava entre os 10 finalistas indicados antes da honraria ir para Huck Seed. Quais são seus pensamentos sobre isso?


PA: Bem, obviamente me fez bem ter sido nomeado. Eu sei quem eu sou e não preciso ser reconhecido para saber o que realizei. Mas estar no Hall da Fama vai ser bom.


Muitos jogadores merecem estar lá. Mas a forma como temos o Hall da Fama do Poker configurado agora, o reconhecimento vai para as pessoas que estão fazendo coisas realmente boas para a nossa comunidade, para a nossa indústria, o que é muito bom. Eu gosto disso.


Eu acho que me encaixo em todos os critérios em relação à minha carreira de jogador, mas eu realmente gostaria de entrar também causando um grande impacto em nossa comunidade, em nossa indústria, para elevar o poker e aumentar a popularidade do jogo em torno do mundo. 


O poker me deu basicamente tudo com que sempre sonhei. Vindo da Finlândia e não podendo viajar porque não tinha dinheiro, agora estive em todos os lugares do mundo, conheci muitas pessoas e tive muitas experiências de vida.


E o jogo... eu ainda não conheci um jogo que tenha tudo o que o poker oferece. Ele tem a quantidade quase perfeita de sorte que o torna um jogo tão bom. No poker, nós temos o sonho de que qualquer pessoa pode vir e ganhar um dinheiro que mudará a sua vida. Basta jogar um satélite, ganhar o buy-in para o Main Event, ter cinco dias inspirados e, boom, você pode faturar um milhão ou dois.


Você aprende muito sobre si mesmo quando começa a jogar poker, seja com suas vitórias, com suas derrotas, com a maneira como está lidando com suas emoções. Você aprende que os jogadores podem ser muito diferentes à mesa em comparação com suas personalidades fora do jogo. Você pode ver o cara mais conservador jogando o poker da forma mais louca, ou você pode ver o cara mais louco jogando de forma mais conservadora.


Então você aprende todos esses sinais da linguagem corporal. O que é um sinal de fraqueza? O que é um sinal de força? Essas pequenas coisas que você talvez nunca aprenderia ou experimentaria em sua vida. E a parte psicológica se torna muito grande em certas situações. Isso o força a viver no momento presente. Como agora, o que está acontecendo? Você não está pensando em mais nada em sua vida além do fato de que seu oponente apostou tudo e você tem que tomar uma decisão importante.


É realmente o mais incrível e fascinante jogo. E eu não poderia dizer coisas boas o suficiente sobre o poker.



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