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Master Minds - Espetáculo da Mente

Se o Master Minds Poker pudesse ser definido com apenas um palavra, “inovador” seria ela. Muito mais que um torneio, o Master Minds foi um espetáculo de conhecimento, interatividade e, claro, poker.


Marcelo Souza
Naquele dia 09 de março, a expressão no rosto de cada uma das pessoas que adentrava o Espaço Quinhentos em São Paulo não deixava dúvidas: o Master Minds seria um evento diferenciado.

Por todos os cantos do salão, uma estrutura única. Mesas e fichas cuidadosamente confeccionadas exclusivamente para o torneio. Imprensa, organizadores e dealers uniformizados de acordo com sua função. Do teto, pendiam arcos e cordas, um sinal claro de que as estrelas do evento não seriam só os jogadores.

O discurso de abertura do Dia 1A ficou a cargo de ninguém menos que o repórter global Bruno Laurence. Com a desenvoltura que lhe consagrou como repórter nas Redes Bandeirantes e Globo, ele foi aplaudido de pé por todos os presentes.

E o espetáculo não ficou restrito aos feltros. Enquanto 98 jogadores desfrutavam de uma estrutura única – blinds subindo lentamente a cada hora e stack inicial de 30.000 fichas; em determinado momento, as mesas tinham dois dealers distribuindo as cartas –, quem estava de fora podia competir em partidas heads up contra os integrantes do Akkari Team. Ao lado, dois dos principais times de poker do país, Steal e 4Bet, também colocavam seus principais jogadores para duelarem. No piso superior, outra opção para os presentes: uma série de palestras com os mais renomados nomes do poker nacional.

No pano, uma constelação de estrelas. Em cada mesa, cinco ou seis figuras conhecidas do circuito. O alto nível fez com que o torneio tomasse um ritmo lento, com poucas eliminações. O clima intenso de competição era atenuado durante os intervalos. Shows de acrobatas, bandas e DJs davam um clima único ao evento. 

Depois de 10 horas de jogo, 47 sobreviventes. Destaques para o Team PokerStars Pro costarriquenho Humberto Brenes, terceiro colocado em fichas, e para o mineiro Felipe “mr.Salgado30” Salgado, chip leader. Também passaram entre os líderes Rafael “Lirola”, Gabriel Otranto e Rodrigo Garrido. A lista de baixas tinha nomes como o de André Akkari, Gabriel Goffi e Marcos Sketch.

Jogado no sábado, o Dia 1B não deixou a desejar. Dessa vez, coube ao presidente da CBTH (Confederação Brasileira de Texas Hold’em), Igor “Federal” Traffane, as honrarias de abertura.  Mais tarde, quem também falou, reiterando seu apoio ao esporte mental, foi o Deputado Federal Walter Feldman.

Os 102 inscritos do segundo dia deram números finais ao evento principal: 200 jogadores e uma prize pool superior a R$ 200.000. As presenças ilustres do campeão olímpico, pela seleção de vôlei, Rodrigão, do próprio Bruno Laurence, do piloto Thiago Camilo e do cabelereiro Wanderley Nunes, responsável pelo look de celebridades como Gisele Bündchen, abrilhantaram ainda mais o evento. Os shows, desafios e palestras também não pararam.

No domingo, 106 jogadores seguiam brigando pelo título, e 18 deles seriam premiados. Com dezenas de profissionais em ação, não é preciso dizer que o conceito “espetáculo da mente” serviu como uma luva. Eram tantos que nomes consagrados iam deixando a competição a cada mudança de blinds – para citar apenas três, caíram antes da premiação: João Bauer, Felipe Mojave e Rafael “GM_Valter” Moraes.

Em nenhum momento do torneio, a média de fichas esteve abaixo dos 50 big blinds, nem mesmo quando a bolha estourou. Inconsolável, Jae Song deixou o torneio de bolsos vazios depois de ver seu par de damas quebrado por um de três.

O palco para o grand finale estava armado; e a maior parte dos protagonistas eram artistas experientes do pano verde, acostumados a brigar por premiações milionárias. Puxando a fila, praticamente empatados, um jogador regular de São Paulo, Alex Santalucia, e um campeão do Sunday Million, Charles Yamaguchi.

Na segunda-feira, mais uma amostra da qualidade técnica do torneio. A eliminação de Itacyr, na nona colocação, deixou oito nomes de peso na disputa pelo título. Profissionais ou não, a mesa final só teria jogadores regulares e experientes. Tubarões do poker.

Aqui, mais um diferencial. Eles só voltariam à disputa no final da semana, no Teatro União Cultural, também em São Paulo. Cada um deles teve direito a convites para familiares e amigos.

