EDIÇÃO 57 » COLUNA INTERNACIONAL

Jeitão de Tilt - Parte III


Alan Schoonmaker
Alguns jogadores online acreditam que eu exagero quando falo do perigo de se entrar em tilt em jogos ao vivo. Eles dizem: "Eu raramente entro em tilt, enquanto jogo milhares de mãos online. Então, por que eu entraria jogando fora da internet?".

Essa reação é baseada em uma avaliação fantasiosa da sua própria consciência e em uma definição de tilt excessivamente limitada. Você pode pensar que, ao “tiltar”, você vai entrar em todas as mãos como um maníaco e atirar fichas sem parar. Mas eu estou usando uma definição mais ampla. Volto a repetir, tiltar nada mais é que cometer erros que, normalmente, você não cometeria por razões emocionais.

Por essa definição, todos entram em tilt ocasionalmente. Elas podem nunca dar um reraise com uma mão ruim ou realizar calls ridículos, mas cometem erros pequenos e discretos. Isso porque estavam com raiva, desapontados, esperançosos ou algo do tipo.

Acreditar que você é muito disciplinado para cometer erros conduzidos pela emoção é apenas parte da tendência natural de superestimar as suas próprias capacidades. A maioria dos jogadores pensa jogar muito melhor do que realmente jogam. Eles ignoram ou minimizam os seus resultados ruins, ou culpam a má sorte.

Na realidade, os perdedores insistem nas lamentações: "Eu sou um bom jogador, mas não tenho sorte". É por isso que ouvimos tantas histórias de bad beats. Eles apenas estão tentando provar que o problema é a falta de sorte.

Negar a realidade é muito comum quando a passionalidade entra em cena. Todos querem acreditar que são muito racionais para cometer erros baseados na emoção. Essa forma de negação é extremamente comum e visível. Você certamente já jogou com pessoas assim, que insistiam estar jogando bem, e era claro que não estavam.

Em jogos ao vivo, encaramos diversos fatores diferentes dos que encontramos na internet. E eles podem nos levar a tomar decisões ruins. Nas  minhas colunas anteriores, discuti os 12 primeiros da tabela abaixo, e deixei claro que você pode ser capaz de lidar com um ou dois deles, mas deixe-os acumular e será seu fim na mesa.

FATORES QUE PODEM TE LEVAR AO TILT EM JOGOS AO VIVO
1.    Jogos muito mais lentos
2.    Erros de jogadores que não acontecem online
3.    Erros de dealer que não acontecem online
4.    Custos muito mais altos
5.    Impossibilidade de jogar sua modalidade preferida
6.    Barulho e demais distrações
7.    Socialização excessiva
8.    Pressão para controlar sua linguagem corporal
9.    Pressão para ler a linguagem corporal do oponente
10.    Pressão para conseguir informação que lhe era dada online
11.    Limites muito mais altos
12.    Efeitos mais visíveis da variância
13.    Jogos muito mais loose
14.    Bad Beats muito piores

Chegou o momento de falar dos itens 13 e 14. Coloquei os jogos loose e as bad beats por último porque os seus efeitos dependem parcialmente das suas reações às outras 12 frustrações.

Na verdade, esses dois últimos itens, podem ser gatilhos para o tilt. Isso seria qualquer coisa que possa provocar uma reação desproporcional.

Por exemplo, se você está em uma maré boa, com vários buy-ins de lucro, provavelmente você vai dar de ombros se tomar uma bad beat que lhe custe parte dos seus ganhos. Entretanto, se estiver perdendo bastante e só recebendo cartas ruins durante a última hora – veja bem, isso equivale a apenas 30 mãos – o cenário anterior poderá colocar você em tilt.

Inevitavelmente, jogos muito loose têm variações maiores do que os mais tight. Eles são mais lucrativos porque as suas mãos boas ganharão potes maiores. Porém, elas também perderão com mais frequência. Contra muitos oponentes, sua equidade diminui, e você verá seu A-A ser batido mais vezes por aquele 8-7 ou 10-J que acertou dois pares, flush ou sequência.

O impacto psicológico de perder um pote não depende inteiramente de quanto você perde, e sim de como você perdeu. Ser derrotado porque alguém cometeu um erro aumentará a sua frustração, e muito.

Por exemplo, se você entrar de all-in pré-flop com par de reis contra par de damas, perder é má sorte, mas é menos doloroso. Nem você nem o seu oponente cometeram um erro.

Mas agora vamos dar uma olhada neste cenário. Você tem reis, e abre raise de cinco vezes o big blind. Seis pessoas pagam, mas você acerta a trinca mais alta no flop, em um bordo totalmente descoordenado. Você aposta mais da metade do pote no turn e no river. Para sua frustração, um dos oponentes tinha 7-4 e acertou a gaveta na última carta. Amigo, isso pode ser muito tiltante.

Apesar do seu conhecimento, da sua experiência e de saber que jogou a mão corretamente, você pode sentir uma dor intensa. Se sentir, isso pode leva-lo a cometer muitos erros. Você poderá jogar cartas ruins para "acertar as contas" com esses “idiotas”. Ou ainda matar a ação dando muitos raises para proteger as suas mãos prontas. E por que não cometer uma série de outros erros que não cometeria antes de ficar furioso por causa da bad beat.
 
OBERSVAÇÕES FINAIS
Não se iluda sobre o seu controle emocional. Você não é um computador e nem pode jogar como um. Você tem muitas emoções, incluindo aquelas que não quer enxergar.

Negar a realidade sobre os seus sentimentos não fará com que eles desapareçam – na verdade, apenas aumenta os seus efeitos destrutivos. Lembre-se que você não pode controlar as suas reações emocionais até aceitá-las e analisá-las.

Aprenda como você reage a todas as 14 frustrações mencionadas e pergunte-se constantemente: Como me sinto? Por que me sinto dessa forma? Estou agindo de forma normal? O que eu posso fazer para tomar as minhas decisões mais racionalmente?

Essas perguntas não são fáceis ou agradáveis de serem respondidas, mas é preciso encontrar as respostas se você quiser sempre jogar o seu “A-Game”. Nas minhas próximas colunas, vamos nos aprofundar ainda mais no assunto.




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