EDIÇÃO 80 » COLUNA NACIONAL

Estratégias Básicas Por Faixa De Stack - Parte Final

Jogando Deep Stacked


Fábio Eiji
Este é o terceiro e último artigo da série “Estratégias Básicas Por Faixa de Stack”. Anteriormente, já falei do jogo com stacks curtos e médios. Hoje, trataremos sobre o jogo deep stacked.
 
No geral, jogadores com mais experiência em cash games têm maior conhecimento sobre o assunto do que os jogadores de torneios. Isso acontece, obviamente, porque estão mais acostumados a trabalhar o jogo pós-flop e dimensionar melhor o tamanho das apostas.
 
Principalmente por passarem a maior parte do tempo jogando stacks de no máximo 40 big blinds, grande parte dos jogadores de torneios cometem erros conceituais, que vão da seleção de mãos ao tamanho de apostas, e acabam jogando de maneira bastante explorável. Porém, dominar os fundamentos do jogo deep é muito importante, já que essa é a única faixa de stack que os jogadores, devido ao early game, sempre jogarão nos torneios. Os grandes eventos tendem a começar com 200 a 300 bbs de stack. 
 
Em torneios, qualquer mesa em que o stack efetivo seja superior a 50 bbs, o jogo já pode ser considerado deep. É desse tipo de stack que trataremos a seguir.
 
Ranges para o jogo deep stack
Ao contrário do que acontece com os stacks curtos e médios, há muito pós-flop no jogo deep — e, mais importante que isso, espaço para manobras pós-flop por causa do SPR (stack to pot ratio – ver ed. 76) alto. Isso significa que constantemente chegaremos ao river. Ou seja, devemos selecionar mãos que tenham potencial para melhorar no futuro. 
 
O que isso significa? Mãos “dominadas” perdem valor, como ATo e KJo. Já as mãos suited, principalmente os connectors, e os AXs sãos melhores porque têm potencial de nuts.
Jogar em posição em um jogo deep é muito mais importante. Jogando SPRs baixos, a posição perde bastante valor, pois o jogo muitas vezes se resume em acertar e errar o bordo. Porém, com SPRs altos, há muitos caminhos a serem traçados até o river, em que largar seu top pair e afins é frequente.  
Por isso, devemos jogar realmente mais tight das posições iniciais e mais loose das posições finais, principalmente contra jogadores mais fracos.  
 
3-bet e 4-bet no jogo deep stack
A 3-bet no jogo deep não necessita ser tão polarizada como no jogo short. Aqui, haverá muito mais pós-flop, inclusive em potes com 3-bets. É comum, por exemplo, que regulares façam 3-bets contra jogadores mais fracos com mãos fortes, mas que não estão confortáveis enfrentando uma 4-bet. Para isso, utilizam “as melhores mãos que dariam fold”. 
 
Por exemplo, blinds 100-200, stacks de 20.000. Vilão (jogador fraco, com pós-flop ruim) abre 500 do UTG. Herói, do UTG+1, tem KQs. Temos bons motivos para 3-bet aqui: posição sobre o vilão, mão decente em uma situação que mostramos bastante força. Mas o principal motivo da 3-bet é que isolamos o jogo contra um jogador fraco pós-flop.
 
Com relação às 4-bets, aí sim precisamos estar mais polarizados, principalmente em jogos de até 100 bbs, em que, caso haja pós-flop, o SPR será baixo. Se quando aplicamos uma 3-bet deep stacked, os blockers, por exemplo, perdem bastante valor — já que há muito jogo pós-flop —, em situações de 4-bet, eles voltam a ser importantes porque há maior tendência do jogo se resolver ainda pré-flop.
 
Tamanho das apostas
O padrão para tamanhos de apostas com stacks até 30 bbs são, em geral, é pequeno, próximo à aposta mínima permitida. Isso funciona bem porque, em geral, não há tantos potes com mais de dois jogadores, principalmente nos blinds mais altos, e mantem-se ranges fracos nas mãos para o jogo pós-flop. No caso das 3-bets, elas costumam variar entre 2,2 e 2,5 vezes a aposta anterior, pois, com stacks curtos e médios, quase não há call em 3-bet. 
 
Porém, em um jogo deep, fazer mini-raises pré-flop e continuation bets (c-bets) de 30% do pote pode lhe trazer problemas no futuro, pois há a tendência de manter muitos jogadores na mão. Outro problema é que não ajuda a definir os ranges que enfrentamos e, muito menos, extrair valor, já que chegamos no river com um pote pequeno.
 
Jogando fora de posição, aumentar os tamanhos da aposta, tanto pré-flop quanto pós, ajuda a se defender principalmente de bons jogadores, já que jogadas como raise, c-bet e float  ficam mais caras, o que reduz a frequência das mesmas. Falando especialmente de 3-bets fora de posição, tome o devido cuidado de não facilitar demais a vida do seu oponente fazendo apostas muito pequenas, se comparadas ao stack que estão jogando. 
 
Principais erros de jogadores iniciantes
Baseando-se principalmente nos níveis iniciais dos grandes torneios, em que todos têm stacks grandes e parecidos (e nas retas finais há outros fatores, como pressão pelo prêmio), os principais erros que os jogadores menos preparados costumam cometer são tamanhos de apostas equivocadas, ranges distorcidos e limps em excesso.
 
Os jogadores mais fracos pensam muito em “proteger” a mão com a qual estão jogando e se esquecem de “jogar a mão em si”, ou seja, extrair valor quando deve extrair e dar um bom fold quando for necessário. 
 
Ao mesmo tempo, encontro jogadores mais antenados fazendo mini-raise pré-flop com uma mesa cheia de calling stations com muitas fichas. O resultado é: dezenas de potes com muitos jogadores, o que reduz a taxa de sucesso.
 
Sobre os limps, praticamente não há situações em que o open limp será uma boa jogada. Quando o jogador opta por abrir a mão apenas pagando o blind, o resultado é que ele acabará totalmente dependente da textura do bordo, além de enfrentar mais de um jogador, reduzindo drasticamente a chance de ganhar a mão. Porém, o pior mesmo é que ele vai acabar perdendo a maioria dos potes para o blefe de algum jogador competente que o explorará. 
 
Em relação aos ranges, é comum ver jogadores perdendo potes grandes com mãos fracas, como top pair ou até mesmo pares médios. É preciso pensar um pouco mais nos ranges que se enfrenta e visualizar os cenários para as streets futuras. Conceitos como implied e reverse odds e SPR devem ser os principais a orientarem o jogo pós-flop.
 
Este é o artigo que encerra o tema “Estratégias Básicas Por Faixa de Stack”. Espero que a série tenha ajudado você, leitor, a fundamentar suas jogadas, se adaptando a cada nova faixa de stack  durante os torneios. E lembre-se a base de todas elas: jogue agressivamente.
 



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