EDIÇÃO 5 » COMENTÁRIOS E PERSONALIDADES

Passeando pela meca do Poker e adjacências - Parte I


Leo Bello

Desde que escrevi o livro “Aprendendo a Jogar Poker”, fui ficando cada vez mais consciente da importância de ajudar na formação de novos jogadores. O feedback recebido por e-mail (leobello@nutzz.com.br) e também ao vivo, mostrou que a galera que está começando procura e anseia por informações que ajudem no seu desenvolvimento. Entretanto, a literatura em português até pouco tempo era escassa, e outra barreira que se encontra com freqüência é a dificuldade de pegar a teoria e aplicar na prática.

O poker online ajudou em muito nesse processo. Há 15 anos, profissionais jogavam ao longo de 12 meses a quantidade de mãos que hoje se joga pela Internet em algumas semanas. Só havia eventos ao vivo e, portanto, cada um só podia estar em um torneio de cada vez, recebendo uma mão a cada dois minutos. Hoje, nos sites, são 2, 4, 8 ou mais mesas ao mesmo tempo, todas com mãos a cada 60 segundos.

Eu fui uma cria do poker online. Comecei a praticar graças a ele, e foi lá que comecei a dar os primeiros passos. Porém, o poker ao vivo foi fundamental – senão decisivo – para meu aprimoramento como jogador. Hoje, considero, inclusive, meus resultados ao vivo bem melhores do que online, e até me divirto bem mais jogando com pessoas ao redor, contra oponentes que posso ver, captando as informações que o ambiente proporciona e transformando-as para ajudar no meu raciocínio.

Só que esbarramos no problema de não saber onde jogar. No Brasil temos excelentes clubes, mas estamos apenas engatinhando perto do que há disponível em termos de oferta e variedade de jogos lá fora.  Nas vezes anteriores que fui a Vegas, fiquei impressionado. Card Rooms lotadas, pessoas em todos os cantos, com diversas mesas cheias, muitos profissionais e até uma boa quantidade de patos. A oferta de torneios era enorme durante o WSOP, quase todos os cassinos com eventos diários.

Mas eu queria tentar ver este movimento em uma época normal (se é que isso existe em Vegas). Ou seja, queria ver o dia-a-dia das poker rooms sem um evento do porte de um WSOP ou WPT acontecendo.

Assim, em meados de novembro de 2007, viajei para a “Meca do poker mundial”. Ainda que com outros objetivos (passear com a minha esposa, ver alguns shows e ir a atrações que não fui durante as visitas anteriores), eu me concentrei em tentar passear pelos principais Card Rooms e sentir a ação.

Para minha surpresa, em termos de torneios, a maioria dos cassinos mantinha uma programação similar à encontrada durante o WSOP... Mas, para minha frustração, 90% deles não passava da marca de 40 a 50 jogadores. Olhando por um lado, é incrível que com torneios diários você mantenha esse número de jogadores. Por outro, os torneios deixavam de ser interessantes de se jogar.

Se você é brasileiro e vai jogar no Caesar’s (como eu fui), diga-se que o torneio das 23:00h, que custa 120 dólares (com rake de 30 dólares – isso mesmo, 25%) e chega a 45 inscritos, premia apenas os cinco mais bem colocados, e o primeiro leva cerca de 1400 dólares após 4 horas de jogo. Só que, com o imposto que fica retido (30%), você receberia pelo primeiro lugar apenas US$980 – descontada sua entrada, resta um prêmio de 860. Será que vale a pena? Em 5º lugar, você levaria algo em torno de 400 dólares – menos o buy-in e o imposto, sobrariam 160 dólares. Penso nisso como “taxa de retorno” (ROI – return of investment) em relação ao tempo gasto. Investir U$120, jogar durante cinco horas, chegar à mesa final, e só ganhar pouco mais do que o investido ao chegar em 5º.
Em termos de estrutura, se você vai a Vegas, as melhores opções são:

Cassino Wynn: terça a quinta-feira, ao meio-dia (tem que se inscrever até, no máximo, 11:30 –eles começam pontualmente às 12:00h e não tem late registration). Os blinds são de 45 minutos e você recebe 7500 fichas. O torneio custa 330 dólares (US$40 de rake mais parte de dealers) e não tem passado de 50 jogadores fora de temporada. Na sexta-feira, esse torneio tem buy-in de 530 e não há torneio no final de semana.

