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I Torneio da Confederação Brasileira de Texas Hold`em

O Poker nacional viveu um momento histórico durante os dias 26 e 27 de janeiro de 2008, na cidade maravilhosa. Foi realizado o primeiro torneio oficial da Confederação Brasileira de Texas Hold`em, que significou um importante passo para a consolidação desse esporte no Brasil.


Amúlio Murta

Nascida da união das oito maiores federações estaduais, a Confederação tem em sua base nomes bastante conhecidos no poker nacional como Guga Azevedo (BA), Marco Marcon (PR), Fernando Conrado (RS), Júlio César Costa (GO), Beto Bahia (RJ), Osvaldo Naves (MG), Habbib (DF) e Rogério Whitaker (SP).  Esses verdadeiros empreendedores trazem consigo, além da credibilidade adquirida com do histórico de luta e de trabalho em prol do Texas Hold´em, a certeza de que a Confederação chega para legitimar essa modalidade no país.

Uma atitude inovadora e revolucionária
A cada dia vivenciamos um novo fato na construção da recente história do Texas Hold’ em nacional. 2007 pôde ser considerado um ano de consolidação e, com surgimento da Confederação Brasileira de Texas Hold’ em – CBTH, 2008 começa com um importante passo na busca pelo tão desejado reconhecimento do nosso esporte.

Além de lutar pela legitimidade do Texas Hold’em, a Confederação pretende regulamentar sua prática em todas as suas unidades regionais afiliadas, e alguns passos já foram dados nesse sentido: a unificação do calendário e a criação de um ranking único de onde sairá o nome do campeão brasileiro da temporada são apenas o começo de uma série de ações que tendem a mudar de vez a cara do Hold’em nacional.

Surgida após quase dois anos de conversas e negociações, a CBTH irá também supervisionar as entidades filiadas. Nas palavras de Osvaldo Naves, presidente da Federação Mineira de Texas Hold`em e vice-presidente da Confederação Brasileira, um dos objetivos da Confederação é “canalizar esforços para legitimar o Texas Hold’em no país, lutando pela regulamentação e pelo reconhecimento nacional desse esporte”. Osvaldo ressalta um aspecto muito importante na busca desse objetivo: a transparência das ações e a idoneidade das pessoas envolvidas. Ele afirma que esse dois fatores são essenciais para o reconhecimento do Texas Hold´em no Brasil. O maior incentivador do poker desportivo em Minas Gerais afirma ainda que estão previstos para o primeiro semestre de 2008 a promulgação do estatuto e o lançamento do site oficial da CBTH. “A internet é a melhor forma de os organizadores de torneios e jogadores acompanharem os rankings e todas as ações da Confederação”, afirma Osvaldo.

Segundo Rogério Whitaker, Presidente da entidade, ”o número de praticantes de Texas Hold`em tem aumentado a olhos vistos no país. Esse crescimento reforça a necessidade da criação de um movimento sério e organizado, capaz de lutar pela regulamentação dessa prática desportiva e de contribuir com os afiliados na organização e gerência de torneios”. Rogério é também presidente da Federação Paulista de Texas Hold’em.

O Torneio
A Cidade Maravilhosa foi escolhida para a realização do torneio de abertura da Confederação Brasileira. Durante os dias 26 e 27 de janeiro, o Texas Hold’em nacional fez história em Copacabana. O evento, que contou com o suporte da Federação de Carteado Profissional do Estado do Rio de Janeiro, começou a mostrar seu diferencial já com o número de jogadores inscritos. Foram 188 participantes – maior número já registrado em um torneio com buy-in de R$1.000,00 no estado do Rio de Janeiro.

Com uma estrutura semelhante à dos grandes eventos internacionais, cada competidor começou o torneio com 10.000 fichas, e os blinds em 50-100, aumentando a cada 45 minutos. A disputa teve início por volta das 15h do sábado, dia 26, e Wagner Ferreira foi o primeiro eliminado. Como prêmio de consolação, ele levou para casa um pacote incluindo passagens aéreas e estadia no Conrad, em Punta del Este.

O torneio começou com um ritmo bastante acelerado. Decorridas as primeiras quatro horas já havia 50 jogadores fora da competição. Dentre eles, atletas de renome como Felipe Mojave, Gabriel Almeida, José Bed e Cinthia Escobar. Destaque das primeiras horas de competição, Eduardo “Sequela” conseguiu, após dois double-ups quase em seqüência, assumir a liderança em fichas, com cerca de 50K. A partir dali, ele faria um torneio muito regular, e durante todo o primeiro dia e boa parte do segundo, manteve seu stack aproximadamente três vezes o acima do average.

Ao fim do primeiro dia, 39 jogadores ainda permaneciam de pé, com Marcelo Curi como chip leader (133K).

O Dia #2
Mumu “Senhor do Baralho” foi a primeira queda do segundo dia. Em seguida Aldo, no UTG, aposta 2x o BB. A mesa roda em fold e João “Vovo_Leo” Monte paga do button. O flop traz 7 89, Aldo pede mesa e Vovo aposta 10K. Aldo dá call. O turn traz o 5. Aldo pede mesa e Vovo_Leo volta all-in. Após pensar bastante, Aldo resolve largar a mão. Vovo mostra JT, leva o pote e assume a 2a posição em fichas com 130K.

