MIKE WATSON – O Melhor jogador que você não conhece

Ele tem sete vitórias na carreira, onze premiações de seis dígitos, sendo duas milionárias. Ele já venceu o World Poker Tour (WPT) e um dos mais prestigiados torneios do mundo na World Series of Poker Europe (WSOPE). Em apenas sete anos disputando os principais torneios do circuito, ele ganhou mais de 8 milhões de dólares vencendo outros gigantes dos high-stakes. Ainda assim, Mike Watson não é um figurão no mundo do poker.

Watson descobriu o jogo durante o “boom do poker”, mas suas habilidades foram desenvolvidas enquanto cursava Matemática Aplicada na Universidade de Waterloo. Depois, ele decidiu se especializar em Criptografia. Mas ignorar o seu sucesso nos feltros era impossível e então ele mergulhou de cabeça no mundo dos torneios high-stakes.

Talvez seja sua natureza mais quieta ou sua personalidade acanhada, mas, de alguma maneira, o profissional de 29 anos, de Toronto, conseguiu “voar abaixo dos radares” por todos esses anos, mesmo estando entre os 50 jogadores que mais ganharam dinheiro em torneios no mundo — o quarto canadense da lista.

Ele está atualmente no top 10 da corrida para Jogador do Ano da Card Player, e neste final de temporada, é totalmente plausível que possa chegar ao título.

A Card Player conversou com Watson sobre sua, ainda curta, porém, impressionante carreira:

Julio Rodriguez: Como você começou no poker?

Mike Watson: Minha história é bem similar à da maioria. Em 2004, depois que o poker ficou famoso na televisão, comecei a jogar com alguns amigos e fui fisgado. Então depositei 50 ou 100 dólares para começar a jogar online. Na época, eu estava em Waterloo, de onde alguns profissionais vieram. Eu ouvia histórias de jogos envolvendo Steve Paul Ambrose, Nenad Medic, Steve Black e Aaron Coulthard e, mais tarde, o próprio Mike McDonald. Na verdade, eu jogava em um home game em que o responsável era o Xuan Liu. Então, como você pode notar, havia muitos talentos na área naquele tempo.

JR: Como você chegou à conclusão que queria jogar poker para viver?

MW: Eu estava me graduando quando tomei a decisão. Depois de um ano, eu tinha colocado na cabeça que iria terminar o colégio e iria virar um profissional. As coisas iam muito bem. Toda semana, eu jogava confortavelmente todos os grandes torneios online, então eu já tinha tomado a decisão. Cerca de 12 meses depois, estava tentando terminar minha especialização, mas percebi que meu coração não estava naquilo, mas, sim, no poker, melhorando meu jogo e tentando levar minha carreira a um outro nível.

JR: Devido a sua formação, a maioria dos jogadores o taxam como um jogador estritamente focado em números?

MW: Tenho certeza que sim. A maioria me vê como um jogador bastante matemático e analítico, o que não é mentira. Mas esse estereótipo é visto como uma pessoa sem imaginação, o que não é verdade. Para ser um jogador bem-sucedido, você precisa conseguir mixar todos os elementos.

JR: Você venceu o Main Event da Bellagio Cup, válido pelo WPT 2008, bem cedo na sua carreira e faturou cerca de 1,6 milhão de dólares, mas então passou por um período de seca. Em algum momento, você pensou em largar o poker, pegar o dinheiro e achar uma nova profissão?

MW: Jogar ao vivo foi uma transição difícil para mim. Eu estava indo tão bem online que fiquei convencido de que poderia ter os mesmos resultados live. Claramente, aquilo era um modo ingênuo de ver o mundo do poker. Tive alguns resultados decentes aqui e ali, mas, no geral, não consegui grandes coisas por um tempo. O verão na WSOP foi péssimo e, como jogava com o meu próprio dinheiro, eu estava praticamente quebrado quando fui para aquele evento no Bellagio. Felizmente, consegui ganhar uma quantia que mudaria a minha vida. Comprei um apartamento e o resto do dinheiro me permitiu jogar o que eu quisesse.

Mas ganhar o torneio no Bellagio trouxe outra sensação de falsa segurança. Meu objetivo sempre foi vencer um grande torneio ao vivo e então eu já tinha conseguido isso. Acho que pensei que aquilo ia continuar a acontecer de novo e de novo. Comecei a jogar torneios com entradas ainda mais caras e os nosebleed no online, mas as coisas não foram bem. Em 2009, finalmente quebrei. Eu não estava indo bem nem nos torneios online, o que, antes, para mim, era como uma fábrica de “imprimir dinheiro”. Eu tinha ficado para trás da curva de aprendizado. Isso foi quando os sites de treinamento explodiram e os jogadores estavam ficando cada dia melhores, e eu tinha fracassado em me ajustar.

JR: Como você foi afetado pela Black Friday?

