EDIÇÃO 4 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Blind Defense - Parte I


Vicenzo Camilotti

Defender é mais difícil que atacar. Isso vale para o futebol, para o xadrez, para o gamão e até mesmo para a advocacia ou a política, por exemplo. Enfim, em qualquer ramo de atividade a frase acima é verdadeira. No poker é a mesma coisa.

Saber defender o pingo faz toda a diferença, pois se trata de uma ótima ferramenta para se atingir o próximo nível de força de jogo. Em minha opinião, a arte da defesa do blind é o ataque ou o contra-ataque. É com agressividade que se ganha torneios, e esse conceito não muda quando estamos no big blind – especialmente se ele está nas alturas.

Nessa primeira parte, vou falar do golpe que considero o mais importante de todos: não deixar o jogo correr solto quando o Small Blind (SB) apenas completar o pingo. É uma típica situação pré-flop na qual recomendo até mesmo ignorar as cartas que se tem na mão, e que vale tanto para sit-and-go quanto para torneios multi-table (MTT).

Leve em conta apenas os pingos: se estão altos ou baixos. Para a primeira hipótese, estou considerando que você ou o SB tem em suas pilhas de fichas até 12 vezes o valor do blind. Por exemplo: se você tem 2000 fichas e o pingo for 100, ele está “baixo”. Se, nesse mesmo caso, o oponente tiver apenas 1000 fichas, o pingo passa a ser “alto”.

Mas qual a importância de definir o estágio dos pingos em relação às fichas? Simples: se estiver “alto”, repique all-in com qualquer carta. Isso mesmo. É o meu principal conselho quando falo sobre blind defense. Façam isso sem pestanejar e terão belos resultados. O golpe é de expectativa ultra-positiva e gera outros benefícios no decorrer do torneio, além do ganho imediato das fichas do SB sem qualquer confronto, na maioria absoluta das vezes (acredito que 90% de fold ainda seria um número conservador).
Quem somente completa o pingo está claramente demonstrando que apenas não quer doá-lo sem um mínimo de luta, e é essa a presunção que você deve seguir na prática. Raramente o SB estará completando o blind para pegá-lo em uma armadilha. A chance de ele ter, por exemplo, um JJ para cima ou um AK é de apenas 3% a cada mão jogada. Ainda assim, você tem o direito de dar sua sortezinha básica e ganhar a mão no confronto – sem contar que a maioria dos jogadores entraria de raise, caso possuísse esse raro grupo de mãos.

E por que utilizar número de pingos, e não o sofisticado “M” pregado pelo Harrington, no seu livro “Harrington on hold’em”? Porque é mais simples e igualmente eficiente, bastando fazer ajustes e acrescentar o que seria o pingo “real” quando chegam os antes nos estágios mais avançados.

Mas isso se aplica também às mesas baratas online? Sim, e sei disso por experiência própria, pois jogava uma quantidade quase “siderúrgica” de sit-and-go´s baratos simultaneamente, durante mais de 2 anos. Ou seja, isso acontecerá milhares de vezes se você insistir nesse golpe. Veja se vale ou não a pena.
Durante o torneio você colhe outros benefícios não menos importantes. O primeiro é estabelecer uma imagem de alucinado na mesa. Quando o pingo está nas alturas, em uma situação muito perto da zona de premiação (seja sit-and-go ou MTT), os adversários tendem a evitar o confronto, optando por agredir  principalmente quem eles acham que tem mais chance de dar fold diante dos ataques efetuados.

Se você está demonstrando que é um feroz defensor de blinds, menos ladrões de pingo o atacarão – o que é um ótimo negócio quando o valor do BB está nas Alturas. A segunda vantagem, também importantíssima, é que você educa o seu SB a não completar mais o pingo, e ele passa a dar fold com muita freqüência nas próximas rodadas – outro gigantesco benefício.

E se o SB voltar a completar o pingo, digamos, uma rodada depois? Se estiver também “alto” em relação à pilha de fichas, volte a “apostar a casa” pra cima dele. Lembre-se de que tem muita criança levada no mundo, e que repetir o castigo é a única solução, mesmo que você corra um risco um pouco maior, mas ainda pequeno.

Mas esse repique pode ser de 4 vezes o valor do pingo? Claro que sim. Mas aconselho a repicar all-in por questão de simplicidade e eficiência – sem contar que ajuda na rapidez das jogadas, caso você esteja em várias mesas ao mesmo tempo.

E se o pingo estiver “baixo”? Recomendo fortemente um repique de 4 vezes o valor do blind. Tudo bem que o índice de fold imediato se reduz um pouco, mas mesmo assim você estará com a vantagem da posição, já que, ao ver o flop, você falará depois do SB. Essa é uma vantagem importante, pois, mesmo que o flop não seja favorável, pode-se fazer a conhecida continuation bet de 1/2 a 2/3 do valor do pote (e a maioria das vezes você verá o fold do oponente). E isso tudo sem contar que você estará “educando a criança”, desde o início, a não disputar o pingo contigo, conforme pregado acima.

OK, isso tudo é fácil de entender e de aplicar. Mas, e quando vier um raise do dealer, por exemplo? Qual o padrão de defesa?  Assunto para o próximo artigo, no qual vou falar sobre re-steal (ou ataque ao que chamo de “raise safado”) e stop-and-go (ou call all-in).

Full houses para todos!




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