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Scott Seiver contra o mundo


Erik Fast
Scott Seiver é um dos representantes desses fenômenos da nova geração do poker. Poucos anos depois de graduar-se na universidade de Brown, ele já havia conquistado um bracelete da World Series of Poker (WSOP) e o World Poker Tour (WPT) Championship de US$25.000. Nos últimos três anos, Seiver foi de promessa à referência dentro no poker ao vivo, principalmente devido ao seu enorme sucesso nos torneios high roller.

Em 2013 e 2014, ele embolsou 3,7 e 3,8 milhões de dólares, respectivamente. Neste ano, em apenas cinco meses, já engordou sua conta em US$ 2,6 milhões. Suas sete mesas finais em 2015 o credenciaram a entrar forte na brigar pelo título de Jogador do Ano da Card Player.
 
Com US$ 15,8 milhões em prêmios no poker ao vivo, Scott Seiver é agora o 9º jogador que mais ganhou dinheiro na história dos torneios de poker, mas, do alto dos seus 29 anos, ele quer mais — e nesta entrevista exclusiva, ele revela tudo que você quer saber sobre seu sucesso, high rollers e muitos mais.
 
Erik Fast: Recentemente, você teve bons anos nos torneios ao vivo e já começou 2015 muito bem. As primeiras semanas do ano devem ser chave para você, que joga todos os super high rollers do mundo. Então, a satisfação de conseguir ir bem nesses eventos deve ser enorme.
 
Scott Seiver: Honestamente, a resposta correta deveria ser, “isso não importa”, mas, para mim, importa. Eu realmente acredito que existem “profecias” que dependem de você no poker. Se as pessoas pensam que estão jogando bem, elas ficam mais confiantes e jogam diferente por causa disso. Já quem está em uma fase ruim tem um pensamento diferente, o que acaba afetando no próprio jogo. O jogo de ninguém é imune ao impacto emocional. Então, começar o ano bem ajuda muito. Não apenas pelo dinheiro, mas pela maneira que jogarei pelo restante do ano.
 
EF: Você acha que esse efeito tem duas vias? Quero dizer, se você está bem, seus oponentes pensarão: “Preciso ter cuidado, Scott está destruindo por onde passa”?
 
SS: Com certeza. Eu já percebi que isso afeta a maneira como as pessoas jogam umas contra as outras. Jogadores excelentes, mas que estão tendo um ano ruim, tendem a sofrer mais ataques dos adversários.
 
EF: Mesmo quando descontamos o buy-in de um milhão do Big One, o buy-in médio dos seus 20 melhores resultados é de US$ 66.000. Parece que você descobriu alguma coisa nos torneios mais caros.
 
SS: A verdade é que se criou um ecossistema muito específico nesses eventos high rollers, e eu tenho tido sorte de ir bem. Não quero dizer que estou jogando mal. Acredito que venho jogando bem, mas muito disso vem da sorte — e eu sei disso. Mesmo com esses torneios na moda, temos apenas 10 ou 15 deles no ano. Mesmo que um profissional jogue o seu melhor, se você olhar os últimos anos, temos apenas uma amostra de 30 ou 40 torneios. Sei que meus resultados parecem impressionantes, mas entendo que a amostragem é bem pequena.
 
EF: Você acha que possui um conjunto de habilidades que funcionam particularmente bem nesse formato?
 
SS: Sim. É preciso mesclar habilidades únicas de cash game e torneios online com o conhecimento das estruturas únicas que esse tipo de torneio possui. Por exemplo, geralmente, apenas os jogadores da mesa final ficarão ITM. Então, você fará mais mesas finais do que nos grandes fields da WSOP, em você precisa descobrir onde está a sua vantagem. Nos high rollers é muito mais importante saber como jogar uma mesa final, já que você estará por lá 25 ou 30 por cento das vezes. É essencial entender como é a dinâmica de uma mesa final. Digo com segurança que há poucos jogadores no mundo que entendem a estratégia pura do poker e que, ao mesmo tempo, sabem como reagir aos saltos na premiação de acordo com os stacks dos jogadores restantes. Não estou dizendo que sou o melhor, mas tenho feito isso por anos. Como eu disse, os caras que já aprenderam os segredos dos super high rollers, estão lá, jogando.
 
EF: Você acha que essa tendência de buy-ins mais caros facilitou a vida dos grandes jogadores? É mais fácil ser regular com fields menores?
 
SS: Sim e não. Individualmente, cada um desses torneios têm variância menor, mas quando você olha quantos torneios desse nós temos, a variância fica mais alta. No fim, não se pode comparar com jogar 45 eventos da WSOP ou os 50 torneios da reta online de domingo. A variância dos super high rollers vem disso: são apenas 10 ou 15 torneios no ano. Mas, individualmente, sim, realmente a variância é bem menor.
 
EF: Problemas estranhos de logística surgem em consequência do crescimento de popularidade desses torneios? Há muitos aborrecimentos para lidar?
 
SS: No início havia muitas dificuldades, principalmente para enviar e receber dinheiro. Alguns cassinos não costumam lidar com quantias tão grandes, especialmente se isso vinha de clientes que não eram seus apostadores VIPs. Hoje, tudo está mais simples. Os grandes tours são sincronizados, você tem muita gente ajudando. No WPT Alpha 8, por exemplo, existe uma equipe específica para lidar apenas com os high rollers. O mesmo acontece no European Poker Tour (EPT).
 