Deal
Quando restavam 25 jogadores na disputa foi realizado um deal: retirou-se 3K do primeiro colocado, 1K do segundo e 1K do terceiro. Dessa forma, os 25 mais bem colocados seriam premiados. Àquela altura, a posição de chip leader era ocupada pelo carioca Leandro Raggio (225K). A tabela de premiação ficou assim:

1o Lugar = 47K
2o Lugar = 27K
3o Lugar = 14K
4o Lugar = 12K
5o Lugar = 10K
6o Lugar = 7K
7o Lugar = 6K
8o Lugar = 5K
9o Lugar = 4K
10o Lugar = 3K
11o ao 18o = 2K
19o ao 25o = 1K
 

Duelo de Titãs – parte I
Com a proximidade da mesa final, o jogo tornou-se extremamente tight. Poucos se arriscavam a fazer jogadas que poderiam custar a participação na FT. Quando faltavam apenas duas quedas para o estouro da bolha da mesa final, tivemos o momento mais importante do 1o Torneio da Confederação Brasileira. Num verdadeiro duelo de titãs, o chip leader Sequela (480K) bateu de frente com João "Vovo_Leo" Monte, segundo em fichas (±330K). A mão mais discutida e comentada do torneio começou com Sequela na posição de small blind dando mini-raise. A mesa roda em fold até que Vovo_Leo decide pagar a aposta. O flop traz um 25Q. Sequela aposta mais 50K e, após sofrer um raise de 110K de Vovo_Leo, ele imediatamente volta all-in. Vovo_Leo, depois de um mergulho profundo nos próprios pensamentos, decide pagar. As cartas mostradas são 54 de Vovo contra AA de Eduardo “Seqüela”. O turn traz o K e o river o 3, dando um flush para Vovô e quebrando o par de ases de Sequela. Com isso, Vovo_Leo tornou-se o novo chip leader com mais de 600K em fichas. Mais tarde ele contaria, em entrevista à Card Player Brasil, o que passou pela sua cabeça naquele instante: “Após o all-in de Sequela, na situação em que eu me encontrava (comprometido com o pote), se eu optasse por largar a mão, ficaria com um stack semelhante ao do restante dos jogadores do torneio. Pelo meu raciocínio, calculei que possuía 50% de chances contra um par alto, já que tinha um par e um flush draw. Decidi ir para a briga, ganhei a mão e fiquei gigante. Daí por diante, foi só alegria”.

O Estouro da Bolha
A mão que determinou a queda de Marcelo Curi como o bolha da mesa final teve três jogadores envolvidos: Juliana El-Khoury, Alexandre e o próprio Marcelo. Tudo começou quando com o raise de 20K de Alexandre. Mas Juliana deu call e Marcelo voltou all-in de cerca de 45K, imediatamente pago pelos outros dois jogadores. O flop trouxe 10-8-9 rainbow. Os dois restantes pediram mesa e, para complicar um pouco, o turn trouxe um 7. Mais uma vez, Alexandre e Juliana deram check novamente. O river trouxe um J. Com um straight no bordo, Alexandre optou por pedir mesa mais uma vez, mas não foi acompanhado por Juliana, que apostou 40K. Após pensar por algum tempo, Alexandre decidiu largar a mão. Juliana apresentou Q-K, eliminando Marcelo na bolha da mesa final.

A mesa final
Eis a contagem de fichas no início da Final Table:

Vovo_Leo- 472K
Pedro Largacha – 324K
Juliana El-Khoury – 246K
Eduardo Sequela – 228K
Mário Borges – 156K
Rafael Caiaffa – 115K
Leandro Raggio – 102K
Alexandre – 101K
Juliana Bernardini – 79K
Osvaldo Naves – 57K

Torcida em Família
As duas Julianas, representantes femininas na mesa final, tinham outro aspecto em comum além do nome: a torcida dos familiares. Juliana El-Khoury tinha o apoio de seu marido que, desde o dia anterior, se esforçava para acompanhar as jogadas feitas por ela. Sempre posicionado de pé sobre uma cadeira colocada estrategicamente próxima às mesas por onde Juliana estivesse jogando, lá estava ele na torcida. Já Juliana Bernardini tinha na presença de seus familiares um forte apoio para superar os desafios do torneio. Provando que o Poker é um esporte familiar, onde quer que Juliana estivesse, atrás dela sempre estavam os Bernardini apoiando e torcendo. Nesse caso, além da presença do marido, Juliana contava também com a torcida dos filhos.


A primeira queda
Mesmo contando com toda a torcida de seu marido e filhos, Juliana Bernardini acabou sendo a primeira queda da mesa final, quando seu par de oitos bateu de frente com um KK.

