EDIÇÃO 39 » COLUNA NACIONAL

Migrando do Play Money Para o Real Money


Christian Kruel

Já que mudamos um pouco o foco para quem está começando, resolvi falar de uma modalidade sobre a qual eu nunca tinha escrito nada – aliás, uma que eu nunca tinha sequer jogado! Nesta edição, vamos conversar sobre play money!

E para falar sobre esse assunto com maior propriedade, nos últimos dois dias joguei várias mesas e torneios de play money para mapear o atual estágio de evolução dos jogadores nesse tipo de jogo. Intercalei tais jogos com algumas partidas em modo real money, sempre jogando torneios baratos, porque esses são os primeiros torneios que o jogador de play money costuma disputar quando sobe de nível. Meu intuito foi o de procurar subsídios atuais para fazer essa coluna, não me baseando apenas na minha experiência pessoal nesse limite, uma vez que me encontro afastado dele há muitos anos. Logo, se vocês me encontrarem por aí jogando torneios e sit ’n go baratos nos próximos meses, podem saber que vem material para as nossas colunas.
 
Para minhas primeiras dicas, vou retomar algumas colocações das minhas duas últimas colunas. Sugiro que você comece com uma mesa, com toda a sua atenção dedicada a ela. Procure observar todos os jogadores. Observe padrões de apostas, frequência de apostas, movimentos “esquisitos” e tudo o mais que você puder perceber no jogo de seu oponente. Use e abuse do bloco de notas e evite programas que não tenham locais apropriados para anotações na mesa. Você também poderá usar rótulos coloridos para marcar jogadores com características semelhantes. Eu gosto de usar uma cor para rotular jogadores ruins, outra para jogadores bons e regulares, e uma terceira para jogadores bons e desconhecidos. Você pode usar sua criatividade para fazer o que bem entender, mas cultive o hábito de fazer notes e de manter as anotações atualizadas, colocando novas características em antigos oponentes sempre que perceber mudanças.


 
O objetivo disso tudo é fazer com que você, antes de se aprofundar em teorias, consiga entender a mecânica do jogo e o que acontece na mesa através da observação, que é um dos principais atributos que o jogador de poker deve desenvolver. Muita gente consegue jogar um excelente poker sem ter lido um único artigo ou livro sobre o jogo. Esse tipo de jogador consegue suprir essa carência teórica com muita observação. Existem jogadores autodidatas, com muitos anos de estrada no circuito profissional e que não deixam a desejar em nada se comparados com outros profissionais que estudam regularmente. Eu não estou dizendo que vocês não devem estudar, mas que “estudar sem observar” pode trazer resultados piores do que apenas observar. Por conseguinte, o dueto estudo/observação é a chave para o desenvolvimento de um bom jogo. Concentre-se, a princípio, na observação.
 
O que pudemos observar nas mesas de play money? A primeira característica marcante é a presença de muitos jogadores em cada mão. Dificilmente vemos um pote sendo jogado em modo heads-up. Lembre-se de que não me refiro a freerolls, mas sim a play money mesmo. Com muitos jogadores disputando uma mão, observei também duas tendências básicas distintas: ou esses jogadores veem o flop com vários limpers ou vários jogadores vão all-in pré-flop. O pós-flop também é bem rudimentar, e dificilmente uma mão chega ao final sem showdown, ou seja, sem que os jogos sejam exibidos e um vencedor seja declarado por segurar a melhor mão. Nesse tipo de cenário, você dificilmente desenvolverá seu jogo e, por isso, muitas pessoas dizem que play money não é poker e aconselham a entrar direto no real money. Porém, o fato de “play money não ser poker” não significa que esse tipo de jogo não possa ser batido, e que o destino das mãos fica a cargo da sorte. De forma contrária, como pudemos constatar, esse jogo pode ser facilmente batido, independente do tipo de mesa em que você cair.


 
Como nosso espaço é restrito e nosso objetivo não é o de fazer um tratado de poker sobre play money, vamos nos ater aos aspectos mais básicos para traçar uma maneira de bater esse jogo. O jogo é rudimentar? Sim. Logo, temos que raciocinar de maneira rudimentar, básica e direta, esquecendo “moves” e metagame. Observamos que as mãos sempre chegam até o showdown? Então não vamos blefar (claro que toda regra tem exceção, mas nossa regra geral para bater esse jogo é não blefar, já que sabemos que seremos pagos). Agora precisamos nos adaptar aos dois tipos de mesas que observamos. O primeiro tipo, de all-in pré-flop, é o mais fácil: esperamos uma mão bem forte e colocamos todas as nossas fichas no pote.

O segundo tipo é mais elaborado, é aquele em que poderemos desenvolver um pouco de poker no modo play money. Como aqui temos todas as rodadas de apostas, com pré-flop, flop, turn e river, podemos desenvolver mais o jogo do que no modo all-in pré-flop. A constatação lógica mais óbvia é a de que, aqui, a posição não é muito importante. Por quê? Como você não vai blefar, não importa muito a posição, mas sim seu jogo e as cartas do bordo. É com isso que você vai ter que se preocupar nesse modo. Tendo isso em mente, você vai agora selecionar algumas mãos para jogar pré-flop. Vamos às minhas sugestões...
 
Vimos que muitas pessoas veem o flop. Logo, quase sempre precisaremos de mãos melhores do que um par para levar o pote. Tendo isso em mente, sugiro mãos que possam flopar trincas, sequências e flushes. E como muitos jogadores veem o flop e dão ação até o river, você já tem as implied odds necessárias para jogar todas as mãos que aparecerem pela frente e preencherem esses requisitos. E sempre que você flopar uma mão com muitos outs, poderá seguir jogando agressivamente. Fique atento para as mudanças de marcha sempre que houver mudanças de mesas.


 
Seguindo essas dicas, você estará preparado para bater o jogo de play money com facilidade e simplicidade. Sugiro agora que você comece a bater esse jogo e passe para o real money, jogando freerolls nos próximos trinta dias. Os freerolls são um meio termo entre o play money e o real money. Porém, nas fases mais avançadas, é possível encontrar jogadores com melhor conhecimento do jogo. Faça anotações sobre os oponentes, sobre as mesas, compare o play money com o freeroll e comece desde já a observar alguns torneios de real money, nunca deixando de fazer suas anotações.
 
Abração
CK




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