EDIÇÃO 60 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

A Lenda do Longo Prazo

Ninguém sabe ao certo quando ele chegará ou se sequer existe


André Dexx

Quando se tem contato com o poker, uma das coisas que vão falar na sua cabeça dia após dia é sobre o bendito longo prazo. Mas, a verdade, é que ninguém sabe ao certo quando ele chegará ou se sequer existe. Este tem sido um dos temas mais abordados pela comunidade nos últimos anos – e essa discussão está bem longe de terminar.

Com um número cada vez maior de profissionais esmiuçando o jogo e aproveitando suas as vantagens matemáticas e psicológicas, o cenário está mais nivelado. Com o edge sobre o field diminuindo, a lógica é que os swings fiquem mais fortes e, assim, o nosso tema volta à tona.



No gráfico acima, a linha tracejada A é uma simplificação do que seria o longo prazo. As demais linhas (B, C, D, E, F) representam os caminhos pelos quais a linha A poderia passar até alcançar o longo prazo.

Analisando jogadores normais seria impossível chegar ao longo prazo, por diversas razões. Primeiro porque o jogo de qualquer um está em constante adaptação, de acordo com as informações que adquirem, em escolas de poker, fóruns etc. Isso faz com que, tanto o jogador quanto o field que ele vem enfrentando, mude todos os dias. Assim, quando o jogador em questão possuir uma amostragem satisfatória de mãos, algumas das variáveis (field e nível de jogo) já mudaram. Um ciclo que impediria a chegada do utópico longo prazo.

O segundo ponto é que, mesmo sem considerar isso, a quantidade de outras variáveis é tão insana que beira o impossível  contabilizá-las até a conversão da amostra. Não por acaso, um bom jogador sempre terá edge no poker.

Em um pensamento bastante simplista, seria possível alcançar o longo prazo com uma amostragem que, provavelmente, faria o Hold’em Manager travar – pense na quantidade de permutações de mãos e bordos em uma mesa. Mas, para que isso aconteça, em vez de usarmos a base de dados de um humano, teríamos que usar a de um bot, e jogando contra um field também de bots, que não poderiam ser atualizados ou modificados. Dessa maneira, por mais absurdo que seja, controlaríamos todas as variáveis e, então, seria possível alcançar o longo prazo.

É justamente pelos jogadores não entenderem o conceito que, muitos,  caem em uma armadilha. Depois de jogarem algumas milhares de mãos e conseguirem resultados expressivos, eles acreditam que seu resultado está próximo da linha A, de acordo com suas habilidades, quando, na verdade, o que aconteceu foi uma good run.

Passado o bom momento, começa um período de derrotas, e o jogador começa a jogar “sabotando a si próprio”. Ao considerar que possui uma expectativa positiva, ele acredita que vai voltar a ganhar sem fazer os ajustes necessários no próprio jogo. Mas o que de fato acontece é que ele caiu em sua armadilha; entrou em um caminho que muitos não conseguem voltar, pelo menos até serem obrigados a descer de limite ou, fatalmente, quebrarem.



É possível que em 100.000 mãos, você receba A-A em todas elas, e perca todas as vezes. Mas, mesmo existindo essa possibilidade, é improvável que esse fenômeno estatístico aconteça – a a chance é de 0,0000...1%. Sabemos que se levarmos em conta 100.000 pares de ases, é mais fácil que eles sejam derrotados em 50.000 ocasiões do que em todas as 100.000. Se formos diminuindo esse número, as chances dos ases perderem são ainda menores, o que leva nossa expectativa cada vez mais próxima do longo prazo.

E qual o ponto disso? Por mais que você possa passar por uma bad run, fenômenos como o citado acima são pontos situados bem fora da curva. Se você realmente for melhor que a média do field e fizer um volume razoável, será mais fácil estar caminhando pelas linhas A, B, C e D do gráfico do que pela E ou F.

O poker é um jogo em que sempre haverá muito edge a ser conquistado. Com isso, sempre haverá jogadores profissionais – a menos que a legislação torne inviável.

Espero que o conceito de longo prazo tenha ficado mais claro. Lembre-se: a melhor forma de ter um gráfico crescente, sem muitos swings, e ainda chegar mais próximo do resultado esperado é estudando e praticando mais do que seus adversários. Não importa o que aconteça, continue jogando!
 

Ficou na dúvida?
Edge – vantagem;
Swing – oscilação, variância;
Hold’em Manager – Software de captação e análise de dados de poker;
Bot – é uma aplicação de software concebido para simular ações humanas repetidas vezes de maneira padrão;
Good Run – quando o jogador passar por uma fase boa. Exemplo: suas mãos, favoritas ou não, ganham com mais frequência do que o normal (estatisticamente falando);
Bad Run – quando o jogador passa por uma fase ruim.




NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×