EDIÇÃO 40 » ESPECIAIS

BSOP SALVADOR

Um final de semana de muito sol, praia, água de côco e ficha no pano - esse é o BSOP Salvador. De quebra, uma das melhores mesas finais da temporada. Tá bom ou quer mais?


Bruno Nóbrega de Sousa

A Bahia é sempre a Bahia. Frio e chuva no resto do mundo? Não importa, haverá sol na Bahia. E o calor, a praia, o clima de descontração, tudo isso faz com que o BSOP Salvador seja uma excepcional experiência de poker. Realizado no Stella Maris Resort, a etapa baiana resume bem a grande capacidade que o poker tem de se agregar ao turismo.

Quando a ação começou no Dia 1A do torneio, Will Arruda, Larissa Metran, Leandro Brasa e Bruno Foster eram alguns dos notáveis que estavam no game. Mesmo assim, um das mãos mais comentadas do dia foi protagonizada por ilustres desconhecidos.

Com blinds em 250-500 e ante de 50, o jogador Antonio Cláudio entrou de limp do começo da mesa, Alê aumentou para 2.525, e Jaime deu call na hora. Antonio Cláudio disparou 7.000 e Alê voltou all-in de 25.000 fichas. Jaime largou. Antonio Cláudio pensou, deu fold e mostrou um par de Reis. Incrédulo, Alê elogiou a jogada do adversário e apresentou par de Ases.

Algum tempo depois, quando os blinds estavam em 600-1.200-100, outra mão interessante aconteceu. Clemente Vergara deu limp de middle position. No cutoff, Márcio Cid subiu para 3.800. Stetson Fraiha voltou 10.300 fichas. Clemente largou, mas Márcio Cid voltou all-in de 33.900. Stetson deu call e apresentou par de Valetes, enquanto Márcio mostrou 6 7. O bordo ainda trouxe um seis e duas cartas de ouros, mas o J-J de Stetson se segurou, puxando um pote monstruoso e mostrando que o jogador do 4bet Team não estava para brincadeira.

Aliás, se aquele fosse um torneio no formato knockout, em que se ganha uma “recompensa” por cada oponente eliminado, Stetson já teria forrado uma nota logo no Dia 1A. Não por acaso, ele terminou como chip leader do dia, com mais de 250 mil fichas.

No Dia 1B, um field ainda mais duro. Vieram para o jogo Fabiano Kovalski, “Betodalu”, Marcos Sketch, Andrei “PorcoEspinho”, Gabriel Goffi e outros sharks. Ao final do Dia 1B, o chip leader era ninguém menos do que Caio Pimenta, eleito Jogador do Ano da CardPlayer Brasil nos dois últimos anos. Ele voltaria para o Dia 2 com 193.800 fichas, com Gabriel Otranto em segundo. Tranquilo esse field, não?

A essa altura, o BSOP de Salvador reafirmava sua condição de parada obrigatória do circuito brasileiro. E um dos grandes responsáveis por isso atende pelo nome de Guga Azevedo. Esse soteropolitano amante das vaquejadas do Nordeste é figura central no poker da Bahia. “Pelo terceiro ano consecutivo, muitos amigos prestigiam BSOP de Salvador. O que me deixa ainda mais feliz é o número de jogadores fora do meio do poker que vieram para cá”, afirma Guga, e completa: “Que esse BSOP seja o exemplo de todos os anos, que o torneio volte sempre à Bahia”. A depender da simpatia do povo baiano, Guga, pode ter certeza de que voltará.

Dentre os 407 inscritos, apenas 92 voltariam para o Dia 2, e o jogo só pararia quando a mesa final fosse formada. Quando os blinds estavam em 6.000-12.000, com ante de 1.000, Gabriel Otranto abriu raise com 36.000 fichas do UTG, Roger Machado deu call do button e Vini Marques voltou all-in de mais de 200 mil fichas. Ninguém pagou. Um belo squeeze aplicado por Vini, que seria um dos jogadores a garantir vaga na mesa final, que ficou assim:

Não é exagero dizer que essa foi uma das mesas finais mais duras da história do Brazilian Series Of Poker. Cheia de profissionais, a FT da etapa de Salvador colocou lado a lado feras como Sérgio Braga e Vini Marques. Sem falar do jovem talento Chico Braga, figura ativa do fórum MaisEV e vencedor da etapa de Goiânia. De fato, essa foi uma das melhores mesas finais da temporada.

Logo numa das primeiras mãos, Vini Marques e o baiano Fábio Reis se envolveram num all-in pré-flop. No showdown, desespero da torcida ao ver que o 10 9 de Fábio bateu de frente com um A A. Mas, logo no flop, Fábio acertou dois pares e vibrou muito ao lado da torcida. Só que o river dobrou um seis e acabou dando o pote a Vini. Transtornado, Fábio viria a ser eliminado pouco tempo depois.

Em seguida foi a vez de Sérgio Braga, jogador muito forte em cash games. Ele se envolveu em um pote com Stetson e Vini, e acabou indo all-in. Vini largou, mas Stetson deu call com par de Damas. Sérgio tinha par de Oitos e acabou voltando para casa.

