EDIÇÃO 51 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Mentindo com responsabilidade

Três dicas para blefar melhor


André Dexx

Neste mês, conversaremos sobre uma jogada vital para quem quer elevar seu jogo a um nível mais alto. Muitos têm medo de executá-la; outros, a fazem de maneira irresponsável. Seu entendimento exige treino e sua aplicação correta leva tempo. Estou falando da jogada que é a essência do próprio poker: o blefe.

Antes de qualquer coisa, é importante saber que blefar consiste basicamente em representar um range de mãos mais forte do que as prováveis mãos do oponente em determinada situação. E isso inclui possíveis blefes dele, pois, se você decidir não blefar, os blefes dele surtirão efeito. Isso quer dizer que quando você blefa, tira os blefes do oponente. É o chamado rebluff.

Assim, quando falamos em “representar” uma mão melhor, estamos pressupondo que o adversário saberá interpretar a agressão desta ou daquela maneira, nos colocando em um determinado nível de pensamento e reagindo ao que ele acha que podemos fazer com as nossas prováveis mãos.

Um bom blefador faz a leitura das prováveis mãos do oponente, depois o coloca em um nível de pensamento. Isso servirá de base para saber como ele interpretará seu movimento. Se você acha que ele dará fold muitas vezes, o que gera uma expectativa positiva (+EV) no longo prazo, você prosseguirá com o blefe, sabendo que seus movimentos serão interpretados de modo a fazer o adversário desistir da mão.

Essa é a importância de se caracterizar o modo como o oponente entenderá seu movimento. Se ele for um calling station, por exemplo, ou estiver emocionalmente abalado, “vomitando” fichas, não há como representar nada que o faça dar fold na maioria das mãos. O resultado prático disso é que perderemos dinheiro no longo prazo. Então, contra esse tipo de oponente, é mais lucrativo jogar por valor do que blefar.
Agora que organizamos nosso pensamento sobre o blefe, vamos entender como devemos pensar na hora do jogo. Mostrarei a vocês três dicas básicas de momentos favoráveis ao blefe. Porém, tenha em mente que ainda resta muita coisa a falar sobre o assunto. Este artigo é apenas um aperitivo.



DICA 1 – identifique se o range do adversário é fraco
Ao identificarmos um range fraco, nossa tendência de blefar aumenta. Por outro lado, se o oponente representar uma gama mais forte, blefaremos menos.

Além disso, jamais se esqueça de pensar sobre como o oponente interpretará sua jogada. Se você não fizer isso, ele aplicará rebluffs mesmo tendo uma gama fraca. Seu adversário tem consciência de que a jogada que você está executando não faz sentido, então representaria mãos de valor, que são a menor parte do range dele.

Dê uma olhada neste exemplo: em uma mesa $5-$10 de no-limit hold’em, todos dão fold até o vilão, que entra de limp do button. O small blind também desiste, mas você completa os $15 do big blind. O flop vem K75 ($55 no pote). O vilão dispara $40 e você volta $125. O oponente dá fold.

Aqui, o range do vilão é fraco. Em um bordo com rei como carta mais alta, a frequência de continuation bets é intensa, então você se aproveita disso e dá raise, representando um range mais forte.

DICA 2 – pressione seu oponente quando surgirem cartas “perigosas”
Essa dica funciona muito bem naquelas situações em que podemos representar mãos mais fortes no turn ou no river, deixando o adversário em situação difícil. Confira um ótimo exemplo de como usar cartas perigosas, ou “scared cards”, em nosso favor:

Mesa $5-$10 de no-limit hold’em. A mesa roda em fold até o vilão, que dá raise de $30 do cutoff. Você paga do button. Os blinds fogem, e o flop vem com 842 ($75 no pote). O vilão dispara $50, e você dá call. No turn bate uma Q ($175 no pote). O oponente aposta $120, e você dá reraise de $290, e ele desiste.

Nesse segundo exemplo, o adversário tem um range amplo para apostar o turn, que inclui tanto draws como mãos prontas fracas ou fortes, e também blefes, bastante comuns quando batem scared cards. Assim, levando em conta a gama do oponente, nosso raise no turn representa uma mão forte como trincas ou dois pares que querem definir logo a mão, já que o bordo começa a ficar perigoso no turn.



DICA 3 – tenha um mínimo de equidade
Essa dica é fundamental para um blefe de alto nível, e se refere a uma situação muito comum entre jogadores de small stakes: blefar com uma mão sem equidade. Traduzindo, se o oponente pagar sua aposta, você não terá qualquer chance de vencer a mão em outras streets.

Blefar com mãos que possuem potencial em outras streets eleva brutalmente sua rentabilidade. Além disso, muitas vezes abre caminho para outras oportunidades de blefe, pressionando o oponente ao máximo.

Veja novamente o primeiro exemplo e pense em duas mãos distintas fazendo o mesmo movimento. Na primeira, você dá raise no flop com uma mão com equidade ruim, algo como Q-9 de naipes diferentes. Se você tomar call no flop, terá poucas chances de vencer a mão e ficará mais propenso a não blefar no turn.

Agora pense em algo como 89. São muitas as cartas que lhe ajudam no turn: um seis dá o nut straight; dez ou valete deixa com duas pontas; qualquer carta de paus completa seu flush draw; se bater um oito ou um nove você terá um par e a broca no river, com potencial de virar trinca, dois pares ou straight. Com todas essas vantagens, suas chances reais de expulsar o vilão no turn são reais. E, caso ele pague, resta a possibilidade de completar mão e tirar todas as fichas dele. Fique sempre atento à qualidade de sua mão, pois tanto brocas quanto possíveis draws no turn ganham valor.

Com essas dicas, você certamente se tornará um blefador melhor, e vai se divertir bastante ao ver os oponentes se perguntando se você está falando a verdade ou não na mão.





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