EDIÇÃO 51 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Dois mil e cinco e a C-Bet da idade da pedra


Diógenes Malaquias
Imagine-se em meados de 2005. Você se lembra de quando o poker online crescia assustadoramente, e quase todos os jogadores eram iniciantes? Eu me lembro. Perfeitamente.

Como se tivesse sido ontem, fecho os olhos e vejo mesas de cash game e sit and go com poucos regulares, que nunca pagavam um raise pré-flop; suas ações eram basicamente re-aumentar ou desistir. Há, inclusive, alguns vídeos meus jogando desse jeito.

Quando alguém pagava um aumento antes do flop – o que acontecia com frequência – era como se soasse um alarme dizendo: “Iniciante! Iniciante!”. Sim, eles tinham um enorme range de call. “Bons tempos aqueles”, diriam os mais saudosistas.

Como você já deve supor, essa gigantesca gama call consistia, basicamente, de mãos fracas. Pouca gente tinha consciência de que, no poker, apenas 3% das mãos são muito fortes e 15%, somente fortes. Os iniciantes tinham o saudável hábito de “pagar para ver o flop” com quase qualquer coisa. Alguns davam call com 80% das mãos, outros, com 40% delas. “Época de ouro”, devem estar pensando os nostálgicos.
Mas logo se descobriu que enfrentar esse range grande era fácil, bastava continuar apostando quando virasse o flop. Os jogadores que pagavam pré-flop possuíam muitas mãos fracas, de forma que eles acabavam desistindo diante dessa nova aposta cerca de 70% das vezes. E foi assim nasceu a famosa continuation bet. As pessoas começaram a ganhar dinheiro com isso. Então o conceito foi mundialmente aceito, artigos foram escritos, livros foram publicados.

O argumento principal era (ainda é, na verdade) o de que o jogador que deu raise pré-flop possuía a iniciativa da mão. Ele foi o agressor e assim deveria continuar sendo. Na teoria isso estava errado, mas funcionava. E bem.

Só que o tempo passou, o jogo mudou e o número de iniciantes diminuiu. O regulares, esses insistentes, passaram a dar call pré-flop. Assim, quem paga aumentos antes do flop já não é mais tachado de iniciante com range amplo. Hoje, boa parte dos calls vem de jogadores bons com ranges fortes.

Essa mudança deveria alterar toda a estratégia da continuation bet, mas não é o que tenho visto. E a grande culpada disso é – rufem os tambores – a teoria. Por incrível que pareça, ela está errada.

Reflita comigo: a c-bet nasceu e cresceu forte e saudável porque os calls pré-flops eram feitos por jogadores fracos com mãos fracas, e não por causa de iniciativa. Portanto, se você ainda estiver enfrentando oponentes com esse comportamento, simplesmente continue apostando no flop. Entretanto, é preciso repensar sua estratégia quando estiver diante de adversários bons, que pagam pré-flop com mãos cuidadosamente selecionadas.

Vamos supor que você seja um semi-loose, que procura jogar mais mãos do que um jogador tight, mas sem exageros. Você dá raise de 3 três big blinds do cutoff. Seu range seria algo mais ou menos assim:




O jogador no button dá fold. O small blind paga e o big blind desiste. O flop vem com A-T-3 de naipes diferentes. A tendência é o small pedir mesa e você aplicar a continuation bet grande parte das vezes. Isso acontece porque a iniciativa é sua e o ás está no seu range.

Essa jogada é tranquila se o small blinds for um jogador iniciante com range grande. Mas não será boa caso ele seja um oponente duro, com range de call forte como este a seguir:




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