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Passeando pela meca do Poker e adjacências - Parte II


Leo Bello

Foi boa a receptividade da idéia de escrever um artigo fazendo um tour pelas principais cardrooms de Las Vegas. Em 2008, muitos jogadores brasileiros pretendem fazer sua estréia nos feltros internacionais e a cidade, claro, é parada obrigatória.

É curioso escrever sobre a Sin City, já que há dois anos eu sequer a conhecia. De lá pra cá, quando chego em Vegas, já me sinto praticamente em casa, com locais preferidos, caminhos alternartivos e um conhecimento que permite diminuir minhas chances de entrar em uma furada.

Até certos pontos práticos mudaram. Nas primeiras vezes em que fui, andava de táxi entre os cassinos, sempre pagando também tips de até 5 dólares para os taxistas. Resultado, no final do dia, morria em 50 a 100 dólares dependendo dos trajetos.

Nas últimas vezes, descobri que alugar um carro no próprio aeroporto, em uma das locadoras da cidade, pode sair bem mais em conta, principalmente se você estiver acompanhado de pelo menos um amigo para rachar a conta. Além do mais, isso lhe dá liberdade para explorar mais a cidade e se locomover rapidamente entre os cassinos.

Para transitar sem problemas por Vegas, basta alugar um GPS junto, que sai por menos de 10 dólares no preço da diária. O estacionamento é tranqüilo, todos os grandes hotéis têm valet park gratuitos. No máximo, você dá uma gorjeta de 1 dólar na hora de pegar o carro. A espera nesses valets na hora de pegar o carro não chega a 10 minutos.

Uma coisa bem importante é planejar o seu dia. Decidir quais torneios pretende jogar, ou para qual cash game pretende ir. O bom é tentar se programar com cassinos próximos. Exemplo: Wynn e Venetian, Caesar’s e Bellagio, Planet Hollywood e MGM.

Resolvi continuar o tour através das cardrooms deste artigo, pela que mais me impressionou em todas as minhas viagens: o Venetian.

Juntamente com o Wynn, essa é uma das cardrooms mais novas de Vegas, tendo sido inaugurada em 2005, ou seja, há menos de três anos. O que mais impressiona é o tamanho. Tem pelo menos três vezes mais mesas que a do Bellagio e a do Wynn, ficando no mesmo patamar do Caesar’s nesse quesito. A diferença está na qualidade dos jogos, pois os torneios têm estruturas muito boas, sempre com uma quantidade de fichas iniciais bem gorda, e blinds subindo a cada 45 minutos. São realizados pelo menos dois torneios diários, o primeiro ao meio-dia e o segundo variando entre 7 ou 8 da noite. O Venetian tem uma característica interessante: eles alugam o salão para eventos externos, então, várias vezes, vemos pequenas séries de torneios acontecendo por lá. Fora o Deep Stack Stravaganza (que é uma série própria do cassino), já estive por lá na época do CEO Poker Tour e, numa outra viagem, vi o Amateur Poker Series, ou seja, pequenos torneios organizados por grupos independentes, mas abertos à participação de todos.
Além disso, o cash game é excelente, principalmente pela mistura de níveis. Enquanto no Wynn e no Bellagio você não consegue jogar mesas baratas abaixo de 2/4, no Venetian há uma cardroom de qualidade que oferece NL 1/2 com buy-in máximo de U$200. Em outras palavras, é uma oportunidade de estar em uma sala de poker com todo o requinte e glamour de Vegas, sem precisar estar com o bolso recheado.

Eu citei o Bellagio, mas ainda não entrei em detalhes sobre sua sala de poker. Bom, o Bellagio pode ser dividido em duas cardrooms. Elas têm o local onde acontecem os cash games, que por si só é uma atração, pois no meio do salão fica uma sala privada com portas envidraçadas, chamada de “Bobby’s Room”. Nela é possível encontrar os jogadores mais famosos apostando valores que você nem consegue imaginar. É comum ver o Barry Greenstein, Gus Hansen, Sam Farha, Doyle Brunson, Patrick Antonius... É curioso, pois fica parecendo um aquário, com vários curiosos parando à porta para olhar um pouco os profissionais.

