EDIÇÃO 45 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Estágios de um TAG — Parte 4

Agora, um adversário duro na maioria dos jogos


Ed Miller

Essa série de colunas descreve um modelo que eu chamo de “Estágios de um TAG.” À medida que passam de iniciantes a tight-aggressive (TAG) decentes, a maioria dos jogadores passa por uma série de estágios relativamente similares em no-limit hold’em.

Identifiquei 25 estágios. Esta coluna começa no 16º.

Estágio 16: Dar dois tiros pode ser bastante eficiente. Às vezes é preciso dar três.
Jogadores do Estágio 7 aprenderam a fazer continuation-bets. Às vezes eles atiram de novo no turn. Depois de dar raise pré-flop, uma c-bet no flop frequentemente leva o pote. E mesmo que você seja pago, uma aposta extra no turn ocasionalmente é bem sucedida.

Mas antes do Estágio 16, os jogadores normalmente desistem se alguém pagar sua aposta no turn. Eles acham que o oponente precisa ter uma mão relativamente boa para dar esse call, e não querem tentar blefar contra ela. Embora esse raciocínio em geral seja sólido, de vez em quando um grande blefe no river é a melhor jogada.

Isso é ainda mais verdadeiro contra oponentes que limitam suas gamas de mãos dando call no turn. Em um exemplo simples, digamos que um jogador quase sempre dê raise no flop ou no turn com dois pares ou algo melhor, e apenas pague com um par. Assim, um call no turn indicaria uma mão boa, mas não excelente. Pode ser algo como K-Q em um bordo K J 8 7. Uma aposta forte no river seria o bastante para convencer esse sujeito a finalmente largar seu top pair.

Estágio 17: Consigo fazer jogadores weak-aggressive que apostam em muitos flops desistirem de suas mãos com raises e floats nos momentos certos.
No Estágio 11, os jogadores aprendem a atacar potes pequenos que ninguém parece querer. Contudo, algumas pessoas levam esse conceito longe demais, e começam a atacar potes pequenos com apostas demais no flop. No Estágio 17, os jogadores conseguem identificar esse padrão de superagressividade e contra-atacar na hora certa. Aqui, eles aplicam resteal em donks agressivos dando raise no flop, ou call, com a intenção de levar o pote numa street posterior.

Para identificar os momentos corretos de revidar, um jogador do Estágio 17 precisa estar familiarizado com as prováveis gamas de mãos de seu oponente e com quão bem elas se conectam ao bordo.

Estágio 18: Preciso procurar jogadores fracos e tentar isolá-los, para jogar o máximo de potes possíveis com eles.
Nessa fase, um jogador tem as ferramentas básicas para ser bem-sucedido em no-limit hold’em. Ele joga tight fora de posição, fica um pouco mais loose em posição e bastante loose quando tem chance de roubar os blinds. Ele se defende de oponentes agressivos aumentando sua agressividade pré-flop. Ele joga com cautela quando os adversários mostram força, mas ataca quando vê fraqueza depois do flop. Finalmente, consegue identificar adversários fracos, contra os quais ele deve ficar mais loose.

No Estágio 18, o sujeito aprende que às vezes pode jogar de maneira muito mais loose e agressiva do que o normal quando um oponente ruim entrar no pote. É errado abrir raise com uma mão como 8 7 duas posições antes do button. Ela é simplesmente fraca demais para a posição. Mas pode ser correto dar raise contra um limper com a mesma mão, da mesma posição. Em um pote não aumentado, jogar com 8 7 seria uma tentativa de roubar os blinds que falharia com muita frequência para ser lucrativa. Dar raise contra um limper, contudo, não é steal, é uma tentativa de jogar um pote com alguém que irá, com o tempo, entregar seu dinheiro.

O lado negativo de se jogar com uma mão fraca é o mesmo em ambos os casos: os jogadores depois de você podem ter mãos enormes e lhe forçar a sair do pote. Só que o lado bom é potencialmente maior contra um limper. Em vez de ganhar os blinds, você agora tem condições extrair muito mais de um oponente fraco. Essa diferença pode fazer com que jogar com mãos ruins compense o risco.

Aqui, um jogador aprende a avaliar os oponentes e a personalizar uma estratégia pré-flop para maximizar os lucros.

Estágio 19: O valor das mãos pré-flop depende mais da situação do que das cartas.
Jogadores ingênuos podem classificar as mãos iniciais pré-flop da mais forte para mais fraca, com AA sendo a mais forte e 72 talvez a mais fraca. No Estágio 19 ele percebe que, exceto as fortíssimas como AA e AK, mãos pré-flop possuem valor intrínseco modesto, e que essa valoração depende principalmente das circunstâncias. Essa é uma generalização do princípio que os jogadores aprendem no Estágio 18. Isto é, em algumas situações (steal a duas posições do button), 8 7 não vale a pena. Em outros casos (para isolar um jogador ruim), são interessantes.

Toda mão têm forças e fraquezas. Um par baixo como 33 pode flopar uma trinca e ganhar um pote enorme. Às vezes pode vencer um showdown barato contra um ou dois oponentes. Mas sem completar a trinca, ela não oferece muitas oportunidades de semiblefe, e em regra é fraca demais para suportar qualquer pressão. Do mesmo modo, algo como A3 provavelmente é fraco demais para encarar uma aposta, mas de vez em quando vence showdowns baratos. Além disso, tem valor de bloqueio, pois torna bem mais difícil que o oponente segure um ás em uma mão como AA e AK. Suited connectors criam diversas situações de semiblefe, mas são péssimas quando as oportunidades de blefe são escassas.
Um jogador no Estágio 19 avalia as forças e fraquezas das mãos, mas também a situação e os tipos de força que ela requer. A circunstância exige oportunidades de semiblefe? Valoriza o bloqueio de cartas? Acertam um top pair potencialmente valioso? Ele então compara as mãos com as situações e decide o que fazer.

Estágio 20: O tamanho do pote determina quão agressivo eu devo ser e quão comprometido com o pote eu estou.
Todas as decisões de poker se resumem a risco versus recompensa. O risco é o que você pode perder entrando em determinada mão, e a recompensa é o pote que você pode ganhar. O jogador no Estágio 20 percebe que todas as avaliações circunstanciais de valores dependem do tamanho do pote. Em geral, quanto maior o pote, mais agressivo e comprometido é preciso ser. Mas, como sempre, o problema está nos detalhes, e um jogador no Estágio 20 aprendeu a incorporar outra variável importante no seu processo de tomada de decisão.

Um jogador no Estágio 20 é um adversário duro na maioria dos jogos. Mas ainda restam outros cinco estágios, que serão apresentados na próxima edição.




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