EDIÇÃO 82 » COLUNA INTERNACIONAL

Velozes e Furiosos – Parte I


Jonathan Little
Há alguns meses venci o evento turbo de €5.300 do European Poker Tour (EPT), realizado em Praga. Então, esse é um bom momento para dar algumas dicas que ajudarão os leitores a melhorarem em torneios cuja estrutura é mais acelerada. 

O que é um torneio turbo?
Não há uma definição exata para torneios turbos, basta saber que se, depois de algumas horas, a média dos stacks estiver entre 10 e 20 big blinds, então, definitivamente, você está jogando um torneio turbo. 

A maioria dos jogadores de limites menores, que jogam torneios locais, não percebe que estão jogando eventos com estruturas aceleradas e cometem erros infantis, o que torna tais eventos extremamente lucrativos para aqueles que sabem se ajustar de maneira correta.

DICA #1: Estude o jogo short-stacked e jogue torneios turbos
Primeiro, quero deixar bem claro que, apesar do que você ouve de alguns profissionais renomados por aí, ter um stack curto não transforma o poker em uma espécie de bingo. A maioria dos jogadores gosta de ter um stack grande porque isso dá uma falsa sensação de controle. A verdade é que se você e seu oponente possuem o mesmo nível de habilidade, o tamanho do stack será irrelevante, já que no longo prazo os dois terminarão empatados. Enquanto a quantidade de big blinds que um jogador habilidoso ganhará por hora será maior em jogos mais deeps, em torneios turbos, mesmo ganhando apenas um big blind por hora, você perceberá que isso fará diferença. 

Digamos que você esteja na reta final de um torneio que você tenha um pouco de vantagem sobre os adversários. Você acredita que ganhará cinco big blinds por hora na mesa em o stack médio é 100 bbs. Por outro lado, em uma mesa em que a média de fichas é de 10 bbs, você deverá conseguir um big blind por hora. Perceba que no primeiro caso, você ganhará 1/20 do seu stack por hora. Já no segundo caso, esse número sobe para 1/10. Claramente, a segunda situação é mais lucrativa. 

No entanto, a variância na mesa que tem uma média menor será bastante cruel. Você poderá quebrar mesmo sendo habilidoso. Se as fichas acabam, não é possível continuar jogando e ganhando um big blind por hora. Veja bem, em jogos mais deep, você poderá ganhar mais porque seus oponentes são fracos no pós-flop, mas em jogos com stacks curtos, você também pode ganhar muitas fichas enquanto seus adversários esperam mãos fortes.

O que estou tentando dizer é que mesmo que você ganhe poucas fichas, em termos de big blinds por hora, no final, isso poderá ser uma grande vitória, quando convertidos em dólares por hora. Não pense que só por você ter um stack pequeno, não há habilidade envolvida. 
 
 
DICA #2: Não quebre cedo; só entre de all-in se a sua equidade for muito grande
Geralmente, você deve tentar não quebrar cedo em um evento turbo, especialmente quando a estrutura de premiação tem uma boa recompensa apenas por entrar ITM. 

No evento de €5.300 que ganhei, 22 jogadores entraram e apenas quatro ganhariam dinheiro, o que corresponde a 18% do field. O 4º lugar levava algo como €12.000, ou 2,25 buy-ins. Em torneios com mais jogadores, normalmente, 12% do field será premiado e você receberá pelo menos 1,5 buy-in se premiar. 

Vencer um torneio como o meu significa que você embolsará perto de nove buy-ins, mas nos outros torneios, você levará mais. Nota-se que entrar ITM é mais importante à medida que as primeiras faixas de premiações pagam mais em relação ao buy-in. 

Em eventos com fields menores é interessante acumular fichas antes de se envolver em situações de all-in. Durante os três primeiros anos da minha carreira, joguei basicamente torneios no formato de sit-n-go. Eles recompensavam muito bem quem entrasse ITM, o que era quase 30% do field. Apesar do evento que venci no EPT não estar nesse extremo, ainda assim, a sua faixa de premiação era melhor do que a de muitos outros eventos. Por causa disso, eu acabei abortando algumas situações, no início, em que achei que a minha vantagem era pequena, dessa maneira, mantive a integridade do meu stack. Para chegar ao dinheiro, é preciso sobreviver aos estágios iniciais.

DICA #3: Não fique com medo de ir all-in com mãos medianas quando estiver short
Uma vez que você esteja com poucas fichas, não tenha de medo de empurrar. Quando ficar short, uma das piores coisas que você pode fazer é entrar de limp e pagar raises com mãos que não acertarão o bordo com a frequência necessária para se tornarem lucrativas, como 97; ou A10, que tende a acertar bastante a segunda melhor mão, mas não a melhor. 

Na casa dos 20 big blinds, se você quiser jogar tais mãos de maneira lucrativa, se alguém aumentar para 2,5 bbs e você acreditar que ele desistirá mais vezes do que pagará quando você empurrar all-in, então vá de all-in. É importante deixar claro que contra um oponente que só aumenta com mãos fortes, você deve dar fold, já que ele pagará seu all-in quase sempre. Sempre pense sobre seu oponente e suas tendências. 

Já com 10 big blinds ou menos, se todos derem fold até você, simplesmente empurre, especialmente se o range de call dos oponentes, que falam depois de você, é mais tight. Isso permitirá a você construir lentamente um bom stack. Ficar dando call em raises só lhe permitirá ganhar fichas quando você acertar a melhor mão e seus oponentes acertarem a segunda melhor — e todos sabem que isso acontece poucas vezes.
 
No próximo artigo, mais três dicas para ajudar os leitores a evoluírem em torneios turbos.
 
 
 
Jonathan Little @JonathanLittle
Jonathan Little venceu o WPT por duas vezes, tem mais de US$ 6 milhões acumulados em torneios e escreveu o livro “Segredos do Torneios de Poker Profissional”.



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