EDIÇÃO 39 » COLUNA INTERNACIONAL

O A-Q de Sorte de Phil

Uma linda carta no river


Phil Hellmuth

OK, talvez eu deva um livro autografado a um cavalheiro. Com quatro mesas restantes em um torneio de no-limit hold’em com buy-in de $1.500, a seguinte mão aconteceu. Um breve histórico: eu não vinha ganhando muitos potes havia 90 minutos quando ela aconteceu, mas eu tinha fichas o bastante para não entrar em pânico. Com blinds em 1.500-3.000, eu abri raise de 8.000 de posição inicial segurando A Q, e o cavalheiro no big blind pagou. O flop veio A J 4, o cavalheiro pediu mesa, eu apostei 6.000 e ele aumentou para 16.000. Eu dei call, e no turn bateu um 6. Ele apostou 20.000 e eu paguei. O river foi a Q, ele deu check e eu também. Muito embora o cavalheiro tivesse de mostrar sua mão antes, eu sempre viro minha mão depressa quando acho que sou o vencedor, de modo a não deixar o meu oponente aflito virando-a lentamente.

Uma das coisas que mais me incomodam nos jogadores da nova geração é o total desrespeito deles pela etiqueta do poker. No golfe, você não gritaria no meio da tacada de alguém, e virar as cartas devagar é uma ofensa equivalente. Isso se dá quando alguém aposta com a mão mais forte possível (ou uma delas), é pago por um oponente e hesita por três segundos ou mais antes de mostrar a mão obviamente vencedora, dando falsas esperanças ao jogador que deu call de que ele realmente ganharia o pote. Nos velhos tempos, se alguém fizesse isso, era motivo de alarde. O jogador ofendido dizia a todo mundo o que tinha acontecido com ele (“Ele gritou enquanto eu dava a tacada!”) e os outros jogadores confrontariam o ofensor, perguntando: “Por que você fez isso?”

Em qualquer caso, o cavalheiro descartou sua mão virada para baixo, e nós tivemos um intervalo de 20 minutos. Enquanto deixava a mesa, ele insistia que não apenas ele tinha A-K, como também o K — o que significava que eu teria ganhado apenas com uma dama que não fosse de ouros, ou seja, duas delas (a Q e a Q). Muitas vezes, jogadores mentem sobre suas mãos — é uma prática comum — mas esse cara jurou pela própria vida que tinha isso, e era óbvio que ele estava falando a verdade.

Vamos analisar mais a fundo essa mão. Eu gosto da minha aposta inicial de 8.000: qualquer valor cerca de três vezes o big blind está correto, embora na Internet, atualmente, seja costume se abrir raise com cerca de 2,2 vezes o big blind (6.600 nesse caso). Eu não gosto do call dele com A-K. Geralmente dou reraise com A-K, concluindo que ganharei o pote 80% das vezes ali mesmo: não há nada de errado em se ganhar o pote sem correr riscos. Contudo, o call dele foi OK.

Gosto da minha aposta modesta de 6.000 no flop. Eu poderia ter qualquer coisa com uma aposta desse valor, e não queria que ele desse fold com uma mão como A 10. Gosto do raise de 10.000 dele no flop. Se ele sabia que ia apenas pagar antes do flop e depois agir assim, poderia muito bem ter aumentado minha aposta do flop para me fazer pagar para ver a carta do turn que poderia derrotá-lo (como o 10, caso eu tivesse 10 10, ou um 10 que não fosse de ouros, se eu segurasse K Q).

Gosto do check do cavalheiro no river, embora eu talvez fizesse uma pequena aposta. Eu odeio meu check no river! Eu consigo uma carta que bate uma a cada 20 vezes e dou check? Consigo dois pares e dou check? Era improvável que meu oponente fosse dar um check-raise. Era também improvável que ele desse check com um flush ou uma trinca de quatros aqui, então por que não apostar? Eu deveria ter atirado pelo menos 20.000, ou talvez até 40.000. Em qualquer caso, eu disse ao cavalheiro que lhe mandaria um livro autografado, e não tenho certeza se ele o recebeu!

Saiba mais sobre Phil entrando em seu website, www.PhilHellmuth.com, e visitando sua loja online em www.PokerBrat.com.




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