EDIÇÃO 63 » ESPECIAIS

Sam Trickett - Entre Macau e o mundo real


Redação
Em um bar na Inglaterra, com o coração partido, um jovem se vê forçado a abandonar os gramados. Foi assim que Sam Trickett passou a amar o poker. E prometeu viver no limite, em um nível mais alto a cada dia.

Hoje, Trickett vive entre Macau e o mundo real. Em meio a essas viagens, ele conquistou a segunda maior premiação da história do poker.

Conheça um pouco mais desse genial jogador, nesta entrevista exclusiva para a Card Player.


Sam Trickett veio do futebol. Entretanto, uma contusão pôs fim aos seus sonhos com a bola rolando, “Eu era jovem e queria me profissionalizar. Só pensava nisso todos os dias”, conta.
Aos 10 anos, Trickett começou a jogar pelo Retford United, equipe da sua cidade natal, e chegou às categorias de base da seleção inglesa. Seis temporadas depois, foi descoberto pelo Nothingham Forest, que o contratou. Essa seria a sua última participação no futebol inglês. “Minha contusão no joelho foi a notícia mais devastadora notícia que já recebi. Eu não sabia o que fazer. Tive sorte de poder contar com a ajuda de uma família maravilhosa”.

Após a ruptura dos ligamentos do joelho, não demoraria muito para o ex-boleiro encontrar a sua nova paixão. Trickett disse que começou a olhar para o jogo de maneira diferente depois de assistir aos vídeos de treinamento de Phil Galfond.

“Eu o vi analisar o jogo e falar sobre gamas”, disse Trickett. “Então joguei centenas de mãos online nos stakes médios e comecei a compreender e a jogar bem regularmente.” Os seus fundamentos foram aperfeiçoados, porém, ele cometeu um erro que custaria seu bankroll.

Em 2009, Trickett disse que ele quebrou por ter sido “imaturo e irresponsável” com o seu dinheiro. Felizmente, seu amigo James Bord, campeão do Main Event da WSOP Europa, estava ao seu lado. Trickett descreve Bord como um irmão mais velho, que teve boa parte da responsabilidade de levá-lo para Macau.
“Meu gerenciamento de bankroll foi terrível,” disse Trickett. “Perdi muito por ser irresponsável com o dinheiro no passado. Muitos jogadores fazem tentativas em jogos mais altos quando estão perdendo, o que não é uma boa ideia. Tentar participar dos jogos mais caros é bom, contanto que você esteja forte, sentindo que está jogando bem.”

No fundo da sala de poker no Cassino StarWorld, Trickett se senta com alguns dos melhores do mundo. Ao seu lado, os únicos profissionais ocidentais do local são Phil Ivey, Tom Dwan e Gus Hansen.

A ação nos high stakes de No-Limit Hold’em costuma ser de $5.000-$10.000 HKD (dólares de Hong Kong), mas os valores estão subindo para $10.000-$20.000 HKD (cerca de $1.200-$2.500 dólares americanos).

A sessão média para o britânico é de cerca de 20 horas. Ele tornou-se um jogador assíduo graças ao seu estilo de jogo. Trickett conheceu o funcionário do cassino que gerencia os jogos enquanto estava participando de uma mesa mais barata. “Ele viu que eu jogava muitas mãos e criava grandes potes” disse Trickett. “Assim, um dia precisaram de alguém, e ele me perguntou se eu queria jogar. Aceitei. Gosto de jogar muitas mãos assim mesmo. É mais divertido. Me agrada entrar em potes interessantes. Se eu estou em uma mesa tight, parece que estou em um escritório, e isso é meio tedioso.”

Segundo Trickett, todos em Macau têm o mesmo estilo. Os jogadores por lá gostam de potes grandes. “Se você não quiser, não será chamado para jogar”, disse. “Todos sabemos que, se quisermos pequenas vitórias em todas as sessões, devemos agir de maneira sólida e tight”.