Depois foi a vez de outro favorito ficar pelo caminho: Chico Braga, jogador agressivo e técnico, que havia eliminado Caio Pimenta no dia anterior. Seu carrasco? Stetson Fraiha, que nesse momento vinha jogando um poker praticamente livre de erros e já despontava como virtual campeão do evento.

A eliminação do português Pedro Demeyere pelo baiano Mauro foi bastante comemorada pela torcida, mas logo em seguida aconteceu uma mão que deixaria o salão inteiro em silêncio... Vini deu raise de 125 mil fichas do button, e Franklin e Stetson deram call. No flop, 2 7 8. Os dois pediram mesa e Vini disparou 200 mil. Franklin anunciou all-in, Stetson largou, mas Vini deu insta-call! Novamente, Vini Marques apresentou A-A, agora contra 5-7 de Franklin. Dessa vez, o turn foi cruel com o irmão do “Vitão” do TVPokerPro, e trouxe um 5, dando dois pares e o pote ao jogador de Minas Gerais. Foi a queda de Vini, profissional do 4Bet Team. Para não perder a piada, ele disse: “A culpa foi daquele pastel de camarão que eu estava comendo. Ele ‘zicou’ a parada...”

Outro que se destacou bastante foi Hess Menezes, de Salvador. Na mão em que foi eliminado, ele estava no button e voltou reraise all-in no aumento pré-flop de Stetson, que deu call. No showdown: A-T vs. A-J. Dominado, Hess não teve ajuda do bordo e ficou com a 4ª colocação, saindo sob os aplausos da torcida.
Na mão que definiu o heads-up, um confronto Minas vs. Bahia. Franklin acertou dois pares no flop e acabou se envolvendo em um all-in contra Mauro: A-7 contra A-Q. A dama de que Mauro precisava não veio, e ele ficou com o terceiro lugar, o melhor entre os jogadores baianos.

O jogador de Belo Horizonte Franklin Carmo teve um grande desempenho ao longo da mesa final: acelerou nos spots certos e escapou de confusão quando foi preciso. Chegou a empatar em fichas com Stetson, seu adversário no combate mano a mano, mas bateu na trave. Na última mão do torneio, Stetson abriu raise de 250 mil fichas, Franklin voltou 700 mil, tomou all-in de Stetson e deu call: 8-8 contra A-Q. O par de Stetson foi guerreiro, segurou e lhe deu a vitória.

E Stetson realmente jogou muito: o fino, sem dúvida. Mesmo diante da grande atuação de Franklin, essa foi uma vitória indiscutível. Stetson, que é da baixada santista e tem ascendência árabe, jogou um poker quase mediúnico, com uma leitura impecável dos oponentes e das situações. Foi, enfim, um resultado mais do que merecido. Parabéns, Stetson Fraiha, grande campeão do BSOP Salvador.

E depois de um final de semana de poker regado a sol, praia e água de côco, as impressões, claro, são as melhores possíveis. “Ir ao BSOP Salvador 2011” – já está anotado na agenda. Recomendo que você faça o mesmo. Próxima parada? São Paulo, para a grande etapa de encerramento da temporada 2010.

EVENTOS PARALELOS
Last Chance

1º Lugar – Victor Talamini – Governador Valadares – MG
2º Lugar – Daniel Anunciação Sanchez – Salvador – BA
3º Lugar – Rogério Zaiter – Taubate – SP
 
Second Chance
1º Lugar – Hélio Neves – Salvador – BA
2º Lugar – Raphael Araujo – Maceió – AL
3º Lugar – Jurandir Marinho – Natal – RN
 
Pot-Limit Omaha
1º Lugar – Leandro Brasa – Balneário Camboriú – SC
2º Lugar – Antonio Lacerda – Florianópolis – SC
3º Lugar – Paolo Foppa – Salvador – BA

 


FALA, SKETCH!

Durante o BSOP de Salvador, batemos um papo com Marcos Sketch, uma das principais revelações do poker nacional e um dos criadores do fórum 4Bet e da PokerVilla. Ele deu algumas dicas para os jogadores iniciantes em torneios live. Confira.

Posso pegar da memória o primeiro grande torneio que joguei. Não foi um BSOP, mas foi um evento de porte parecido. Como não faz muito tempo, ainda está bem fresco na minha memória. Na época, juntei um dinheiro para jogar, com a intenção de aproveitar ao máximo aquela experiência de enfrentar jogadores que eu admirava e sabia serem muito melhores que eu.

Como eu era iniciante, não tinha pretensão de ganhar nem tinha estratégia para acumular fichas, até porque eu não tinha tanto conhecimento do jogo. A ideia era fazer a experiência durar o máximo possível. Joguei muito tight, tentei evitar riscos e isso obviamente fez com que eu não conseguisse acumular fichas e meu stack fosse caindo. Mas durei ali umas boas sete ou oito horas, e foi bom o bastante. Na segunda vez, já cheguei com uma abordagem diferente, tentando acumular fichas em todas as situações possíveis.
Um iniciante deve tentar aproveitar bem a experiência de um BSOP, em que ele enfrenta os melhores do Brasil. Quanto menos se arriscar e mais prestar atenção, melhor. Tem que analisar, tentar lembrar depois, estudar. Isso vale mais pelo aprendizado do que pela grana. Se conseguir ficar ITM, aí é sonho.