No cassino Wynn você encontra uma das melhores poker rooms. As garçonetes são deslumbrantes, o ambiente é requintado e confortável, com cadeiras de excelente padrão, a comida é muito boa (só que cara). Os jogos de No-limit são sem limite também para o buy-in, e aí que complica. Em uma mesa 5-10, a grande maioria senta com cerca de 5K, mas você encontra uns jogadores com até 15K na frente. E, nesse caso, acaba ficando inibido pela pressão dessa grana na mesa. O macete para essas partidas é tentar pegar uma mesa começando, ou seja, chegar cedo ao local e entrar no jogo quando a galera ainda estiver esquentando. Você tem tempo de analisar os oponentes e, nessa hora, o stack importa um pouco menos. Tem todo tipo de jogo lá: limit, omaha e stud. Essa poker room não é indicada para iniciantes.

Cassino Caesar’s: torneios abundam. Tem um às nove da manhã, e daí a cada 3 ou 4 horas (12 – 16 – 19 – 23h). O buy-in varia entre 100 e 300 dólares. O das 15h lhe dá 10K em fichas e tem a melhor estrutura. O das 9 e das 23 é pura loteria. Blinds sobem a cada 40 minutos, mas vão sobrando. Você começa com 2500 fichas nesses dois horários.

As garçonetes do Caesar’s são horrorosas e a comida é junk food (da boa). Lá eles regulam nas bebidas: não permitem, por exemplo, energéticos e bebidas alcoólicas mais caras (a não ser que você pague). Coisas mais simples são liberadas com um tip tradicional de 1 dólar.

Ah, por falar em tip, aprendi uma coisa importante nesta viagem: mesmo em potes grandes, a gorjeta para o dealer não passa de uma única ficha do menor valor em jogo naquela mesa (normalmente 1 dólar, ou 5, nas mesas mais altas). Nas viagens anteriores, cansei de dar 10 dólares em potes acima de 300, para só então perceber que eu era o único “mão aberta”. Entretanto, não deixe de dar o tip quando ganhar uma mão.

O melhor do Caesar’s? O cash game. De todos em que estive, foi o que tem o jogo mais soft (leve). Entrar no 2-4, 5-10 ou 10-20 é tranqüilo. Apenas o primeiro tem um buy-in máximo (1K); nos outros você pode comprar quanto quiser, mas, diferentemente do Wynn, vi o pessoal entrando mais leve nas partidas. Achei que o jogo tinha mais iniciantes. Talvez porque o Caesar’s seja um hotel cassino mais popular e com uma boate bem ao lado da Poker Room. SIM!!! Uma balada ao lado da poker room, e uma “garotada grande” vai aquecer no poker (leia-se: perder uns 300 a 500 dólares) antes de entrar na boate. Em alguns casos, você pode dar sorte e pegar esses mesmos bêbados saindo da boate. Aí é como fazer Royal Flush.

Na próxima edição vou continuar o tour falando do Venetian, Bellagio, Mirage e algo diferente – visitei o Commerce Casino, em Los Angeles. Nele acontece, o LAPT (Los Angeles Poker Tour) parte do WPT e o melhor, este é o cassino com a maior poker room do mundo. São mais de 300 mesas de poker. Fui jogar lá numa segunda-feira à noite, e tinha mais de 300 pessoas no cash game. Mas conto isso melhor na próxima edição!




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