EDIÇÃO 35 » COMENTÁRIOS E PERSONALIDADES

Manifesto pelos direitos do "Sr. Trouxa"

Porque meu ouvido não é penico


Daniel Tevez Cantera

Se você não estiver disposto a perder para dois outs no river, está com dois problemas. Mas a gente pode tentar resolver isso. O primeiro: você é um péssimo perdedor. Deveria ir à Confederação Brasileira de Texas Hold’em pedir uma liminar para que não valesse bater dois outs no river. O segundo é que você está no jogo errado. O poker, apesar de ser um jogo de probabilidades, lamentavelmente não é o site em que o Tevito trabalha, que lhe dá 100% de garantia de pacote. Então, é melhor arrumar outro hobby, porque as bad beats fazem parte do jogo. Graças a Deus.

Estou escrevendo sobre isso devido à imensa quantidade de “falinhas” a respeito de perder mãos, o que verdadeiramente tem transformado meus ouvidos em penico. Escutei – aliás, li – nesses dias, que no site em que eu trabalho você não dá bad beats, só toma. Há sites que têm a fama de, na reta final dos torneios, fazer com que os jogadores que têm mais fichas apliquem bad beats nos short stacks. E essa crença insana chegou ao ponto de fazer as pessoas darem fold com mãos grandes para evitar se envolver em potes com o chip leader.

Meu caro trouxa, o senhor é tão “especial” que o software escolheu você, dentre sei lá quantas mil pessoas que estão jogando, para acabar com a sua vida... O software quer mesmo que você quebre... Você é tão especial que tudo está voltado para sua majestade a fim de complicá-lo... Tudo conspira para você perder e outro jogador ser beneficiado... Uma imensa equipe de técnicos está contra você, esperando que você entre numa jogada para lhe prejudicar, afinal, o senhor é tão importante que vale o esforço de todos pararem tudo para se dedicar a estragar seu torneio... Você é o cara mesmo.

Entretanto, estou totalmente inclinado a lhe ajudar: acabo de enviar aos meus superiores um pedido de mudança geral das regras... Ficou mais ou menos assim:

“A partir desse momento, pelos poderes de que me considero investido, decreto que:

a) Par de ases em all-in pré-flop será considerado ganhador sem a necessidade de showdown. Recebeu AA, ganhou.

b) Toda situação de 60%-40% se encerrará no flop a favor de quem tiver a melhor mão, evitando surpresas.

c) Não valerá bater menos de três outs. Quem arrumar três outs no river será desclassificado e terá o dinheiro confiscado, encaminhando-se o baralhão responsável pela bad beat à delegacia mais próxima, sob o crime inafiançável de estelionato.

d) Trinca é trinca, e a partir desta data ela será sumariamente vencedora. Atirou, tomou call e mostrou uma trinca, a mão para e o jogador com a trinca leva tudo, impedindo que o outro acerte uma sequência ou um full house.

e) Fica decretado, sob pena de fuzilamento, dar call com mãos ruins. Quem tiver menos do que ás-valete naipado não poderá dar call.

f) Se alguém tiver par de damas e quebrar um par de reis, será decapitado.

g) Daqui por diante, vamos pedir desculpas encarecidas caso o Sr. perca com uma mão melhor, porque ofendê-lo ao passar suas fichas para seu oponente merecerá pena máxima.

h) Agora é lei que, a partir desta data, quando acontecer uma bad beat, o torneio entrará automaticamente em break, para concedermos um minuto de silêncio em sua homenagem, além de uma retratação formal assinada pelo dono da empresa.

i) De hoje em diante, um detector será instalado na porta de entrada dos nossos torneios. Este revolucionário método, chamado de “anti-baralhões”, impedirá que o jogador corra qualquer risco quando apresentar um par de ases.

j) Concordamos que o software está contra você, e o dealer que porventura virar a carta do oponente será sumariamente castrado.

k) O tristemente célebre “sorry”, que alguns colocam no chat quando ganham com uma mão melhor, tornar-se-á obrigatório a partir desta data. Se A-K ganhar de A-7, o primeiro deverá escrever “sorry” no chat, sob pena de ter a mão anulada.

Atenciosamente,
Daniel Tevez Cantera
Relator do Manifesto em Defesa dos Direitos do Sr. Trouxa”

Tá bom assim, Sr. Troux... Err, digo, caro jogador?
Vamo que todavia!




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