EF: Qual sua opinião sobre a sustentabilidade dos high rollers?
 
SS: Eu acredito que eles continuarão. Não acho que a sustentabilidade dos mesmos seja algo que vale a pena discutir. É apenas uma questão de saber se o field vai crescer ou se manter —e eu acredito na primeira hipótese. Não é porque eu quero e pronto, mas é uma questão de lógica. Há vários jogadores que acreditam que não compensa viajar milhares de quilômetros para jogar um torneio de US$ 10.000, e isso é válido para amadores e profissionais. “Não vou viajar mais de 10.000 quilômetros para jogar um torneio de US$ 5.000 e talvez um paralelo de US$ 2.000”. Conheço muitos caras que pensam assim. No entanto, se você organiza um torneio de US$ 5.000, que provavelmente terá 1.500 jogadores, e coloca também um evento de US$ 50.000, seu evento tem muito mais prestígio e atrai ainda mais jogadores. Veja bem: a mídia quer high rollers, pois dão excelentes matérias; cassinos e outros organizadores querem, pois geram mais rake; e quem não quer, simplesmente não joga, os high rollers não irão machucá-los. O dinheiro fica no ecossistema criado por esses torneios, não há perda para quem está fora. 
 
EF: Além de jogar esses torneios homéricos, o que você em feito no poker?
 
SS: Eu passo pelo menos quatro meses no ano viajando para jogar. Dois meses vão para a WSOP, e então fico em casa por seis meses, onde jogo os “big games” (cash games), que são ótimos aqui em Las Vegas. Espero que se mantenham assim por muitos anos.
 
EF: Fora o dinheiro que você vem ganhando, você tem construído um currículo invejável. Você tem objetivos específicos no poker? O quanto são importantes suas conquistas?
 
SS: Provavelmente, eu me preocupo mais com a glória do que as outras pessoas. Eu realmente gosto quando batem nas minhas costas e dizem: “Bom trabalho, Scott”. Se eu fosse uma pessoa mais culta e “avançada”, talvez eu não precisasse disso, mas eu acho legal e me faz bem. Rankings e premiações extras servem também como motivação, quantas vezes já não ouvi aquele voz na minha cabeça quando tenho que tomar uma decisão? “Você poderá cair no ranking do Jogador do Ano se não jogar essa mão”, ou, “está aí a grande chance para manter sua colocação entre os jogadores que mais ganharam dinheiro em torneios (all-time money list)”. Eu tento ignorar essas vozes, mas elas estão lá e a glória é importante, sim. Você só precisa entender seus objetivos e manter-se focado para conquistá-los, o que vem depois é consequência disso — e não há pecado em gostar disso. 
 
 
O CURRÍCULO DE SCOTT SEIVER
 
Idade: 29
Formação: Universidade de Brown (Ciências da Computação e Economia)
Ganhos em Torneios ao Vivo: US$ 15.829.540
All-Time Money List Ranking: 9º lugar
Braceletes da WSOP: 1
Títulos do WPT: 1
Jogador do Ano da Card Player 2015: 10º lugar
Melhor Resultado na Carreira: Campeão do $100,000 Super High Roller do PokerStars Caribbean Adventure 2013 (US$ 2.003.480)
Primeiro ITM na Carreira: WPT Legends of Poker 2006 (19º lugar – US$ 26.620)
Número de Prêmios de seis dígitos: 24
Número de Prêmios de sete dígitos: 4
 
 
EF: E onde você se vê em 10 anos? Alguns jogadores tratam o poker apenas como algo para fazer dinheiro, um trabalho como outro qualquer. Como isso é para você?
 
SS: Eu amo o poker. É interessante e fascinante. Há muitas variantes e eu quero experimentar todas. Para mim, trata-se de glória e orgulho. Eu quero criar um legado que fique para o mundo do poker. Não quero que as gerações futuras olhem para mim e pensem que não tenho condições de ser mais um jogador top. Quero sempre ter presença nesse jogo.
 
EF: Por acaso, você fica sem pensar em poker?
 
SS: Uma coisa que fiz recentemente foi viajar sem ser por poker. Eu viajo para lugares incríveis para jogar, mas nunca são férias. Então, passei duas semanas em Tóquio, no Japão, com amigos. Foi a primeira vez que fiquei fora tanto tempo sem jogar poker. Foi sensacional. Eu posso ter colocado o carro na frente dos bois nos últimos anos, mas venho tentando consertar isso, achar um equilíbrio.
 
 
DATA EVENTO BUY-IN (USD) POSIÇÃO PRÊMIO (USD)
Janeiro/2013 PCA $100,000 Super High Roller $98.000 $2.003,480
Julho/2014 Big One For One Drop $1.000.000 6 $1.680,000
Maio/2011 WPT Championship $25.000 $1.618.44
Maio/2014 EPT Grand Final €25,500 High Roller $34.475 $1.189.512
Outubro/2013 WPT Alpha8 London High Roller $160.720 $815.360
Janeiro/2015 Aussie Millions $100,000 High Roller $87.540 $776.900
Junho/2008 Evento #21 da WSOP 2008 $4.700 $755.891
Fevereiro/2015 Aussie Millions $250,000 High Roller $218.850 $571.095
Abril/2012 Party Poker Premiere League V $125.000 $500.000
Agosto/2014 EPT Barcelona €50,000 High Roller $68.095 $483.914
Março/2010 L.A. Poker Classic High Roller $24.000 $425.330
 



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