EDIÇÃO 36 » COMENTÁRIOS E PERSONALIDADES

A Teoria do Relógio Parado

Ela se aplica a situações do poker


Steve Zolotow

Antes de entrar no assunto desta coluna, eu gostaria de parabenizar David Williams por sua grande vitória no evento de $25.000 do World Poker Tour Championship, enfrentando um field muito difícil. David deveria ser utilizado de exemplo para todos os aspirantes a profissionais de poker. Ele não só é um grande jogador, mas também um cara legal. Após perder para Greg Raymer no heads-up do Main Event da World Series of Poker de 2004, ele não deixou seu ego subjugar seu bom senso. Ele jogou em stakes moderados, e continuou a melhorar suas habilidades sem colocar em perigo seu recém-adquirido bankroll.

Também quero recomendar um breve artigo sobre probabilidade do The New York Times. O link é: http://opinionator.blogs.nytimes.com/2010/04/25/chances-are/?hp (em inglês).

Você provavelmente já ouviu o antigo ditado, “Até mesmo um relógio parado está certo duas vezes por dia”. Podemos interpretar isso da seguinte forma: ocasionalmente, uma fonte não confiável oferece informação correta. Uma leitura alternativa é que o ditado está discutindo as vezes em que alguém é sortudo e não merece seu sucesso. Certamente, isso pode ser visto em situações do poker. Suponhamos que haja um jogador que sempre dá call em apostas do tamanho do pote no river, quando o máximo que ele pode derrotar é um blefe. Isso lhe custará dinheiro, mas seus oponentes às vezes estarão blefando. As vezes em que ele ganhar o pote serão as “duas vezes por dia” em que estará certo. Se examinarmos esse jogador com mais atenção, podemos observar que ele uma vez participou de uma mesa na qual os oponentes blefavam demais, então essa posição faz certo sentido. Ao longo do tempo, no entanto, todos, exceto o oponente menos observador, perceberão que ele sempre paga, e pararão de blefar contra ele. Agora, ao fazer isso, ele só vai estar certo quando estiver enfrentando um novo adversário, que não sabe que ele sempre dá call; ou alguém que sabe, mas que não consegue resistir ao impulso de blefar (tenho muito mais compaixão pelo cara que sempre paga do que por esse oponente que, sabendo que sua aposta será paga, blefa de qualquer jeito). É comum ver alguém dar um segundo ou terceiro tiro sem nada, mesmo quando seu oponente parece estar dando call em todas as apostas.



Ambas essas situações são caricaturas de fenômenos razoavelmente comuns. Há jogadores que pagam demais, e há jogadores que blefam demais. Ambos deveriam aprender a mudar de marcha. Quando você faz qualquer coisa (nestes casos, pagar ou blefar) com uma frequência alta, seus oponentes vão perceber e se ajustar. Se você dá call com frequência, eles blefarão menos, ou nem sequer blefarão. Se você percebe que eles reduziram a frequência de blefes, pode reduzir sua frequência de calls até que eles se ajustem novamente. Da mesma forma, se você tem blefado muito, principalmente sem obter sucesso, seus oponentes começarão a pagar suas apostas na maioria das vezes. Aqui, é preciso parar de blefar e se concentrar em apostar pelo valor. Se possível, também valeria a pena convencer seus oponentes de que sua estratégia não mudou. Por exemplo, você tem dado calls demais. Seus oponentes pararam de blefar. Sua nova posição é dar call apenas com mãos razoáveis, não só com “pegadoras de blefe” (mãos que só derrotam um blefe). Quando um de seus oponentes apostar, e você for dar fold com uma mão fraca, não torne isso óbvio. Finja pensar em dar call. Você pode dizer algo como “Eu sei que você está blefando, mas não consigo vencer nem um blefe”. Então, relutantemente dê fold. 

Outra aplicação da teoria do relógio parado ao poker é que você deve julgar o sucesso de um jogador em torneios de forma muito cuidadosa. É possível que ele tenha sido o relógio parado que deu sorte. Perceba que, após alguns anos, o relógio parado pode se vangloriar de uma sequência de sucessos. Isso nos leva de volta ao princípio desta coluna: David Williams foi inteligente o suficiente para perceber que um grande êxito inicial não queria dizer que ele era melhor do que os melhores jogadores do mundo, mesmo tendo-os derrotado naquela WSOP em particular. Ele continuou a trabalhar em seu jogo, gerenciar seu bankroll, e melhorar. Agora ele é, provavelmente, um dos melhores jogadores de torneios do mundo. Bom trabalho, David.




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