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Vanessa Selbst faz história na WSOP

Melhor jogadora de poker do mundo, Selbst vence evento de US$ 25.000 da WSOP e chega a quase US$ 11 milhões em ganhos na carreira.


Erik Fast
A World Series of Poker é o ponto máximo do poker mundial. A atmosfera única pode ser sentida logo que as primeiras cartas são distribuídas no Rio All-Suite Las Vegas — e já no primeiro evento do ano, o mixed-max no-limit hold’em (NLH), com buy-in de US$ 25.000, uma disputa épica.
 
Com um field contendo 131 dos melhores jogadores do mundo, coube à Vanessa Selbst emergir entre as estrelas como a grande campeã, levar o seu terceiro bracelete da série e, de quebra, embolsar US$ 871.148. 
 
Selbst se tornou a primeira mulher a ganhar três braceletes em um evento aberto (Barbara Enright também possui três, mas dois foram em torneios exclusivos para mulheres) e agora está também entre o seleto grupo de 63 jogadores que conquistou três ou mais braceletes em 44 anos de WSOP. 

O EVENTO #2: $25,000 MIXED-MAX NO-LIMIT HOLD’EM
Caso você não esteja familiarizado com o formato, em um evento mixed-max no-limit hold’em a variante é exclusivamente NLH, mas, durante o torneio, o número de jogadores em cada mesa é alterado. No Dia 1, os 131 jogadores foram divididos em 15 mesas com nove assentos.

No Dia 2, foram 60 sobreviventes, incluindo Selbst e outras estrelas, como Phil Ivey, Daniel Negreanu e Phil Hellmuth. Dessa vez, eles retornaram em mesas shorthanded (no máximo seis jogadores). Dos 44 eliminados, destaque para John Juanda, o bolha. Detentor de cinco braceletes, do small blind, Juanda empurrou all-in com Q6, mas viu Robert Tepper pagar com AQ. O bordo não ajudou e ele terminou na 17ª posição.

Os 16 sobreviventes ensacaram suas fichas para o Dia 3 e já estavam garantindo US$ 54.945. Eles jogariam em mesas de quatro até restarem os últimos quatro jogadores, que novamente seriam divididos para jogar heads-up (HU), com o chip leader enfrentando o jogador com menos fichas e com os dois stack médios se enfrentando na outra mesa. Até então, quem tinha mais fichas era o dono de restaurante Al Decarolis, que era seguido de perto por JC Tran e Vanessa Selbst.

RUMO AO HEADS-UP
Demorou menos do que seis horas para que os últimos quatro postulantes ao título fossem conhecidos. Com apenas quatro jogadores na mesa, o UTG é também o cutoff, o que elimina as chamadas “posições iniciais”. Sendo o big blind a cada quatro jogadas, não há tempo para esperar mãos fortes, o que gera uma ação insana.

Quando a poeira de eliminações baixou, os confrontos finais foram decididos: Vanessa Selbst, com uma desvantagem de 7-para-1 em fichas, enfrentaria o líder Al Decarolis. No outro duelo, o November Nine 2013 JC Tran teria pela frente o especialista em heads-up Jason Mo. Apesar do equilíbrio inicial em fichas — 3.350.000 para Tran e 2.500.000 para Mo —, a batalha entre os dois foi mais rápida, graças a um flip decisivo. 

Depois de puxar alguns potes, Mo abriu raise para 110.000. Tran respondeu com uma 3-bet para 275.000. Com AK, Mo não pensou muito para empurrar all-in de 2.840.000. Tran pagou e mostrou 1010. Caso o par segurasse, Tran avançaria para a final em busca de mais um bracelete. No entanto, a derrota o deixaria com apenas quatro big blinds. O flop já colocou Mo em vantagem quando trouxe KJ5. O turn, um 6, foi ainda pior para Tran, que o deixou com apenas um out. O 5 no river selou o destino Tran, que não conseguiu se recuperar e caiu algumas mãos depois.
Na outra mesa, Vanessa Selbst teve que suar para conseguir reverter a enorme vantagem de Al Decarolis. Depois de duas horas de jogo, finalmente, ela conseguiu tomar a frente. Na mão decisiva, Decarolis tinha AK. e aumentou para 250.000. Selbst defendeu o big blind com 98. O flop foi 9 7 4, e Selbst aplicou um check-raise na aposta de 275.000 de Decarolis, colocando o amador em all-in. Decarolis pagou, turn e river não parearam com a sua mão e ele se juntou a JC Tran na torcida, com um prêmio de US$ 290.622.

SELBST: UM HEADS-UP PARA A HISTÓRIA
Com dois braceletes e pouco mais de US$ 9,5 milhões em premiações, Vanessa Selbst era aparentemente favorita. Porém, apesar de não ser um nome conhecido, Jason Mo tinha grande experiência em heads-up, sua especialidade no online. Em 2012, inclusive, ele esteve perto do seu primeiro bracelete ao perder o HU decisivo do $10,000 NLH Championship Heads-up para Brian Hastings.