Porém, não me sinto muito bem nesta sala por um único motivo: é extremamente apertado. São muitas pessoas (está SEMPRE lotado), tem mesas demais e um certo barulho. Além disso, não há espaço para a espera (no Venetian tem uns sofás com revistas como a CardPlayer e a Bluff, e é possível aguardar sentado) e as listas são enormes, ou seja, para conseguir um lugar você aguarda às vezes mais de uma hora.

Outro ponto negativo do Bellagio é a quantidade de profissionais nas mesas – mas a quantidade de milionários sem-noção no jogo também é grande. Não vá ao Bellagio se não quiser sentar à mesa com pelo menos mil dólares. É perda de tempo jogar com menos lá.

Além deste salão, existe também o “Fontana Lounge”, em que são realizados os torneios de poker. Fica bem de frente para as famosas fontes do Bellagio, onde a cada 45 minutos no período da tarde/noite você pode ver um show belíssimo.Os torneios desse cassino costumam ter buy-in mínimo de 500 dólares, sendo mais comum de 1K para cima: se você tiver a grana, vale a pena jogar. A premiação costuma ser muito boa e a competição acirrada, sempre com vários profissionais. É possível jogar com Gavin Smith, Johnny Chan, Michael Mizrachi, e outros que são regulares nos torneios por lá.

Se você achou que os cassinos citados estão um pouco acima do seu orçamento, uma boa aposta é tentar o Mirage. Primeiro grande cassino construído na cidade, por Steve Wynn, o Mirage perdeu força depois da inauguração do Bellagio, Wynn e Venetian. Sua poker room é pequena e tem sit and go’s ao longo de todo o dia, bem como jogos mais baratos. Seria a aposta intermediária entre as grandes cardrooms e as pequenas, como as do Excalibur, Planet Hollywood e as da área da Freemont Street (altamente caídas).

Na última viagem que fiz acabei indo a Los Angeles e resolvi conhecer o Commerce Casino, que vem a ser a maior poker room do mundo. Foi bom para sair um pouco de Vegas e ver um exemplo de um cassino sem todo o glamour e luxo da Strip.

O cassino é bem simples e – surpresa – só tem jogos de carteado e mesa como roleta e blackjack. Devido à legislação americana, é proibido ter as máquinas de caça-níqueis em empreendimentos dos índios nesse estado. Assim, o cassino tem uma aparência totalmente diferente. Primeiro, não há o barulho de fundo das máquinas; depois, a decoração é bem mais simples e a impressão geral é de um local mais bagunçado.

Agora, em relação ao poker... Que sonho. São mais de 300 mesas espalhadas em dois salões. No dia que estive não havia torneios, apenas cash game – e todo tipo de nível. Porém, é preciso ficar esperto: fiz buy-in de mil dólares em uma mesa de 5/10, recebi um rack de fichas e, quando fui conferir, faltavam trinta dólares. O pior é que eu pedi o rack já sentado à mesa, portanto, não sei se foi erro do caixa ou se o runner pegou fichas para si. Independente do que aconteceu, fiquei com uma sensação que isso não teria acontecido em Vegas. Além do mais, na minha mesa tinha uns cinco caras que claramente se conheciam, e eram profissionais locais. Aconteceu até uma situação curiosa, em que o mesmo profissional recebeu KK duas vezes seguidas. Na primeira ele empatou o pote. Na segunda acabou all-in comigo e eu tinha QQ. Fiz quadra de damas e o profissional me deu os parabéns, e depois começou a reclamar do dealer, pediu a troca do mesmo e foi atendido, pediu mais fichas e foi atendido (sem tirar dinheiro ou player card do bolso) e começou a conversar com sua namorada que, pasmem, trabalhava no cassino... Aproveitei para me levantar com um belo lucro de três buy-ins cerca de meia hora depois, satisfeito de ter dado essa bad beat, mas também contente por ter conhecido a maior cardroom do mundo, com toda sua cultura diferente.

Espero que vocês tenham gostado deste tour. Estou viajando em março para Las Vegas, onde vou jogar o Wynn Classic. Se vocês quiserem mais alguma matéria desse tipo, falando sobre a Sin City, mandem sugestões e feedbacks no e-mail leobello@nutzz.com.br




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