EDIÇÃO 86 » COLUNA NACIONAL

Plano de voo

Aplicação prática de ranges para seu poker decolar.


Cláudio Davino
Olá, leitores da Card Player. É com imensa satisfação que escrevo este meu primeiro artigo, o que representa muito pra mim, já que sou leitor antigo e grande admirador da revista.
 
Nesta edição, vou falar sobre como desenvolver um plano de ação para jogar nossas mãos da forma mais lucrativa possível em todas as streets.
 
Antes mesmo de começar com a aplicação em si, é importante sabermos um ponto muito importante no poker: toda ação que tomamos na mesa deve ter um fundamento pré-estabelecido em nossa cabeça — e apostar não seria diferente. 
 
Já ouvi diversas vezes jogadores falando frases do tipo: “Estou apostando para saber onde estou na mão”, “estou apostando por informação” ou motivos bizarros como superstição.  Sempre que você se encontrar em uma situação que você aposta para saber onde está ou para obter informação estará cometendo um erro.
 
A verdade é que no poker devemos basicamente apostar apenas por dois motivos:

1 - Aposta por valor, em que apostamos esperando levar call de uma mão pior.
2 - Aposta por blefe, em que apostamos esperando fazer uma mão melhor que a nossa dar fold.

É muito importante frisar que se você não pode identificar quais mãos piores vão pagar uma aposta por valor, então você não deve apostar. Se você estiver querendo apostar por blefe e não souber que mãos você está representando e também não souber que mãos seu oponente pode dar fold, então não blefe.

Utilizando esses princípios como base, separei duas mãos, que joguei nas mesas de Zoom do PokerStars [6-Max $1-$2], para Ilustrar como pensar em ranges pode nos fazer conseguir explorar mais nossos oponentes.
 


MÃO #1:  APOSTANDO POR BLEFE
 
A mesa roda em fold e estou no button (BTN) com J9. O SB é um jogador NIT (extremamente tight) e o BB é um jogador fraco, tight-passivo. Do BTN, minha mão é “ok” para roubar os blinds contra esses dois. Dou raise para 2 bbs, valor que faz a jogada se tornar lucrativa se eu conseguir roubar os blinds em 57% das vezes. O SB dá fold, mas o BB paga. 
 
O flop vem 5 2 Q. Um flop bom para dar continuation bet por blefe, já que faço mãos como A-6 até A-J, K-6 até K-J e T-8 até T-J; e, às vezes, até pares como 3-3, 4-4 e 6-6 desistirem.
 
O BB dá check e aposto 2,75 bbs, no pote de 4,5 bbs, e sou pago. O turn é um A. O BB pede mesa novamente e agora tenho que tomar outra decisão: aposto de novo ou desisto da mão?
 
A resposta nessa situação é bem clara: tenho que apostar. Mãos como 10-10, 9-9, 8-8, 7-7 e 66, que deram call no flop, agora têm apenas um terceiro par na mesa. Além disso, qualquer Q-X está agora com um segundo par e com a força muito enfraquecida, mas, ainda assim, não espero que os draws para flush e as Q-X desistam para uma aposta no turn.
 
Aposto 7 bbs em um pote de 10 bbs. Uma aposta um pouco mais forte para dar odds piores aos draws e para conseguir fazer o vilão colocar mais dinheiro no pote, já que o A, do turn, vai fazer com que eu blefe o river com uma frequência grande. O vilão dá call, e o river é um K.
 
Agora que ele deu call, é quase nula a possibilidade de termos alguma mão pior que Q-X e draws para flush no range de call do vilão. A carta do river excelente, visto que todos os draws que não contenham o Ás desistirão (inclusive os flush draws com o Rei, já que será muito difícil pagar três vezes com apenas o segundo par da mesa). Todos os Q-X (exceto A-Q e Q-K) também não pagarão, pois agora têm apenas o terceiro par da mesa. E mesmo alguns Ases, como A-6, A-7, A-8 e A-9 terão dificuldade de pagar, já que só ganham de blefes, uma vez que nosso range de aposta por valor, nessa situação, será provavelmente composto por 2-2,5-5,A-2,A-5,AJ+ e QQ+. Aposto 15 bbs, em um pote de 24 bbs, e o BB dá fold.
 


MÃO #2: APOSTANDO POR VALOR
 
Estamos no Cutoff (CO), com KK. A mesa roda e abro raise para 3 bbs. O BTN e SB dão fold. O BB, um jogador recreativo e calling-station, paga. O flop vem 2 2 3, um bordo sem draws para flush e que é excelente para apostar por valor, já que o oponente nos pagará com 4-4 a J-J, e provavelmente pagará com mãos como A-4, A-5, A-3 e também com K-Q, K-J, K-10, Q-J, Q-10, A-Q, A-J, A-10, mãos que muitas vezes dão call no flop também.
 
O oponente dá check. O pote tem 6,5 bbs, e eu aposto 5 bbs. Ele dá call. O turn é um 6. Esse é turn excelente, já que as únicas mãos que realmente melhoraram muito foram o 6-6 e o 4-5s. É preciso notar que, agora, quando aposto de novo, provavelmente serei pago por 4-4 e 5-5, mãos que conseguiram a broca para a sequência; e por mãos como 77+, que ainda estão com o maior par. Provavelmente, a terceira parte do range que estipulamos para o nosso oponente (K-Q, K-J, K-10, Q-J, Q-10, A-Q, A-J, A-10) darão fold, porque já não têm força o suficiente para suportar mais uma aposta.
 
O oponente pede mesa. O pote tem 16,5 bbs, e eu aposto 12 bbs. Ele paga, e o river é um A. E agora? Apostar ou não, com esse bendito Ás no river? A resposta é novamente afirmativa. As únicas mãos que chegam no river e possuem um Ás são A-2s e, esporadicamente, A-4 e A-5. Nosso oponente, por ter tendências de calling-station, dificilmente vai se assustar com esse Ás no river, já que não representamos muitos Ases. Então, ainda serei pago por mãos como J-J, T-T, 9-9, 8-8 e 77.
 
O oponente dá check. Aposto 22 bbs, um preço praticamente irresistível para o jogador recreativo, no pote de 40,5 bbs. Ele paga com 10-10. 



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