EDIÇÃO 39 » COMENTÁRIOS E PERSONALIDADES

Jogando com Estranhos

Aplique uma série de princípios gerais


Barry Tanenbaum

Durante a World Series of Poker, às vezes parece que todos os jogadores de poker do universo foram parar em Las Vegas. Por toda a cidade, os cash games rolam a todo vapor. Tanto para os jogadores habituais de Vegas quanto para os visitantes, isso cria o desafio de ter que jogar contra vários estranhos.

Quando se joga em uma provável única sessão com jogadores que você nunca viu e pode jamais ver de novo, você quase nunca tem tempo de analisar com cuidado o jogo de cada um deles. Você deve tentar, é claro, mas na maior parte do tempo precisa se confiar em impressões genéricas e princípios gerais para um bom jogo. Uma mão que joguei em um cash game durante a WSOP 2010 que fornece um exemplo dessa abordagem.



Pré-flop: No começo de um jogo de limit hold’em de $30-$60 com oito pessoas que eu nunca tinha visto antes, eu recebo 88 no button. Um jogador de posição inicial entra de limp e um jogador de posição final dá call. Essa é minha primeira decisão.

A decisão de pagar ou aumentar parece muito difícil. Pagar quase certamente trará consigo o small blind, que precisa colocar apenas mais uma ficha. Com isso, cinco jogadores verão o flop, o que praticamente me força a acertar uma trinca para poder continuar. Eu sou o último a falar, contudo, então pode haver espaço para outra jogada. Além disso, se eu por acaso acertar minha trinca, é bem provável que consiga ação de um ou mais oponentes com draws praticamente mortos.

Aumentar pode fazer com que os blinds deem fold, o que deixa dinheiro morto no pote. Eu posso conseguir representar uma mão grande ou até mesmo levar o pote se os demais não acertarem o flop. Na maioria das vezes, todo mundo vai pedir mesa até mim, de modo que eu posso dar check e ver uma carta grátis se o flop for perigoso.

Se houvesse um limper, eu daria raise com certeza, na tentativa de limitar o número de mãos com overcards que veriam o flop. Os dois oponentes que já estão no pote podem ter até quatro overcards (algumas podendo estar duplicadas), então dar raise para aumentar minhas chances de ter a melhor mão pós-flop não ajuda muito. Se várias overcards baterem no flop, é quase certo que eu precise dar fold diante de uma aposta, já que não sei se um oponente segura uma ou não. Aumentar e matar os blinds também significa que eu tenho que colocar dinheiro a mais para jogar three-handed e, na maioria dos casos, não gosto de criar essa situação com um par médio. Eu resolvo dar call. Naturalmente, os blinds pagam.



Flop: Nós vemos um flop de K 7 3. Apenas uma overcard, o que é bom. Os três primeiros jogadores dão check e o último limper aposta. É minha vez.

Minha análise desse jogador, pelo pouco tempo que jogamos, é que ele é acima da média. Ele não jogou muitas mãos, nem mostrou muita agressividade. Certamente, a maioria dos grandes jogadores em posição final diante de um limper de posição intermediária teria dado raise pré-flop se fossem jogar, então o limp dele é uma jogada fraquinha.

Eu estou provavelmente à frente ou atrás? Se eu achar que ele tem um rei, devo dar fold. Caso contrário, devo aumentar para me livrar dos outros o máximo possível. Como regra geral (com muitas exceções), limpers, especialmente em posição final, não têm um rei ou um par decente. Jogadores acima de média com um rei em posição final tendem a aumentar se gostarem do kicker (até mesmo K-9) e a desistir com um kicker mais fraco. Alguns entram de limp com rei e outra do mesmo naipe fraca, mas não muitos.
Por outro lado, um flush draw é altamente provável. Mesmo jogadores relutantes em apostar com flush draws no flop cedem à tentação se o field quase todo pedir mesa até eles. A possibilidade de ganhar o pote com um semiblefe é muito boa para se deixar passar.

Eu não posso eliminar uma mão como 7-6 suited, que acertou um middle pair, mas eu estou à frente dessa mão.

Com essas conclusões preliminares, eu resolvo jogar com meus oitos como se fosse a melhor mão e aumento. Todos dão fold, obedientes, até o apostador, que paga.



Turn: A Q bate no turn e meu oponente dá check. Ao contrário do rei no flop, a dama não é uma carta particularmente boa para mim. Assim como os limpers não têm um rei com muita frequência, eles em regra têm uma dama ou um valete.

Mas o fato de ele poder ter uma dama não significa que tenha. Se eu estava à frente no flop, provavelmente ainda estou liderando aqui.

Há um princípio geral bastante útil aqui. Se eu tomar a iniciativa no flop, quase sempre continuo no turn. Uma diretriz sensata é: “Continue a tomar a iniciativa até que alguém lhe mande parar”. Eu aposto e ele paga depressa. Isso parece reforçar minha leitura preliminar de flush draw, muito embora ele ainda possa ter um rei. Com um par pequeno, ele não teria problema em decidir se continuava ou não, e hesitaria pelo menos um pouco, então essa mão cai na minha tabela de probabilidades.

River: O 2 no river não parece mudar muito, e ele pede mesa de novo. Devo apostar no river pelo valor?
Eu adoro apostar pelo valor, e já ganhei muito dinheiro dando calls difíceis. Cada situação é diferente, contudo, e eu preciso analisar esta aqui. A pergunta é: com que mãos ele poderia pagar que eu ainda derrotaria?



Eu duvido que ele fosse pagar com ace high nessa sequência, então, se ele tiver A X, eu não ganharei. É provável que ele não faça uma jogada complicada com 10 9 ou algo do tipo. Ele vai pagar com qualquer rei e, se por acaso tiver acertado a Q no turn, tampouco desistirá.

Parece que a única mão que poderia me pagar era um 7 ou um par pequeno, e eu acabei de abaixar a probabilidade de pares pequenos há pouco. Se eu apostar, ele vai desistir ou eu perderei na grande maioria das vezes. Portanto, eu dou check. Ele mostra Q 9 e leva o pote.

Conclusão: Eu perdi a mão, mas isso não importa. Eu fiquei satisfeito por ter feito boas leituras ao longo da mão e por ter tomado decisões de qualidade.

Quase todo mundo acha mais fácil e mais confortável jogar com um monte de rostos familiares. Quando não é possível, você precisa de alguns princípios gerais para guiá-lo ao mesmo tempo em que você tem em mente os detalhes particulares da mão e da situação. Essa combinação irá lhe permitir tomar decisões sensatas na maior parte do tempo, o que é ideal. Afinal, os jogadores que tomam as melhores decisões ganham a maior parte do dinheiro.

Barry Tanenbaum dá aulas de poker personalizadas de acordo com a necessidade de cada aluno. Seu website é www.barrytanenbaum.com, e você pode contatá-lo em pokerbear@cox.net.




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