MW: Eu não fui afetado como alguns dos jogadores de high-stakes dos Estados Unidos, mas, ainda assim, machucou. Eu tinha uma boa quantidade de dinheiro presa no Full Tilt. Como eu havia investido dinheiro em minha casa e no mercado de ações, meu bankroll online não estava tão grande quanto costumava ser. Eu jogava o que queria, mas a Black Friday me fez diminuir o ritmo e os buy-ins. Isso me deu a motivação que eu precisava para sair por aí. Comecei a ter uma fase muito boa ao vivo e, a partir dali, as coisas começaram a funcionar.

JR: Você é muito bom em manter um equilíbrio saudável entre o poker e seu cotidiano, mas naquela época não era bem assim, certo?

MW: É verdade. O grande problema era que meu interesse era somente o poker. Eu ganhei muito peso e minha vida social praticamente deixou de existir. Depois de garantir meu futuro, financeiramente falando, trabalhei duro para voltar à forma, o que também teve um efeito positivo no meu jogo. Acredito que estar bem fisicamente lhe ajuda a estar preparado para enfrentar as longas sessões na mesa. Depois, meu foco foi sair mais e conhecer pessoas novas. Eu tinha muitos amigos mundo afora, mas quando voltei para Toronto, eu me exilei do mundo. O poker, em sua essência, lhe faz ficar mais introvertido. Qualquer jogo que requer muita análise e trabalho mental faz isso. No poker, você é forçado a interagir com os outros quando joga eventos ao vivo, mas isso é tudo o que você tem, então sua visão do mundo real fica distorcida. Sei que tive épocas em que eu fui tímido e fechado, mas sempre me esforcei para ser uma pessoa mais sociável. Gosto de pensar que cresci e tive mais sucesso com isso. Também fiquei mais confiante.

JR: Uma boa parte do seu sucesso nos torneios ao vivo veio de eventos em que as entradas eram bastante caras, mais especificamente, os torneios high-roller. O que torna esses torneios tão atraentes?

MW: É sempre o mesmo grupo de regulares, isso é certo. Ocasionalmente, entram cinco ou dez empresários com muito dinheiro. Alguns jogadores de limites mais baixos tentam a sorte ou entram “cavalados”, mas basicamente são os mesmo caras. Você conhece todos e isso faz com o que a atmosfera seja bem tranquila, mesmo que estejam jogando por uma grande quantidade de dinheiro.

JR: Você acha que esses tipos de torneios sobreviverão na economia do poker? E como você se ranqueia entre esse grupo de jogadores?

Há muita vantagem em voar abaixo dos radares também. Isso me faz concentrar em apenas jogar poker. A atenção cai em outros jogadores, e eles usam isso como fator de motivação, ou pior, deixam que isso afete seus jogos. Então, eu não me importo de ser um pouco desconhecido.

- Mike Watson

MW: Acredito que veremos menos desses torneios. Basicamente, eles existem porque atraem jogadores ricos, mas que não são tão bons. Então, tudo dependerá de quanto esses caras se divertirão nesse tipo de evento. Sem eles, o edge (vantagem) em torneios high-roller é muito pequeno para justificar o investimento. Dito isso, acredito que os high-rollers podem se sustentar se o poker continuar crescendo em outros lugares do mundo. Mesmo se algum deles deixar de existir, os torneios que continuarem ficarão ainda mais populares.
Quanto à segunda pergunta, acho que estou lá em cima. Não acredito que eu seja o melhor jogador, acho que nem mesmo estou entre os dez melhores, mas gosto de pensar que estou acima da média. Do contrário, eu ainda não estaria jogando.

JR: Nos últimos três anos, você ganhou mais de 4 milhões de dólares em torneios ao vivo e online. Você sente que se seus feitos foram ignorados pela imprensa?

MW: Sim, eu me sinto um pouco ignorado. De tempos em tempos eu tenho um grande resultado e me perguntou, “quando as pessoas vão perceber isso?” Mas há muita vantagem em voar abaixo dos radares também. Isso me faz concentrar em apenas jogar poker. A atenção cai em outros jogadores, e eles usam isso como fator de motivação, ou pior, deixam que isso afete seus jogos. Então, eu não me importo de ser um pouco desconhecido.

JR: Você está atualmente no top 10 da corrida para o Jogador do Ano da Card Player. Esse é um título que você almeja?

MW: Esses prêmios de final de ano não são coisas que eu dou tanto valor, mas essa é provavelmente a minha melhor chance de vencer. Tudo vai depender de como vou me sair na WSOPE, EPT de Londres e WPT de Paris. Se eu não conseguir nenhum grande resultado nessa viagem, vou tirar o resto do ano de folga, já que será difícil alcançar os líderes. Mas eu estou na disputa e vou jogar tudo até dezembro. Eu não posso deixar o [Daniel] Negreanu vencer de novo. Alguém tem que parar esse cara (risos). ♠


Os melhores resultados de Mike Watson nos torneios ao vivo