 



MAKTUB, STETSON!
A VITÓRIA QUE ESTAVA ESCRITA

Durante o desenrolar do torneio, decidi “eleger”, por minha conta e risco, um jogador que eu acreditava fosse se destacar na multidão. Precisava ser alguém que me parecesse extremamente focado, preparado, com “cara de campeão”, para então acompanhar passo a passo a sua trajetória na mesa final.

A questão é que, em um field com Caio Pimenta, Will Arruda, Fabiano Kovalski e companhia, essa missão não era das mais simples.

Quando restavam quatro mesas, comecei a perceber que havia um sujeito com muitas fichas e ar compenetrado. Pelas poucas mãos que observei, vi que estava diante de um jogador experiente, com muitas horas de voo no poker. Bati o martelo: “Esse é o cara”.

Para minha sorte, foi um tiro certo: eu tinha escolhido Stetson Fraiha, que não apenas topou participar como foi lá e cravou o torneio.

Confira os pensamentos do campeão ao longo da final table, suas impressões, estratégias e tudo o mais que o levou ao troféu e à merecida vitória, com exclusividade para a CardPlayer Brasil.

MINUTOS ANTES DE COMEÇAR A MESA FINAL

Finalistas concentrados aguardando serem chamados
Cara, essa mesa final vai ser muito difícil, uma das mais difíceis que já vi. Já cheguei a várias final tables em torneios no Brasil, mas, em termos de nível técnico, essa não está para brincadeira. Espero fazer meu melhor.

Ontem foi um dia feliz porque não vim com jogo nunca, não vim com carta nenhuma e cheguei à mesa final com uma situação boa, na média de fichas. A mesa está mapeada por mim, sei quais são meus spots bons ali. Vamos ver no que dá.

Como característica pessoal, sou agressivo. Não fico esperando muito. Não gosto de cartas, gosto de situações. Vou procurar as melhores situações para tentar acumular fichas, para chegar lá na frente e tentar fazer algo diferente.

PRIMEIRO BREAK DA FINAL TABLE
Stetson acaba de assumir a liderança

Começo alucinante. Foi o que falei. Já tenho um pouco mais de experiência do que a maioria da mesa – não do que o Sérgio Braga ou Vini Marques, mas mais do que a maioria. Consegui achar umas situações favoráveis. Voltei all-in no Sérgio, e foi mais metagame do que qualquer outra coisa. Era guerra de blind contra blind: ele subiu e eu voltei tudo. Agora, com fichas, apertei mais a mesa.

Poucos minutos atrás, consegui um pote muito bom contra dois adversários, o que é muito difícil. Eu tinha um jogo muito fraco. E o pior é que eu estava ganhando e, na hora, achei que estava blefando. Porque, para mim, o Mauro devia estar com um par médio, de 7 ou de 8. Quando eu apostei no flop e ele deu apenas call, eu o coloquei nesse range. Mas, quando Franklin deu call também, “esquisitou” geral para mim. Eu tinha 8-5 off, pressionei a mesa, o flop veio 5-2-2. Continuei, os dois deram call, aí bateu o rei e o pote era meu, esquece! [risos]

DEFINIDO O HEADS-UP
Stetson vs. Franklin


Essa volta do break foi sensacional para mim. Consegui impor meu jogo muito agressivo, fazendo os adversários errarem. Acho que só consegui acumular fichas com os erros deles. Chegar a uma final de BSOP pesa para todo mundo, mas para mim um pouco menos: querendo ou não, já estive nessa situação outras vezes. Tentei pressionar ao máximo para chegar ao heads-up bem.

A mão com Franklin em que eu tinha um full, acho que foi muito bem jogada, modéstia à parte. Ele tinha ás high e eu consegui extrair valor. Tirei quase 1,1 milhões de fichas ali, com ele pensando que eu estava roubando, enquanto eu estava gigantesco. Então essa mão foi muito importante. E a mão contra Hesse, um menino que eu não conhecia e que joga muito bem: sabia que ele erraria em alguma hora. Acabou sendo em um A-J vs. A-T. Eu sabia que ia pegá-lo uma hora.

Heads-up agora... Cara, Franklin é muito bom jogador. Já joguei contra ele antes, mas nunca heads-up. Agora tudo pode acontecer, até porque estamos iguais em fichas. Ele é um jogador de cash forte demais. Falei para ele outros tempos que tenho muita dificuldade em jogar com ele. O cara é muito frio. Vamos ver...

ACABA O TORNEIO
Stetson Campeão

Foi até rápido o heads-up: fomos para o coin flip na última mão e acabei ganhando, graças a Deus. Foi um final de semana fantástico, deu tudo certo.

Hoje vou comemorar, mas amanhã volta tudo ao normal, porque daqui a duas semanas tem outra batalha. Mas, pô, legal demais! A sensação de vitória é indescritível. É um orgasmo. É muito bom. É do c@%#*! (risos)




NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×