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Filosofia do Poker: Uma Questão de Habilidade


David Apostolico

No debate sobre o poker ser um jogo de sorte ou de habilidade, um de meus principais argumentos em favor da habilidade atesta o seguinte: “O poker é um jogo de habilidade porque a melhor mão nem sempre ganha”. Portanto, se a melhor mão nem sempre vence, deve haver outro fator influenciando além da sorte. A habilidade parece ser esse fator.

Contudo, eu ainda me aborreço com esse argumento. Acho que ele tem o efeito inverso de sua intenção. Na verdade, eu acredito que ele engana, em vez de embelezar o argumento a favor da habilidade. Para entender onde quero chegar, tomemos outra hipótese. E se a melhor mão sempre ganhasse? Isso significaria que o jogo de poker depende apenas da sorte e de nenhuma habilidade? Esse pareceria o argumento absoluto. Se “o poker é um jogo de habilidade porque a melhor mão nem sempre ganha”, seguindo essa lógica, concluímos que, se a melhor mão sempre ganhasse, o poker seria um jogo de sorte.

Tomemos outro exemplo. Imagine que você jogou uma maratona de cash game, contra um monte de jogadores inexperientes, em que a melhor mão sempre ganhou. Na verdade, a razão por que a melhor mão sempre ganha nesse jogo é porque sempre há um determinado número de jogadores que vai até o fim com qualquer draw e paga toda e qualquer aposta com qualquer mão. Blefar é inútil. Agora, adicionemos outra suposição. Essa partida hipotética é disputada por tempo suficiente para descontar qualquer variação no número de “boas” mãos que cada jogador recebe.

Como você acha que seria seu desempenho nessa partida? Eu suponho que você esteja salivando para jogar nessa mesa de poker em que a sorte reina suprema e a habilidade não tem influência. Isso ocorre porque a maior vantagem dos jogadores experientes não vem dos blefes, mas de dois outros fatores significantes. O primeiro, e talvez o mais importante, é a habilidade de minimizar as próprias perdas. O outro é explorar bem suas mãos vencedoras para obter o máximo de lucro possível.

Sente-se em uma partida loose de limites baixos e observe quais são os maiores perdedores. Invariavelmente é algum idiota que joga quase todas as mãos. Esse perdedor pode ganhar mais mãos do que qualquer outra pessoa na mesa, pois ele joga exageradamente. Ele também perderá mais dinheiro ao longo do tempo do que qualquer pessoa na disputa. Os maiores vencedores geralmente são os jogadores mais tight, que podem não ganhar muitas mãos no geral.

Embora os exemplos acima sejam extremos e óbvios, eles ilustram bem algumas conclusões. Primeiro, o conceito fundamental de maximizar ganhos e minimizar perdas é o mesmo em qualquer nível. Novos jogadores geralmente são vítimas do argumento segundo o qual eles precisam blefar para mostrar sua habilidade. Eles acham que nenhuma outra ação pode ser classificada como habilidade. Isso não desmerece o valor e a natureza habilidosa de um blefe e de outras formas de indução ao erro, mas não pense nelas como as únicas habilidades necessárias na mesa de poker.

Segundo, embora sua vantagem sobre seus oponentes ao maximizar ganhos e minimizar perdas possa não ser tão grande quanto nos exemplos acima, ela é aumentada quando se joga no-limit. Seus maiores ganhos em no-limit irão advir de oportunidades de levar o stack inteiro de seus oponentes. Você não fará isso blefando, mas preparando armadilhas para eles e explorando o valor máximo de uma mão vencedora. É preciso muita habilidade para isso.

Sim, existe muita sorte operando no poker. Receber uma mão boa ou ruim é algo que você não pode controlar. Contudo, o que você faz com essas mãos é sim uma questão de habilidade.

David Apostolico é autor de inúmeros livros de estratégia de poker, incluindo Tournament Poker and The Art of War e Poker Strategies for a Winning Edge in Business. Você pode contatá-lo em thepokerwriter@aol.com.




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