Com um bracelete e US$ 871.148 dólares destinados ao campeão, o duelo final teria um tempero a mais. Durante o Dia 3, Selbst eliminou um amigo de Mo, Ryan Fee, após um 4-bet-all-in com 98. Fee tinha AK., mas o bordo acertou um dos pares da norte-americana. No twitter, Mo comentou: “Vanessa é tão ruim. Pobre, Fee”. Se Selbst se importou com o que foi dito, ela não deixou transparecer na mesa. Durante as 72 mãos seguintes, ambos estavam totalmente focados em vencer. 

Mo começou com 5.940.000 fichas contra 3.960.000 de Selbst. Uma vantagem de 1,5-para-1, que em certo ponto chegou a ser de 5-para-1. Mas Selbst conseguiu dobrar e diminuir consideravelmente a diferença até a mão-chave do duelo.

Selbst abriu raise para 250.000, com QQ, e Mo reaumentou para 750.000 segurando AQ. Selbst pagou e eles viram o flop J 10  5. Mo pediu mesa, Selbst apostou 580.000, e ele pagou. O turn foi uma Q, que deu a Mo top pair e a Vanessa top set. Ambos pediram mesa e viram um 2 aparecer no river. Mo apostou 1.315.000. Selbst apenas pagou e assumiu a liderança, ficando com três vezes mais fichas do que o adversário.
Nove mãos depois, Selbst viu seu KJ vencer o 97  de Mo e lhe dar todas as fichas restantes do seu oponente. Mo recebeu US$ 538.308 pela segunda colocação e viu Vanessa Selbst escrever seu nome na história da WSOP.

“Não há sentimento igual como o de ganhar o primeiro bracelete”, disse Selbst após a vitória. “O mesmo posso dizer sobre ganhar o terceiro bracelete. É incrível”.
Selbst já era a mulher com mais ganhos em torneios ao vivo, agora, além de se tornar a única mulher com três braceletes em eventos abertos da WSOP, ela também se firma como um dos principais nomes desta geração. Com pouco mais de US$ 10,5 milhões em ganhos, ela ocupa a 23ª posição entre os jogadores que mais ganharam dinheiro na história do esporte mental, à frente de nomes como Barry Greenstein, Mike McDonald e Sorel Mizzi.
 
FALA, VANESSA!
Menos de 24 horas depois da fantástica vitória, Vanessa Selbst conversou com a Card Player. Veja como foi:

Erik Fast: Você acaba de entrar para o seleto grupo de jogadores que conquistaram três braceletes.  Como é o sentimento?

Vanessa Selbst: É incrível, mas para falar a verdade, a ficha ainda não caiu. Tudo me favoreceu e eu só tenho a agradecer por ter conquistado o título.

EF: Você já possui dois braceletes, o que esse terceiro significa agora?

VS: Representa muito. Ele foi conseguido em cima de um field bastante duro, em um torneio com buy-in de US$ 25.000 e que a maior parte dos jogadores sabia exatamente o que estavam fazendo. Vencer significa se focar ao máximo. Então, vencer nessas circunstâncias é incrível.

EF: A imprensa fez um grande estardalhaço sobre o tweet de Jason Mo sobre você. Isso serviu de motivação ou você deixa coisas desse tipo fora das mesas?

VS: Honestamente, eu nem cheguei a olhar o twitter dele. Eu só queria coisas positivas me cercando. Geralmente, é isso que faço. Mas sabendo que ele falou isso e que gosta de falar abobrinhas, não vou mentir, a vitória teve um sabor mais especial.

EF: Você terminou o Dia 1 como chip leader e o Dia 2 praticamente na liderança também, mas nos dois duelos finais você chegou a estar em grande desvantagem. O que você pode dizer sobre isso?

VS: O sentimento de dar a volta por cima foi incrível. Nas semifinais, eu estava muito short, mas dobrei rapidamente e depois joguei small ball contra um oponente que não tinha muita experiência em heads-up. O adversário me favoreceu e eu também tive sorte de não encontrar nenhum cooler. Já contra o Jason, eu sabia que ele era um grande jogador, então tentei mixar meu jogo. Infelizmente, logo cedo, tentei dois grandes blefes que não passaram. Mas quando os blinds estavam caros, eu consegui acertar algumas mãos e roubar alguns potes.

EF: Você se tornou a primeira mulher a conquistar três braceletes em eventos abertos da WSOP e, falando em ganhos, já possui quase o dobro da segunda colocada (Kathy Liebert – US$ 5,9 milhões). O que você tem a dizer sobre esses recordes?
 
VS: É muito bom colecionar recordes, mas, no final, o que realmente gosto é de ver que mais mulheres estão competindo. Nós vemos mais e mais mulheres nos torneios, pelo menos uma em casa mesa, dependendo do torneio. Eu espero que a participação feminina só continue a crescer.



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