Em seguida, Osvaldo Naves conseguiu um double-up providencial após ser colocado em all-in por uma aposta de 40K de Leandro Raggio. Enquanto pensava se pagava ou não, Osvaldo brincava, comentando o fato de nunca ter vencido uma mão com um par de setes. Mesmo assim, decidiu pagar e viu seu 7-7 superar o AJ apresentado por Leandro Raggio. Com isso, deixou a desconfortável condição de short stack nas mãos de Alexandre, que seria a segunda queda da mesa final. Esse, em middle position, decidiu entrar de all-in com KQ, recebendo insta-call de Juliana El-Khoury no big blind, com AJ. Ele não obteve ajuda do bordo e caiu na 9a posição.

Duelo de Titãs – parte II
O último embate entre os gigantes Sequela e Vovo_Leo deu-se por volta das 23h. Após uma aposta de 30K de Vovo, Sequela empurra um raise de 75K, do cutoff. Vovo_Leo paga a aposta e o flop traz 8-9-5. Vovo pede mesa e Sequela decide ir de all-in, mas foi pago, apresentando AQ enquanto Vovo_Leo tinha J9. O restante do bordo não interferiu no cenário e Sequela encerrou sua brilhante participação na oitava posição.

Após almejar uma reação no torneio, triplicando as suas fichas em uma mão envolvendo Juliana El-Khoury e Mário Borges, Leandro Raggio com JT acabou eliminado na 7a colocação por Pedro Largacha, com QJ. Já na primeira hora do dia 28, Osvaldo aposta 58K e recebe um “call no escuro” de Rafael Caiaffa, que não havia olhado suas cartas. Com isso, Caiaffa ficou de all-in. Osvaldo apresenta K-9 e Caiaffa A-9, o bordo trouxe 10-2-J-9-4. O atual campeão mineiro dobrou suas fichas e deixou Osvaldo short stack. Em seguida, no UTG, Osvaldo entra de all-in com 10K e recebe um raise de 75K de Caiaffa. Osvaldo apresenta 9-10 e Caiaffa 6-6. O bordo final foi 6-K-3-6-7 dando uma quadra para Caiaffa e eliminando Osvaldo na 6a colocação.

Caiaffa, que jogou o torneio inteiro short stack, viu suas esperanças de vencer a disputa ruírem quando o chip leader com folga, Vovo_Leo, apostou 60K do small blind. Caiaffa deu raise all-in de 98K. Vovo_Leo pagou a aposta apresentando KQ e Caiaffa mostrou AA. O bordo veio 3T2JQ e, pela segunda vez, o iluminado Vovo_Leo quebrava um par de ases com um flush. Caiaffa conseguiu uma honrosa 5a colocação, saindo muito aplaudido pela torcida.

Com o momento da decisão cada vez mais próximo, tivemos a definição do quarto lugar. Última representante feminina a deixar o torneio, Juliana El-Khoury, ficou em 4º após entrar de all-in com 98 contra JT de Pedro. O bordo final foi T9454 e Juliana acabou deixando o torneio. Na disputa pelo título, restavam Pedro Largacha, Mário Borges e Vovo_Leo que, àquela altura, possuía 2/3 das fichas em jogo.

Começando Por Cima
O mineiro Mário Borges, que disputava seu segundo torneio ao vivo, apresenta uma curiosidade em seu histórico. Especialista em poker online, ele foi um dos primeiros sul-americanos a conquistar uma vaga para o WSOP através de um satélite pela intenet. Rindo, Mário conta que começou sua vida em torneios live pelo caminho inverso. Ao contrário da maioria dos jogadores, que começa disputando pequenos torneios e sonha em um dia participar do maior torneio de poker do planeta, ele começou a jogar torneios ao vivo pelo Main Event do WSOP, em Vegas. No 1º Torneio da CBTH, ele acabaria conquistando a 3a posição, em uma mão com A-9 contra A-Q de Vovo_Leo. O bordo trouxe Q-T-2-2-2, dando um full house para Vovo, que faria o HU contra Pedro Largacha.

Heads-Up Relâmpago
Com uma diferença monumental de fichas entre Vovo_Leo e Pedro Largacha, todos esperavam um HU rápido. A questão era: quanto tempo Pedro resistiria à pressão de Vovo? Com menos de sete minutos de disputa, após um raise de 50K de Pedro, Vovo pagou e o flop trouxe 9-T-T. Pedro apostou 100K e Vovô pagou mais uma vez. O turn foi um 2 e Pedro decidiu apostar tudo. Vovo_Leo pagou instantaneamente e apresentou 10-8, e Pedro apresentou um 6-6. Quando o river foi virado, nada mais poderia mudar a história do torneio.

Parabéns ao grande Campeão do 1o Torneio da CBTH, Vovo_Leo. Esse verdadeiro titã do poker brasileiro mostrou-se um jogador que teve coragem para ousar, seguindo seus instintos ao encarar – e vencer – um par de ases com suited connectors baixos em um momento delicado da competição, construindo uma imensa vantagem em relação aos oponentes e conquistando um torneio histórico para o Texas Hold`em nacional.

Parabenizamos também àqueles que trabalharam na organização do evento, e aos jogadores que engrandeceram o torneio com participações brilhantes.

E claro, desejamos toda sorte e sucesso ao pessoal da Confederação Brasileira de Texas Hold´em, que tem nas mãos uma grandiosa empreitada em prol da legitimação do nosso esporte.




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