EDIÇÃO 39 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Avaliando a Força da Sua Mão

Uma habilidade básica importante


Matt Matros

A beleza do poker é que às vezes um simples ás é um monstro e às vezes um full house não vale nada. Saber diferenciar essas situações é essencial. Jogadores iniciantes que não aprendem a habilidade básica de avaliar sua mão provavelmente estão condenados ao fracasso. De modo inverso, um jogador experiente que aprende a analisar a força relativa de sua mão com precisão cada vez maior está no caminho certo para se tornar um expert. Essa coluna visa lhe dar uma perspectiva um pouco diferente sobre a avaliação de mãos, algo que, espera-se, impulsionará alguns leitores em direção a um nível mais alto de raciocínio.

Quase todo jogador competente de no-limit hold’em conhece as regras básicas sobre força de mãos. Top pair é muito bom no flop, cuidado com os draws que se formam no turn e pise no freio no river se sua mão de um par não tiver melhorado. Como podemos ir além disso? Como podemos extrair o melhor de nossa mão, de modo a sabermos de forma precisa quando devemos dar fold, call ou raise? Bem, é difícil desenvolver essa habilidade com perfeição, mas um caminho é usar minha ferramenta favorita de análise de poker: a matemática. Fornecerei um exemplo para ilustrar o que quero dizer.

Digamos que você esteja em um torneio de no-limit hold’em nine-handed e os blinds sejam de 100-200 com antes de 25. Três jogadores dão fold e você abre raise com um valor padrão para 550 com A-J offsuit. O hijack, o cutoff, o button e o small blind todos dão fold, mas o big blind volta reraise de 1.500. Quão boa é a sua mão?

Nesse caso, uma pergunta melhor seria: quão ruim é a sua mão? Um reraiser tipicamente tem uma gama forte em no-limit hold’em. Você não tem certeza de que o big blind tem uma mão forte, mas se ele tiver recebido ases, reis, damas ou A-K, você pode ter plena convicção de que ele jogaria a mão da maneira como está jogando aqui — voltando reraise. A-J não é uma mão boa aqui, mas será que ela é tão ruim a ponto de ser descartada? Obviamente, se você tiver uma leitura segura sobre seu oponente, deve agir de acordo com ela. A discussão a seguir supõe que você não tenha uma leitura muito boa de seu oponente e ache muito provável que ele seja um jogador duro e agressivo que vai tirar proveito de todos os seus erros.

Nessa situação, é bastante útil se esquecer por um segundo de tentar adivinhar a mão de seu oponente e pensar sobre seu A-J dentro do contexto de sua própria gama de mãos. Encare sua mão sob a ótica de seu oponente. Ele está arriscando 1.300 para ganhar 1.075 (550 do seu raise, 100 do small blind, 200 do big blind e 225 dos antes). Se você der fold mais de 1.300 ÷ (1.300 + 1.075) = 54,7% das vezes, o big blind lucrará dando esse reraise com quaisquer duas cartas. Ainda que o big blind tenha a mão declarada morta toda vez que você resolver dar four-bet ou pagar o reraise dele, ele ainda ganha dinheiro com essa jogada. Na vida real, é claro, a mão dele não está morta se você der four-bet ou call, então você precisa descartar ainda menos do que 54,7% das vezes. Eu tento nunca me colocar numa situação em que eu planejo dar fold diante de um reraise de tamanho normal mais da metade das vezes. Eu gosto de defender cerca de 60% dos meus raises contra um oponente duro e agressivo.

Voltando à nossa mão A-J, como podemos determinar se dar fold é aceitável ou muito tight? Começamos analisando a gama de mãos com a qual nós abriríamos raise de nossa posição, três lugares à direita do button. Se, por exemplo, nós abríssemos apenas com pares bons e ases altos a partir de A-J, logo, A-J seria a pior mão da nossa gama. Nós poderíamos descartar com segurança diante do reraise, sabendo que temos mãos muito melhores para defender e que, por isso mesmo, não estamos sendo explorados. Nós não descartaríamos nem perto de 50% das vezes. Mas, em vez disso, nossa gama talvez seja algo como A-10+, A-8+ suited, K-10+ suited, K-Q, J-9+ suited, 8-7+ suited e 4-4+ (14,3% das mãos). Se seguirmos a estratégia encarar a 3-bet 52% com A-J suited, A-Q, A-K, J-10+ suited, and 8-8+ (6.8 percent of hands), estaremos dando fold contra a 3-bet 52% das vezes [(14,3 – 6,8) ÷ 14,3]. Isso é muito. Nós precisaríamos pelo menos pagar com nosso A-J offsuit não tão atraente (e dar 4-bet pode ser melhor, dependendo dos stacks e de outras considerações) para impedir o big blind de nos explorar. Se nossa gama de raise for um pouco mais tight, podemos largar A-J tranquilamente e ainda assim não estaríamos dando fold em excesso. Por outro lado, um maníaco que abre raise com ás e outra do mesmo naipe, qualquer par, a maioria dos reis naipados e a maioria das combinações de cartas de figuras se sente compelido a jogar com A-J. E essa é uma mão monstro para ele!

Determinar rigorosamente se sua mão é ou não forte o bastante para lhe fazer tomar este ou aquele curso de ação em dada situação requer um pouco de trabalho. Isso compensa no longo prazo. Quanto mais você estudar longe das mesas, mais insights terá a respeito de seu jogo. Inevitavelmente, tais insights conduzem à mudanças estratégicas na mesa, e tais mudanças estratégicas resultam em mais lucros. Analise algumas situações de seus torneios recentes e determine se sua estratégia é algo que pode ser explorado pelos seus oponentes. Às vezes, um pequeno ajuste estratégico é o bastante para transformar uma eliminação precoce em um pequeno prêmio, ou um pequeno prêmio em uma bolada.

Matt Matros é autor de The Making of a Poker Player. Ele é também coach da cardrunners.com.




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