EDIÇÃO 5 » COLUNA NACIONAL

Largando KK pré-flop


André Akkari

É com muita alegria que escrevo este artigo para Card Player Brasil, por alguns motivos.
 
Primeiro, porque fiquei muito feliz com os resultados do crescimento do poker no Brasil no último mês. E tenho certeza de que o 100k do Omega foi um divisor de águas para esta transformação.
 
Depois, pelo fato de que nesse mesmo torneio (que foi patrocinado com exclusividade pelo Poker Stars), consegui um resultado muito bom: uma segunda colocação, jogando um poker que me deixou muito satisfeito, pois não mostrei minhas cartas uma vez sequer, até restarem pelo menos 35 jogadores.
 
Mas vamos ao assunto principal deste artigo: a primeira mão da mesa final desse torneio.
 
Entrei na final table com aproximadamente 800 mil fichas, depois de dobrar o meu stack no bubble da mesa final de AK contra JJ. Lembrando também que a mesa final do evento foi gravada – a primeira mesa televisionada de um torneio 100% brasileiro, outra vitória.
 
Acima do meu stack, apenas três jogadores: Júnior (850k), Leo Perrone (também na casa dos 800k) e a Cinthia (na liderança, com 900k). A emoção de se jogar a mesa televisionada também faz parte dos ítens a serem analisados aqui.
 
Vamos à jogada:
 
O jogador UTG, com 75k fichas (completamente short stack), dispara all-in com blinds em 20k e 40k. Eu, sendo UTG+1, me deparo com KK. Executei um raise de 165k, ficando com cerca de 630k em fichas. Leo Perrone, logo à minha esquerda, dá fold. E o Júnior dispara um reraise de 300k. A mesa roda em fold até minha vez de falar.

Aqui começa a minha análise.
 
1 – Até então, Júnior não tinha jogado na mesa da TV, o que faz com que seu range de mãos diminua bastante.
2 – Ele me conhece como profissional. Aplicar um reraise em cima do all-in do UTG, depois do meu raise no UTG+1, faz com que eu tenha que diminuir ainda mais a gama de mãos dele.
3 – Algumas poderiam ser descartadas facilmente, como AK, AQs, AJs. São típicas mãos com as quais não acontecem mini-reraises: ou o cidadão confia que tem cartas capazes de me fazer largar a mão e vem com um raise pesado (ou mesmo all-in), ou ele dá fold e deixa o jogo seguir. Principalmente com AK, mão cujo movimento padrão é all-in.
4 – Na minha cabeça, sobravam poucas mãos: JJ, QQ, KK ou AA.
5 – Pelo que eu tinha de informações do jogo dele no Dia 1, sabia que poderia não ser um AA – mas era alguma das mãos anteriores, com certeza.
 
Eu resolvi “foldar” a mão. Vamos às razões que levaram a isso:
 
1 – Achei que havia boas chances de ser AA. Assim, eu estaria jogando com todas as minhas fichas, por dois outs. Dar call na aposta dele eu descartei, já que na maioria das vezes nem eu nem ele vamos acertar uma trinca no flop. Depois do flop, continuaria sem muita referência – e principalmente sem posição – para analisar a ação do meu oponente.
2 – Se por acaso ele abrisse um AK, e minha análise estivesse errada, eu não queria dar a chance de perder um torneio que eu joguei dois dias, sem mostrar as cartas para o meu adversário por causa de três outs.
3 – O motivo principal: de fato eu acreditei que a minha vantagem em relação aos adversários, de jogar pré-flop e flop, era muito grande. Com isso, o que menos importava eram as minhas cartas, no caso, meu KK – meu stack era a maior arma para eu conseguir chegar ao final do torneio como vencedor. Estava com uma leitura bastante apurada daqueles adversários e senti que quase todos os jogadores estavam um tanto pressionados com os valores financeiros envolvidos àquela altura, o que me dava ainda mais vantagem.
 
Acabei dando fold, e flop veio K-7-x-7-x... Eu teria feito um full house e levaria um pote gigantesco, que me deixaria com 1,6M fichas. Mesmo largando essa mão, depois de aproximadamente 25 minutos eu estava com 1,2M, sem mostrar as cartas – apenas atacando blinds e jogando pós-flop.
 
Muitas vezes, acredito que você realmente deva confiar na sua habilidade, e largar a mão em situações que não acreditava ser possível. É isso que faz com você seja um jogador melhor e busque conquistas ainda maiores. Lembrando que este fold só foi viável graças à estrutura do torneio, que privilegiou um poker de “fundo de quadra”, que todos os profissionais sonham, e que até então não acontecia nos eventos brasileiros com freqüência.
 
AAKKARI




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