A contagem de fichas para mesa final ficou assim:
1.    Bob Fraga (Rio de Janeiro – RJ) –  1.413.000 (118 big blinds)
2.    Fernando Araújo (Vitória – ES) – 1.171.000 (98 big blinds)
3.    Alex Santalucia (São Paulo – SP) – 951.000 (79 big blinds)
4.    Diogo “Diogo37” Vieira (Osasco – SP) 822.000 (69 big blinds)
5.    Rodrigo Garrido (Santos – SP) 671.000 (56 big blinds)
6.    João “Paraná” (Curitiba – PR) 404.000 (34 big blinds)
7.    Leonardo Cioffi (Poços de Caldas – MG) 371.000 (31 big blinds)
8.    Felipe “mr.salgado30” Salgado (Entre Rios – MG) 192.000 (16 big blinds)

3. Diogo “Diogo37” Vieira (Osasco – SP) R$ 20.500
Em um pote de mais de 100 big blinds, Diego e Alex Santalucia se envolvem em all-in pré-flop. Alex tem 9-9 contra J-J de Diego. Um nove aparece no river e define o heads up.
4. Bob Fraga (Rio de Janeiro – RJ) R$ 17.000
Fraga abre raise, e Diogo aumenta. O carioca empurra all-in, com A-J, e é pago pelo adversário, com 4-4, que seguram até o river.
5. Leonardo Cioffi (Poços de Caldas – MG) R$ 14.5000
Leo fica flush draw no turn e empurra all-in. Alex Santalucia paga com dois pares e ainda acerta um full house.
6. João “Paraná” (Curitiba – PR) R$ 12.000
Com 3-3, João vai all-in. Alex Santalucia paga com A-Q e acerta dois pares.
7. Rodrigo Garrido (Santos – SP) R$ 9.400
Garrido coloca todas as suas fichas no pano com K-Q, mas o par de noves de Diogo Vieira segura até o final.
8. Felipe Salgado (Entre Rios – MG) R$ 7.100
Short-stacked, ele empurra all-in com K-Q, e acha Bob Fraga, no big blind, com A-A.

HEADS UP

O duelo final seria uma batalha entre David e Golias. Fernando Araújo tinha menos de 20 big blinds, e Alex Santalucia, 130. E em menos de cinco mãos, o confronto foi decidido, com o river novamente salvando Alex.

O paulistano abriu raise com 10-6. Fernando optou por uma armadilha e apenas pagou com Q-Q.  O flop foi 4-3-6. Alex apostou, e Fernando empurrou all-in. A última carta foi um A. Flush e o título para Alex Santalucia.

HEADS UP MENTES BRILHANTES
Os desavisados que por um acaso só ouviram falar do Master Minds após o título de Alex Santalucia, com certeza, ficaram surpreendidos ao saber que ele voltaria “a campo” novamente. Isso mesmo, como foi anunciado antes, os campeões do Evento Principal e do Big Shoot do duelariam contra dois dos “Mentes Brilhantes” – cinco profissionais escolhidos a dedo para representar o conceito do evento – por um carro e uma moto 0 km.

JOÃO BAUER X ADMIR STRECHAR
Admir conseguiu o feito de conquistar dois eventos paralelos do Master Minds, mas no duelo contra o goiano João Bauer, ele não repetiu a atuação que lhe rendeu o troféu do Big Shoot e do Turbo Sunday. Em menos de 20 minutos, o líder do Steal Team fechou a partida e levou uma moto 0 km para Goiás.

CAIO PESSAGNO X ALEX SANTALUCIA
A batalha entre Pessagno e Alex foi mais complicada. Os dois apresentaram um poker de alto nível, e a liderança trocava de mãos a todo o momento. Foram mais de duas horas e dezenas de mãos jogadas até que o Jogador do Ano da Card Player Brasil assumisse a liderança e não largasse mais.

Na mão decisiva, Pessagno tinha quatro vezes mais fichas. Alex Santalucia colocou todo o stack na mesa com A-2, e viu seu adversário pagar com A-7. No turn, o bordo mostrava Q-J-8-9, e pareceu que a partida duraria mais algumas mãos; mas o river trouxe um 7, dando o pote e um carro 0 km para Caio Pessagno.


ENTREVISTA
Alex Santalucia tem 21 anos e é estudante de direito. Para conquistar o título e entrar para a história como o primeiro campeão do Master Minds Poker, ele teve que passar pelo field mais difícil já visto em solo brasileiro.

Em entrevista exclusiva a Card Player Brasil, o paulistano falou um pouco sobre sua vida, expectativas e carreira no poker.

Alex, para começar, a pergunta que não pode faltar: como o poker entrou na sua vida?