Tickett costuma fazer buy-ins grande Normalmente, ele entra no jogo com $4 milhões HKD, cerca de 516.000 dólares americanos. “É uma atmosfera excelente. Todos são realmente amigáveis. Ninguém reclama ou se lamenta quando está perdendo. As pessoas conversam para se socializar e não para conseguir leituras. Não é este o tipo de jogo.”

Contudo, Trickett afirma que, apesar de ser uma atmosfera amigável, o jogo tem se tornado cada vez mais difícil. “Os empresários chineses são espertos. Aprendem rapidamente. Eles observam as coisas que os profissionais fazem e imediatamente imaginam o que eles estão fazendo e o porquê. Na realidade, é realmente impressionante a velocidade com que eles têm se adaptado e melhorado.”

Trickett quer continuar como uma presença constante no jogo, assim como pretende seguir aumentando as apostas, ainda que não haja mais para onde subir. “Estou contente em jogar contra qualquer um, em qualquer limite”, disse.

Quando Trickett não está em Macau, pode ser encontrado jogando ao vivo no cassino Palm Beach, em Londres, na mesa mais cara que houver.

Trickett disse que os jogos em qualquer lugar no mundo têm sido deficientes. “No momento, os cash games no Reino Unido estão muito difíceis e não têm sido tão bons. Os jogos na Ásia sempre parecem ser mais altos do que na Inglaterra e nos Estados Unidos, sobretudo porque os jogadores naqueles países adoram ver flop e apostar um pouco mais pré-flop”.

Apesar de todas as suas cifras, Trickett disse que o No-Limit Hold’em pode ser cansativo às vezes. Ele odeia os dias iniciais dos torneios. “Sinto como se fosse trabalho”, afirmou. Por causa disso, de vez em quando ele para e pensa quão longe chegou em um período de tempo tão curto.

Trickett agora tem liberdade para participar das mesas mais altas do mundo sempre que tem a chance. “É tudo muito surpreendente. Se passaram somente dois ou três anos desde que eu estava jogando $1-$2 online”.

Em janeiro do ano passado, Trickett tinha ganhado US$1,6 milhão em torneios ao vivo. Em dezembro, já possuía uma marca de US$6,3 milhões. Ele começou 2011 ganhando o evento com buy-in de $100.000 no Aussie Millions, faturando $1,5 milhões de dólares. O torneio, que contou com 38 dos melhores jogadores do mundo, foi de longe o maior resultado na carreira de Trickett.

Na semana seguinte, Trickett decidiu entrar no evento de Super High Roller de $250.000 do mesmo Aussie Millions. Com 20 jogadores fazendo o faraônico buy-in, ele passou superou um field que incluía alguns empresários chineses com quem ele estava familiarizado desde o seu tempo de Macau. No final, ele acabou na segunda colocação, embolsando mais $1,4 milhões. 

Trickett ficou na faixa de premiação de grandes torneios mais quatro vezes antes do Main Event  do Partouche Poker Tour, que lhe rendeu outra premiação de sete dígitos na temporada. Agora, uma bolada de $1,3 milhões de dólares.

E não parou por aí. Trickett terminou o ano chegand à mesa final de um High Roller do European Poker Tour, e conquistando um quarto lugar no evento de Pot-Limit Omaha da WSOP Europa.

À caça do precioso bracelete
Apesar dos inúmeros títulos, Sam Tricket ainda não conquistou um bracelete da World Series Of Poker. Na atual temporada, porém, ele chegou bem perto. No torneio “The Big One for One Drop”, cujo buy-in foi a bagatela de um milhão de dólares, ele chegou ao heads-up contra Antonio Esfandiari. Mas não seria dessa vez que o bracelete iria para o seu pulso. Pela segunda colocação, Trickett embolsou de mais de dez milhões de dólares, a terceira maior da história do poker.

Por tudo isso, dentre os jogadores da nova geração, Sam Trickett está entre os que mais brilham no feltro, sempre com agressividade, técnica e, claro, muita estrela.



NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×