EDIÇÃO 86 » COLUNA NACIONAL

Poker é esporte


João Bauer e Fábio “F1oba” Maritan
Poker é esporte, esporte da mente reconhecido pelo Ministério dos Esportes através da Confederação Brasileira de Texas Hold’em (CBTH), assim como xadrez e o gamão. Até aí a maioria das pessoas já sabem, mas que reais semelhanças o poker tem com os outros esportes? Neste artigo, listamos pontos significativos que evidenciam o quanto ele se assemelha com os demais esportes.
 
1. ALTA COMPETITIVIDADE
 
Manter-se competitivo é essencial no poker. Trata-se de cuidar da própria máquina com muita saúde e trabalho duro. Hábitos saudáveis melhoram o condicionamento físico e criam condições para a mente sadia. O estudo e prática constantes tornam os jogadores verdadeiros mutantes, capazes de se adaptar às mais diversas situações. Como consequência, se sobressaem sobre os demais e são recompensados por isso. Nos outros esportes não é diferente. O lutador mais preparado vence, o jogador de futebol relaxado perde seu espaço e o piloto lento passa vergonha.
 
2. CONTROLE EMOCIONAL
 
Talvez a característica mais forte do jogador de poker, o controle emocional, está presente em qualquer ambiente competitivo. Jogadores de poker profissionais sabem muito bem lidar com a tênue relação entre expectativa e frustração. Apanham diariamente e não se abalam. Continuam focados e jogando o seu melhor, pois entendem perfeitamente a recompensa no longo prazo. Quantas vezes vimos aquele tenista ter o jogo da vida na mão, não fechar o match-point, ficar emocionalmente abalado e sofrer uma derrota acachapante na sequência e vendo aquele recorrente campeão vencê-lo mais uma vez? Ou mesmo aquele set-point decisivo e não fechado no vôlei. Alguns pontos de vantagem, uma sequência de falhas, o emocional coletivo vai ao chão e a virada espetacular acontece. E quanto ao “apagão” da nossa seleção de futebol na última Copa do Mundo? São inúmeros os exemplos, e cabe aqui sempre relembrar Rocky Balboa, lutador vivido no cinema por Sylvester Stallone: “Não importa o quanto você bate, mas sim o quanto aguenta apanhar e continuar lutando. O quanto pode suportar e seguir em frente. É assim que se ganha”.
 
3. ESPÍRITO ESPORTIVO
 
Quem pratica poker sabe o quanto a adrenalina corre nas veias naquela reta final importante, naquele blefe gigantesco que passou e ao se levantar aquele tão desejado troféu. E, olha, que sensação ótima! Muitos ex-esportistas até procuram o poker para voltar a sentir essas sensações, tão vivas na época em que competiam. Em um torneio, a adrenalina está presente desde o início e só cresce a medida que os estágios finais vão se aproximando. Estar competindo e construir sua vitória é algo realmente grandioso. O maratonista quando dá a primeira passada, o nadador ao pular na piscina e o piloto de automobilismo ao largar também vivem e perseguem essa sensação a cada competição que participam.
 
4. ESTRATÉGIA
 
Jogadores de poker tomam decisões estratégicas mediante à análise de vários fatores, simultaneamente. Quantidade de fichas, posição, cartas, ranges de mãos, histórico, perfil do adversário, imagem, fase do torneio, estado emocional e tells são exemplos de variáveis consideradas. As informações são incompletas, mas o conjunto, com certeza, refina o resultado. A estratégia é sempre adaptável às situações (spots) que forem surgindo. De forma similar, o técnico de futebol muda a disposição do seu time para explorar determinada característica do adversário, o enxadrista sacrifica uma peça com intenções futuras e o golfista estuda minunciosamente o campo de competição para planejar suas limitadas tacadas. De modo geral, não faltam exemplos da arte do general no âmbito esportivo.
 
5. ACASO A CURTO PRAZO
 
O quão menos divertido e popular seria o poker se não existissem as baralhadas e bad beats? Aquela situação desfavorável que o acaso reverteu? Poker, a curto prazo, pode ser muito democrático e não faltam histórias de jogadores eventuais que ganharam um ou outro grande título. Por outro lado, há os jogadores profissionais ganhando dezenas de braceletes e acumulando mesas finais nos principais circuitos de poker do mundo, mostrando o quanto o profissionalismo está relacionado com regularidade e volume. Esse aspecto interessante pode ser observado em vários outros esportes e, com certeza, dão um toque especial às competições. É a equipe pequena vencendo o grande clube, a famosa zebra; aquela corrida chuvosa e repleta de acidentes, que deixou a vitória no colo da equipe sem recursos. Enfim, situações fantásticas que somente o esporte pode proporcionar.
 
6. ESPÍRITO COLETIVO
 
Tivemos um exemplo claro na ultima Copa do Mundo de futebol, na qual, apesar de não ter os grandes astros da atualidade, a Alemanha foi soberana devido à sua grande qualidade como equipe. A maioria das pessoas pensam que o poker é um jogo individual, mas poucos sabem da importância de reunir pessoas de alto nível em times ou grupos de poker. O processo de aprendizado e de absorção de informações passam a ser feitos de forma mais eficiente e eficaz. Outros esportes, tais como o tênis e lutas, em geral, utilizam dessa preparação de equipe para formar e manter os jogadores em alto nível de competitividade. 
 
7. AUTOCONFIANÇA
 
A convicção de ser capaz é um atributo que se observa nos melhores esportistas. Ao ver uma luta do Anderson Silva, por exemplo, nota-se o semblante calmo e tranquilo em seu rosto, mesmo depois de passar três minutos de sufoco, levando socos e cotoveladas. Ao se levantar, temos a impressão de que ele é imbatível. Essa expressão é a mesma que víamos no Senna ao entrar no carro ou no Daniel Colman — vencedor do Big One for One Drop deste ano — ao enfrentar um oponente em sua especialidade, o heads-up. Confiança é peça fundamental para a vitória. Em muitas ocasiões, por mais que o jogador seja inferior tecnicamente, ele é capaz de fazer jogadas mais apropriadas ou arrojadas para aquele momento específico se estiver com a confiança em alta. Por fim, percebemos que as qualidades fundamentais para um bom jogador de poker não se diferem muito das encontradas nos mais bem-sucedidos esportistas. 



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