Comecei a jogar em 2009. Um amigo me chamou para um home game. Era um grupo de 15 a 20 pessoas que jogava uma vez por semana – depois, passamos a jogar duas ou três vezes, no mínimo. Foi amor à primeira vista.

A partir daí, comecei a conhecer e frequentar as casa de poker de São Paulo. Em 2010, me tornei um jogador regular, mas jogando com maior frequência apenas no ano seguinte.

Você joga online?
Ao contrário da maioria dos jogadores de alto nível e dos outros jogadores da mesa final, eu jogo apenas ao vivo. Sou regular dos torneios de São Paulo. Na internet, se jogo uma vez por mês é muito. Dou meus tiros quando vejo algum torneio interessante, nada além disso.

Em que atleta do poker você se espelha?
Não tenho ninguém em especial como modelo, mas tenho meus ídolos. No Brasil, quem me chama mais a atenção é o Alexandre Gomes. Pela sua trajetória, por ter largado a carreira para se dedicar exclusivamente ao poker. Isso foi uma lição que carrego comigo. Além disso, é um grande jogador. Gosto também do Akkari e do Mojave. Tive o prazer de conhecê-los no Master Minds. Eles são jogadores e pessoas fantásticas.

Mas falando de aprendizado, posso dizer que aprendi muito com os jogadores aqui de São Paulo. São muitos os amigos que fiz nesses dois anos. Eles foram essenciais para minha formação como jogador. Não vou citar nomes porque acabarei esquecendo algum, o que seria uma injustiça.

Pretende ser um profissional?
Ainda não sei. Como não trabalho, posso dizer que é o poker que me sustenta. Mas será minha carreira? Vamos ver. Com certeza, é o que mais gosto de fazer, se será um hobby ou a minha profissão, vai depender de como as coisas acontecerem.

Sua família sempre te apoiou?
Nem sempre. Minha mãe faleceu no começo do ano passado, e ela não sabia o quanto eu gostava do poker. Hoje, posso dizer que meus familiares me apoiam e até gostam do jogo, desde que seja moderado. Eles ainda não têm a visão que nós jogadores temos desse esporte, mas já melhorou bastante, e vai melhorar ainda mais. Para isso, basta eu continuar mostrando resultados e também que o poker continue amadurecendo em meio à sociedade.

Quando decidiu jogar o Master Minds?
Logo que fiquei sabendo da sua realização. Quando vi a estrutura do torneio e que quem estava por trás era o Akkari, não tive dúvidas.

E o que você achou?
Adorei. Foi fantástico participar desse que pode ter sido o evento que marca um novo jeito de realizar torneios de poker. Houve uma interação maior entre jogadores e leigos. Atrações interessantes para todas as pessoas. Acredito que as próximas edições serão ainda melhores. Vou aguardar ansiosamente pela segunda etapa.

Qual foi a mesa mais difícil que você enfrentou?
 É complicado apontar apenas uma mesa. O torneio teve um nível técnico muito alto. Mas apesar da mesa final ter sido muito difícil, meu pior momento no evento foi quando me transferiram para a mesa da TV, no Dia 2. Eu cheguei a ter 40.000 fichas, e a média era de 120.000. Para complicar, tive que encarar nomes como Alessandra Braga, Humberto Brenes e Gabriel Otranto. Felizmente, consegui me recuperar e voltei forte para o jogo.

Fale um pouco sobre o heads up com o Caio Pessagno.
Ganhar o torneio e ter a oportunidade de jogar com o Caio foi muito gratificante, mas não fiquei satisfeito com o resultado. Apesar do equilíbrio, não gostei do modo que joguei algumas mãos, o que pode ter definido a disputa. Obviamente, não tiro os méritos do Caio. Ele jogou muito bem.

Passada a euforia do título, quais os planos para o futuro?
Estarei focado em uma possível viagem para Las Vegas. É uma coisa que eu já estava programando há algum tempo, e, se tudo der certo, vou no meio deste ano. E também quero continuar estudando e aprimorando meu jogo. Tenho muitos sonhos dentro do poker, e sei que só vou realizá-los com muita dedicação.

Alguma consideração final?
Gostaria de agradecer a todos que fizeram o Master Minds possível. A organização, a galera da Card Player. Também a todos os meus amigos, do poker e de fora dele, à minha família – meu pai, meu irmão e minha mãe, que não está mais comigo, mas com certeza estava torcendo. E não posso esquecer a minha namorada e todos que gostam e torcem por mim. Muito obrigado.


Ficha Técnica:
Master Minds Poker
Data: 09-18 de março
Local: Espaço Quatrocentos e Teatro União Cultural (São Paulo - SP)
Field: 200 jogadores
Buy-in: R$ 1.300
Prize Pool: R$ 203.700




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